Caracterização da violência autoprovocada na adolescência : notificação pública e indicadores clínicos

Abstract

A presente dissertação é composta por dois estudos empíricos. O primeiro deles buscou caracterizar os casos de violência autoprovocada notificados no Brasil a partir dos registros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) entre 2009 e 2021, com ênfase na discussão dos casos envolvendo crianças e adolescentes. As análises descritivas indicaram um total de 627.863 notificações referentes, predominantemente, a pessoas do sexo feminino, com idades entre 15 e 29 anos, de cor branca e ensino fundamental incompleto ou médio completo. As agressões ocorreram majoritariamente na própria residência e abarcaram mais de um episódio. O segundo estudo consiste em uma pesquisa de casos múltiplos com o objetivo de compreender a interface entre comportamentos autolesivos e fatores intrapsíquicos, familiares e sociais a partir da perspectiva de adolescentes com histórico de autolesão. Participaram cinco adolescentes do sexo feminino (M = 12.8 anos; DP = .75), as quais responderam a Ficha de Dados Sociodemográficos, a Escala de Comportamento de Autolesão e uma entrevista semiestruturada. A análise temática indutiva revelou acentuado sofrimento psíquico associado a diferentes causas como percepção negativa de si, conflitos familiares, situações de violência, sentimento de rejeição social e problemas com os pares. O trabalho avançou ao integrar evidências com enfoques epidemiológico e clínico acerca dos comportamentos autolesivos, contribuindo para o reconhecimento do panorama nacional de autolesão e dos significados atribuídos ao fenômeno na adolescência. The present dissertation is composed of two main studies. The first one aimed to characterize the cases of self-directed violence reported in Brazil from the SINAN records between 2009 and 2021, with emphasis on the discussion of cases involving children and adolescents. Descriptive analyzes indicated a total of 627,863 notifications referring, predominantly, to females, aged between 15 and 29 years, white and with incomplete elementary school or complete high school. The acts occurred mostly in the residence and involved more than one episode. The second study consists of a multiple case research with the objective of understanding the interface between self-injurious behaviors and intrapsychic, family and social factors from the perspective of adolescents with a history of self-injury. Five female adolescents (M = 12.8 years; SD = .75) participated and answered individually the Sociodemographic Questionnaire, the Functional Assessment of Self-mutilation and a semi- structured interview. The inductive thematic analysis indicated prominent psychological suffering associated with different causes such as negative self-perception, recurrent family conflicts, interpersonal violence, feelings of rejection and problems with peers. The work advanced by integrating evidence with epidemiological and clinical approaches about self- injurious behaviors, contributing to the recognition of the national scenario of self-injury and the meanings attributed to the phenomenon in adolescence.