VRÁ! (ou entre ela e eu): discurso de um sujeito drag queen
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Data
2023Orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
Esta tese visa formular e defender o conceito montação como processo discursivo que funciona como mecanismo de reconhecimento de si em um corpo outro. Este processo passa pela transformação gradual da imagem de si, e, concomitantemente, pela filiação do sujeito a uma posição discursiva dissidente. Essa posição é sustentada, no caso da drag, objeto de minha reflexão teórica, por um semblante específico. Desse arranjo participa, ainda, um anteparo material, um espelho: reflexo que torna tangível ...
Esta tese visa formular e defender o conceito montação como processo discursivo que funciona como mecanismo de reconhecimento de si em um corpo outro. Este processo passa pela transformação gradual da imagem de si, e, concomitantemente, pela filiação do sujeito a uma posição discursiva dissidente. Essa posição é sustentada, no caso da drag, objeto de minha reflexão teórica, por um semblante específico. Desse arranjo participa, ainda, um anteparo material, um espelho: reflexo que torna tangível a imagem do novo corpo em vista. Utilizo o termo anteparo por considerar que o olhar é do campo do real, e que o artista precisa, por conta da ação violenta desse olhar, criar anteparos que o guardem e protejam do encontro com o traumático; nesse sentido, a arte atua na domesticação do olhar e o espelho confere forma à figura que atuará como escudo diante daquele que vê. É em direção ao espelho que o sujeito lança um olhar e, de volta, é olhado por esse outro corpo em produção, materialização de uma posição que diz de um exercício artístico, mas também de um desejo e de uma filiação a uma rede de sentidos. Deparado com esse outro contorno, o performer passa, então, a significar no interior de outra posição de sujeito consubstanciada ao corpo modificado, montado. A maquiagem drag contorna o semblante da posição enviada (como nomeio essa posição dissidente), imagem montada por um sujeito performer. Esse sujeito não consegue acessar sem resistência os sentidos advindos da formação discursiva via posição enviada, por conta da restrição cultural e ideológica que incide sobre a corporificação de determinados signos femininos, que representam direção diversa da masculinista, termo que refere a posição dominante da formação discursiva em que se assentam sentidos ligados à masculinidade e à virilidade. É por intermédio da drag que o sujeito consegue resistir à coerção da norma imposta pela formação ideológica e disseminada pela formação cultural, rompendo com a imagem masculina sustentada por uma formação imaginária específica. O sujeito cria um semblante para a posição enviada, contra-identificada com a posição masculinista. Essa posição dissidente da formação masculinista envia sentidos do masculino em direção ao feminino, apesar de nunca completamente revestir uma formação antagônica, feminista, por exemplo; a drag se inscreve num espaço de entremeio, de tensão, próprio à arte. A posição enviada, assim, é autorizada a dizer e a representar signos relacionados à formação imaginária que veicula o protótipo imagético do feminino (mas não se superidentifica com ela). Montar-se, nesses termos, significa resistir, desobedecer à determinação de um padrão imposto culturalmente e, assim, agir conforme os princípios de uma posição que não concorda com a reprodução de sentidos masculinistas, fundados sobre a ideia da violência e do desrespeito contra a mulher e qualquer outro ser que a ela seja empático. A drag provoca, critica e propõe reflexões sobre a reprodução desses padrões sustentados pelo discurso. ...
Abstract
This doctoral dissertation aims to formulate and defend the montage (the act of put you in drag) as a discursive process that works as a mechanism for recognizing oneself in another body. This process involves the gradual transformation of the self-image, and the subject's affiliation to a discursive position, supported, in the case of drag, the object of my reflection, by a specific semblance. This countenance, sort of material shield, foresees a mirror: a reflection that envisions the image o ...
This doctoral dissertation aims to formulate and defend the montage (the act of put you in drag) as a discursive process that works as a mechanism for recognizing oneself in another body. This process involves the gradual transformation of the self-image, and the subject's affiliation to a discursive position, supported, in the case of drag, the object of my reflection, by a specific semblance. This countenance, sort of material shield, foresees a mirror: a reflection that envisions the image of the new body. I use the term shield because I consider that the look belongs to the field of the real. The artist needs, due to the violent action of that look, to create shields that guard and protect him from the encounter with the traumatic; in this sense, art acts in the domestication of the look and the mirror shapes the figure that will act as a shield in front of the one who sees. It is towards the mirror that the subject casts a look and is looked at by this other body, the materialization of a position. Faced with this other contour, the performer then begins to signify within another subject position embodied. The make-up outlines the semblance of the position, an image assembled by a subject affiliated with a dissident position. This performer cannot access without resistance the meanings arising from the discursive formation. This speaks about the cultural and ideological restriction that suppress the embodiment of female signs by the men, who is linked to masculinity and virility. It is through drag that the subject manages to resist the coercion of the norm imposed by ideological formation and disseminated by cultural formation, breaking with the male image supported by a specific imaginary formation. The subject creates a semblance for the new position, counter-identified with the masculinist position. This dissident position of the masculinist formation sends the meanings associated with the masculine formation towards the feminine, despite never completely covering an antagonistic formation, feminist; drag is part of an in-between space, space of tension, typical of contemporary art. This position, therefore, is authorized to say and to represent signs related to the imaginary formation that conveys the imagistic prototype of the feminine (but does not overidentify with it). Drag means resisting, disobeying the determination of a culturally imposed standard and acting according to the principles of a position that does not agree with the reproduction of masculinist, which convey the idea of violence and disrespect against women. Drag provokes, criticizes, and proposes discussions about the reproduction of these standards supported by masculinist discourse. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Coleções
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Linguística, Letras e Artes (2893)Letras (1781)
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