Museu Baldio : arte, ativismo e utopia

Abstract

Tendo como ponto de partida a exposição Museu Baldio, realizada na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul (RS), no ano de 2021, este texto propõe questões sobre o potencial transformador da arte e a análise de um grupo de artistas e não-artistas que, a partir de processos colaborativos, realiza ações em um ambiente natural denominado Parque da Solidariedade, localizado na cidade de Alvorada, RS. Essas ações têm promovido transformações efetivas, desde 2015, nos bairros adjacentes e em sua comunidade, sejam elas de ordem ambiental, social ou cultural, assim como também as têm possibilitado no campo artístico, gerando tensionamentos e reverberações no próprio sistema de arte local. Tudo isso, por sua vez, culmina na realização da exposição Museu Baldio na Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), sendo ela fruto dessas alterações e participando desse processo como uma forma de dispositivo (FOUCAULT, apud AGAMBEN, 2005; CARVALHO, 2012), ou seja, como uma estratégia de propagação dos ideais do coletivo, conferindo projeção e visibilidade às ações do grupo que desenvolve e executa as intervenções no Parque. Conceitos como artivismo e participação serão relacionados ao pensamento de autores como Bishop (2008 e 2011), Rancière (2005), Groys (2017), Kester (2006), entre outros. O texto apresenta um breve histórico e genealogia de dois projetos — Museu Baldio e Parque da Solidariedade — e procura demonstrar a estreita relação existente entre os dois. Uma entrevista realizada pelo pesquisador com o artista Marcelo Chardosim, articulador dos projetos, serve de fonte de informação para grande parte das análises realizadas. O texto traz ainda informações sobre algumas das reverberações percebidas a partir da mostra, sejam as melhorias realizadas diretamente no ambiente do parque, sejam os convites para reflexão e participação em outros projetos artísticos e institucionais. Apesar de os projetos terem sido iniciados e conduzidos com base em utopias, as repercussões alcançadas pela mostra indicam uma resposta positiva para a questão da pesquisa: o potencial transformador da arte.

The exhibition Museu Baldio, held at Casa de Cultura Mário Quintana, in Porto Alegre-RS, in 2021, is the starting point of analysis of this text, which proposes questions about the transforming potential of art. Based on collaborative processes, a group of artists and non-artists performs actions in a natural environment called Parque da Solidariedade, located in the city of Alvorada-RS. These actions have promoted effective transformations since 2015, in the adjacent neighborhoods and in their community, whether environmental, social, cultural, as well as enabling them in the artistic field, generating tensioning and reverberations in the local art system itself. All of this turns up in the exhibition Museu Baldio at CCMQ. The exhibition Museu Baldio is the result of these changes and participates in this process as a form of apparatus (FOUCAULT, apud AGAMBEN, 2005; CARVALHO, 2012), that is, as a strategy for disseminating the public's ideals, giving projection and visibility to the actions of the group that develops and executes interventions in the Park. Concepts such as artivism and participation will be related to the thoughts of authors such as Bishop (2008 and 2011), Rancière (2005), Groys (2017), Kester (2006), among others. The text presents a brief history and genealogy of two projects – Museu Baldio and Parque da Solidariedade – and seeks to demonstrate the close relationship between the two. An interview with the artist Marcelo Chardosim, articulator of the projects, serves as a source of information for most of the executed analysis. The text also provides information on some of the repercussions seen from the exhibit, whether the improvements made directly in the park environment, or the invitations for reflection and participation in other artistic and institutional projects. Although the projects were initiated and conducted based on utopias, the repercussions achieved by the exhibit indicate a positive answer to the research’s question: the transforming potential of art.