As representações do feminino no quadro Mulheres Fantásticas

Abstract

Partindo de uma perspectiva construtivista do jornalismo e das representações sociais como constituintes das relações de gênero, buscamos responder ao seguinte problema de pesquisa: Quais representações do feminino são produzidas e veiculadas pela série Mulheres Fantásticas do Fantástico? Para isso, nosso objetivo geral foi analisar os sentidos em torno dos papéis sociais de gênero a partir das representações do feminino nos episódios da série Mulheres Fantásticas produzida e veiculada pelo Fantástico da Rede Globo. Já os específicos, foram a) contextualizar o programa Fantástico enquanto instância ativa na construção dos papéis sociais de gênero; b) compreender que mulheres são apresentadas como fantásticas pelo quadro; c) identificar possíveis estereótipos ou representações dominantes nos episódios de Mulheres Fantásticas; e d) identificar possíveis códigos negociados nas representações do feminino em Mulheres Fantásticas. A partir de uma pesquisa descritiva e qualitativa, escolhemos a pesquisa bibliográfica e a análise das representações sociais a partir de Hall (1980, 2016, 1994) e suas contribuições em relação aos processos de codificação e decodificação da mídia como procedimentos metodológicos. Abordamos as especificidades do telejornalismo do Fantástico, que mescla entretenimento e jornalismo na televisão (BOURDIEU, 1997; STEFFEN, 2013, LAGO, 2014), o conceito de gênero e sua incidência na atualidade (HARAWAY, 2004; BIROLI, 2021; PEREZ E RICOLDI, 2019) e as representações sociais (FRANÇA, 2004; ARRUDA, 2009; CABECINHAS, 2009) com suas implicações nas relações de gênero, passando por conceitos como representações dominantes, estereótipos, naturalização e transcodificação (HALL, 2016). As protagonistas do quadro são majoritariamente negras, têm entre 25 e 40 anos, são do Sul e Sudeste do Brasil e são de classe baixa. Há apenas uma mulher com deficiência e nenhuma transexual. Há uma reiteração da heteronormatividade como destino das mulheres, assim como o lugar do cuidado. Das representações dominantes, destacamos as das mulheres submissas e maternais. O quadro se limita, às vezes, a estereótipos das mulheres que superam todas as dificuldades, sem discutir a origem disso. Já as representações negociadas, que contestam as dominantes e visam transcodificar, operam tanto pela alteridade estereotípica quanto pela visibilidade. Há uma disputa de sentidos no quadro que, ora reitera as representações dominantes, ora busca contestá-las por meio de representações negociadas.

From a constructivist perspective of journalism and social representations as constituents of gender relations, we sought to answer the following research problem: Which representations of the feminine are produced and conveyed by the series Fantastic Women on Fantástico? To this end, our general objective was to analyze the meanings surrounding social gender roles from the representations of the feminine in the episodes of the series Fantastic Women produced and aired by Fantástico, aired by Rede Globo. The specific objectives were a) to contextualize the Fantástico program as an active instance in the construction of social gender roles; b) to understand which women are presented as fantastic by the program; c) to identify possible stereotypes or dominant representations in the episodes of Mulheres Fantásticas; and d) to identify possible codes negotiated in the representations of the feminine in Mulheres Fantásticas. From a descriptive and qualitative research, we chose the bibliographic research and the analysis of social representations from Hall (1980, 2016, 1994) and his contributions regarding the processes of media coding and decoding as methodological procedures. We address the specificities of the telejournalism of Fantástico, which mixes entertainment and journalism on television (BOURDIEU, 1997; STEFFEN, 2013, LAGO, 2014), the concept of gender and its incidence today (HARAWAY, 2004; BIROLI, 2021; PEREZ AND RICOLDI, 2019) and the social representations (FRANÇA, 2004; ARRUDA, 2009; CABECINHAS, 2009) with their implications on gender relations, going through concepts such as dominant representations, stereotypes, naturalization and transcoding (HALL, 2016). The protagonists of the painting are mostly black, are between 25 and 40 years old, are from the South and Southeast of Brazil, and are of lower class. There is only one disabled woman and no transsexual. There is a reiteration of heteronormativity as the destiny of women, as well as the place of care. Of the dominant representations, we highlight those of submissive and maternal women. The picture is sometimes limited to stereotypes of women overcoming all difficulties, without discussing the origin of this. The negotiated representations, on the other hand, which contest the dominant ones and aim to transcode, operate both through stereotypical otherness and visibility. There is a dispute of meanings in the picture that sometimes reiterates the dominant representations, and sometimes seeks to contest them through negotiated representations.