Exportações de soja do Rio Grande do Sul para a China : estruturas, instituições e mercados (CC. 1970 – 2020)

Abstract

O estudo analisa a conformação do mercado de soja entre Rio Grande do Sul e China na temporalidade aproximada entre 1970 e 2020. Faz-se uso das perspectivas do Institucionalismo Histórico e da abordagem dos Regimes Alimentares. A teoria institucionalista possibilita a observação dos mercados enquanto frutos da sociabilidade humana e, atrelados a trajetória do contexto histórico no qual são desenvolvidos. Já os Regimes Alimentares traçam o quadro geral das relações internacionais e dos processos macroeconômicos. O diálogo entre as esferas cognitivas e normativas é traçado na concepção de embeddedness em nível local e estrutural. Portanto, as disputas entre distintos níveis de influência operam correlatamente e dialeticamente na conformação dos espaços de existência dos atores e, logo, sobre os mercados. Com o referido quadro, o mercado da soja foi eleito como objeto visto sua influência na conformação de ambos os territórios em análise. E, portanto, alta disponibilidade de informações para construção do quadro institucional de conformação do mercado de modelo convencional, de fluxo de mercadorias padronizadas e atrelado à economia mundo. O recorte geográfico adotada parte da trajetória histórica da região sul-rio-grandense ser atrelada ao modelo agroexportador e, especificamente, à soja; e, no caso chinês, pela preponderância do país asiático enquanto consumidor do grão - especialmente no século XXI. A seleção temporal é fruto do início das alterações sociais profundas em ambos os contextos, na década de 1970, e dos registros contemporâneos no limiar das mudanças consequentes da pandemia de COVID-19, em 2020. A metodologia adotada conta com uma composição qualitativa, baseada em entrevistas semiestruturadas com representantes de cooperativas graneleiras, na análise das atas legislativas da Assembleia do Rio Grande do Sul, e na leitura de paisagem da região Norte do Estado; e com uma parte quantitativa sobre dados levantados por diversas instituições atreladas ao setor de comércio internacional, produção agropecuária e estrutura demográfica de ambas as localidades. Ambos os eixos são abordados em diálogo com uma reconstituição histórica dos quadros em análise. A pesquisa identificou a profunda correlação entre elementos sociais e o mercado sojícola entre Rio Grande do Sul e China, descartando qualquer possibilidade de espontaneísmo ou naturalidade na emergência das práticas comerciais abordadas. O papel da ação estatal e da influência dos conglomerados internacionais mostrou-se marcante na conformação do quadro analisado, elementos que viabilizam explorações sobre outros caminhos de desenvolvimento possíveis para ambas as regiões.

The current study analyses the development of the soy market among Rio Grande do Sul – province in the Brazilian south – and China, during the time cut of 1970s to 2020s. As theoretical bases, Historical Institutionalism is set aside with Food Regime perspective. The institutional theory enables the observation of markets as results of the human sociability and, so, deeply connected to the historical context in which human actions happen. The Food Regime traces the general board of international relations and macroeconomic processes in which actors operate – being they conglomerates, corporations, states, or individuals. The dialogue between a cognitive and a normative sphere is traced using the conception of embeddedness in both local and structural levels. Therefore, the disputes of distinct level of influence operates in correlative and dialectic ways in the composition of the spaces in which actors operate and, furthermore, the markets. With this framework, the soy market was elected as the main object due to its deep relation with the social and territorial formation of both analyzed territories. Implying in a high availability of sources capable of endorsing the path through which institutions developed among a conventional market. The spatial cut selection is related to the fact that the Brazilian south history is related to the agriculture production, initially mostly to self-sustain, and later to an agro exporter model. And the China frame is related to the importance of the country on the construction of international demand over oilseed, especially during the decades of the XXIst century. The time cut selected considering the emergence of modernization projects on both regions during the 1970s, and the contemporary barer of structural changes related to the COVID-19 crisis, considering 2020. The methodology adopted takes an approach based on both quantitative and qualitative strategies. In the qualitative side, semi structured interviews were made with spokesman of oilseed cooperatives in Rio Grande do Sul; a speech analysis was realized over political discourses in the local parliament; and a landscape reading in the Rio Grande do Sul’s North region. By its side, the quantitative approach utilizes data generated by different organizations related to the Brazilian and Chinese production, as well as commercial information. The research found deep correlations between social elements and the development of soy market between Rio Grande do Sul and China, disposing any possibility of spontaneity or naturalist in the emergence of the analyzed commercial practices. The paper of the state and the private corporations has been strongly important in the construction of the analyzed board, elements that possibility exploration over another commercial connections between both regions.