Análise intraurbana da série histórica de 10 anos da sífilis congênita no município de São Paulo : taxa de incidência e taxa de transmissão vertical

Abstract

Introdução: A incidência de sífilis congênita (SC) é um evento marcador da qualidade de assistência à saúde materno-fetal. A sífilis na gestação (SG) pode trazer sequelas neurológicas, auditivas e ósseas ao recém-nascido. Há muitos anos, o município de São Paulo (MSP) desenvolve ações de prevenção, diagnóstico e tratamento da sífilis. Entretanto, por ser uma megalópole, traz diferenças regionais importantes, que podem refletir no controle da sífilis. Objetivos: 1- Descrever a taxa de incidência (TI) da SC bruta e padronizada por faixa etária da mãe por Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Supervisão Técnica de Saúde (STS) e Distritos Administrativos (DA), no período de 2011 e 2020, com ênfase no triênio prépandemia de covid-19 (2017 a 2019); 2- Descrever a taxa de transmissão vertical (TV) da sífilis no MSP, por faixa etária e CRS e STS do MSP, na série histórica de 2011 a 2020. Metodologia: Pesquisa quantitativa de natureza ecológica, nas dimensões temporal e intraurbana, com análise de 10 anos (de 2011 a 2020) da SC por microrregiões no MSP. Aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da SMS/SP, sob o n 5.311.674. Foram utilizados dados do banco do SINAN de SG e SC de residentes do MSP com diagnóstico confirmado nos anos estudados e realizado cálculo da TI de SC bruta e padronizada por faixa etária e cálculo da taxa TV. O método de regressão linear foi utilizado para a análise temporal. Resultados/Discussão: Houve aumento da TI bruta de SC de 2011 a 2020, e o estudo de tendência temporal mostrou variação percentual anual (VPA) de 3,4%. Na análise intraurbana, a CRS Centro apresentou tendência “decrescente”, as CRS Leste, Norte, Oeste e Sul foi “crescente” e a CRS Sudeste, “estacionária”. Houve predominância da tendência “estacionária” nas STS mais centrais do município e tendência “crescente” nas periferias. A TI bruta de SC foi maior no grupo de mães de 10 a 19 anos de idade na série histórica de 10 anos. Nos locais onde a frequência relativa de nascidos vivos diferiu da proporção do município em relação à faixa etária da parturiente, houve impacto na TI de SC padronizada quando comparada à TI bruta. A TV da sífilis mostrou queda expressiva no MSP na última década, com VPA de -4,0% – queda essa observada em todas as CRS, na maioria das STS e por faixa etária das mães. Conclusões: Houve queda da taxa de TV da sífilis; entretanto, a TI bruta de SC aumentou no período estudado com estabilização nos últimos anos. Evidenciou-se diferenças intraurbanas que podem estar relacionadas ao processo de trabalho das regiões e suas características. Houve diferença na TI de SC quando considerada a faixa etária da mãe, sendo maior no grupo de 10 a 19 anos de idade. Destaca-se a importância do cálculo da TI de SC bruta e padronizada por faixa etária da mãe para acompanhamento das diferenças intraurbanas. Apesar do aumento expressivo de casos de SG, não houve aumento de mesma magnitude de casos de SC. Como não houve impacto na queda da TI de SC, devem-se manter as ações adotadas no controle da sífilis em gestantes no município e imprimir esforços para diminuição da circulação da sífilis na população em geral, especialmente em adolescentes.