Efetividade atual e futura das áreas protegidas para a conservação de corujas endêmicas da Mata Atlântica

Abstract

As áreas protegidas são uma das ferramentas de conservação mais importantes para proteger a biodiversidade global e os serviços ecossistêmicos. No entanto, sua efetividade ao longo prazo pode ser comprometida devido à mudança na distribuição geográficas das espécies, acelerada pelas mudanças climáticas. A exposição a novas condições climáticas provoca respostas diferentes nas espécies conforme a capacidade dos indivíduos rastrear as condições climáticas favoráveis, fato que pode afetar as espécies endêmicas de forma mais negativa. Nesse sentido, este estudo tem como objetivo avaliar a efetividade atual e futura da rede de áreas protegidas para a conservação das corujas endêmicas da Mata Atlântica. Para avaliar a efetividade das áreas protegidas nós consideramos sua representatividade na distribuição de cada espécie-alvo. Utilizamos a modelagem de nicho ecológico para predizer as mudanças na potencial distribuição geográfica nos cenários climáticos atuais e futuros das espéciesalvo e calculamos a porcentagem de área adequada sob proteção. Além disso, identificamos as regiões mais suscetíveis ao ganho e perda de espécies e indicamos aquelas que serão refúgios climáticos estáveis no futuro. Nossos resultados indicam que a rede de áreas protegidas é atualmente representativa para a maioria das espécies; no entanto, os modelos indicam que a representatividade diminui para todas as espécies nas próximas décadas como consequência das mudanças climáticas. Estimamos que haverá uma maior perda de espécies nas ecorregiões localizadas ao norte e um ganho reduzido ao sul. Também encontramos que as ecorregiões no sul, em particular aquelas com maior elevação no planalto sul, serão as áreas com maior estabilidade para as espécies no futuro. Nossos resultados destacam a importância da implementação de estratégias de conservação que incorporem as diferentes respostas das espécies às mudanças climáticas e consequentemente mitigar os impactos negativos sobre as corujas endêmicas da Mata Atlântica. Destacamos a necessidade de complementar a rede das áreas protegidas com o objetivo de compensar a representatividade na distribuição das espécies alterada pelas mudanças climáticas; e, com isso, reduzir a perda de espécies e aumentar a conectividade entre as áreas ideais. Esperamos que nossos resultados sirvam de base para que os tomadores de decisão orientem e repensem as políticas e decisões de conservação atuais para enfrentar as ameaças das mudanças climáticas.

Protected areas are one of the most important conservation tools for protecting global biodiversity and ecosystem services. However, their long-term effectiveness may be compromised due to the change in the geographic distribution of species, accelerated by climate change. Exposure to new climatic conditions provokes different responses in species depending on the ability of individuals to track favorable climatic conditions, a fact that can affect endemic species more negatively. In this sense, this study aims to evaluate the current and future effectiveness of the network of protected areas for the conservation of endemic owls of the Atlantic Forest. To assess the effectiveness of protected areas, we consider their representativeness in the distribution of each species. We used ecological niche modeling to predict potential distribution changes in calculated the percentage of suitable areas under protection. In addition, we identified the regions most susceptible to species gain and loss and those that will be climatestable refuges in the future. Our results indicate that the protected areas are currently effectiveness for most species, however, it is expected to decline for all species in the coming decades as a consequence of climate change. We found that there will be a greater loss of species in ecoregions located to the north and a reduced gain in the south. We also found that ecoregions in the south, particularly those with the highest elevation in the southern Plateau, will be the areas with the greatest stability of species in the future. Our results highlight the importance of implementing conservation strategies that incorporate the different responses of species to climate change and consequently mitigate negative impacts on species. We emphasize the need to complement the network of protected areas to offset the representativeness in the distribution of species altered by climate change. With this, we reduce the loss of species and increase connectivity between suitable areas. We hope that our results will serve as a basis for decision makers to guide and rethink current conservation policies and decisions to address the threats of climate change.