Mobilização familiar e contexto escolar : escolha escolar e envolvimento parental na relação com as oportunidades de ensino médio público brasileiro

Abstract

Processos de escolha escolar e de envolvimento parental são importantes objeto em sociologia da educação. Esses processos estão relacionados com as capacidades socioeconômicas das famílias, mas também influenciados por contextos institucionais e em relação com as oportunidades escolares. Em uma perspectiva macroteórica orientada por William Sewell e Bernard Lahire, considera-se que as ações e escolhas dos indivíduos são estruturadas dinamicamente por disposições e capitais diacrônicos e por contextos sincrônicos, que geram contextos de ação. O objetivo desta pesquisa é analisar se há relação entre níveis de mobilização familiar com determinados tipos de escolas de ensino médio público, em contexto brasileiro. Foi elaborado um questionário com objetivo de levantar dados socioeconômicos das famílias, e dados sobre a mobilização familiar e reputação escolar, levantamento feito por meio de um sistema de pontos de nível socioeconômico, por meio de uma escala exploratória de mobilização familiar, além de um índice básico de reputação escolar. Desenhou-se uma amostra estratificada de estudantes por tipos de escola e IDH dos bairros, em Fortaleza-CE, pelo qual se compôs os dados principais, e uma amostra voluntária com pais de Porto Alegre-RS, que gerou dados auxiliares. Utilizou-se Modelagem de Equações Estruturais, técnica que permite análise multivariada e multidirecional. Os modelos teoricamente construídos apresentaram índices de ajustes que permitem a sua aceitabilidade e os valores estimados na análise multirrelacional indicam haver relação importante e significativa entre tipo de escola, reputação escolar, nível de mobilização familiar e expectativas parentais em relação ao futuro educacional/profissional dos filhos, relações essas controladas pelo nível socioeconômico das famílias. Os resultados indicam que mobilização familiar interage com contexto escolar, mesmo em nível de rede pública, e com grupos sociais de baixa-médias capacidades socioeconômicas. A interpretação desenvolvida busca argumentar pela tese de que em determinados contextos institucionais e escolares públicos diferenciados, organiza-se um contexto de ação com mais possibilidades e estímulos à mobilização familiar pela educação dos filhos. Conclui-se que a mobilização familiar não pode ser compreendida apenas por fatores socioeconômicos, mas também por fatores contextuais do presente da ação; que não se caracteriza como um processo exclusivo de famílias de média-alta e altas condições socioeconômicas; e que a mobilização familiar pode ser um processo respondente, em alguma medida, da influência escolar.

Processes of school choice and parental involvement are important objects in sociology of education. These processes are related to families' socioeconomic capabilities, but also influenced by institutional contexts and in relation to school opportunities. In a macrotheoretical perspective oriented by William Sewell and Bernard Lahire, it is considered that individuals' actions and choices are dynamically structured by diachronic dispositions and capitals and by synchronic contexts, which generate contexts of action. The objective of this research is to analyze whether there is a relationship between family mobilization levels and certain types of public high schools, in the Brazilian context. A questionnaire was designed with the objective of raising socioeconomic data of the families, about family mobilization and school reputation, a survey done through a point system of socioeconomic level, through an exploratory scale of family mobilization, and a basic index of school reputation. A stratified sample of students by school type and neighborhood HDI was drawn in Fortaleza-CE, by which the main data was composed, and a voluntary sample of parents in Porto Alegre-RS, which generated auxiliary data. Structural Equation Modeling was used, an analysis technique that allows multivariate and multidirectional analysis. The theoretically built models presented adjustment indexes that allow their acceptability and the values estimated in the multi-relational analysis indicate that there is a notable and significant relationship between type of school, school reputation, level of family mobilization and parental expectations regarding the educational/professional future of their children, relationships that are controlled by the socioeconomic level of the families. The results indicate that family mobilization interacts with school context, even at the public-school network level, and with social groups of low-middle socioeconomic status. The interpretation developed seeks to argue for the thesis that in certain institutional and public-school contexts, a context of action is organized with more possibilities and stimuli for family mobilization for the education of their children. As a conclusion, proposes that family mobilization cannot be understood only by socioeconomic factors, but also by contextual factors of the present of the action; that it is not characterized as a process exclusive to families of medium-high and high socioeconomic conditions; and that family mobilization can be a process responsive, to some extent, to school influence.