O signo multimodal: uma leitura saussuriana

Abstract

Quando as possibilidades de comunicação não podem ser colocadas em palavras ou, ainda, quando elas se manifestam de maneira muito disforme, como estaria se organizando a língua? Foi a partir desse principal questionamento que a presente dissertação de mestrado ganhou vida. Movidas pela inquietação que a linguagem – logo, a língua – nos provoca constantemente, especialmente quando observamos e estudamos casos na clínica de linguagem, nos parece que a multimodalidade ocupa lugar de destaque nas produções sígnicas de sujeitos com dificuldades na oralização da fala. Nosso objetivo, neste trabalho, é poder propor um conceito de signo que abranja as diversas materialidades através das quais a língua possa vir a se atualizar, contemplando elementos multimodais – principalmente gesto e prosódia - atravessados pela leitura linguística de base saussuriana. Para isso, contamos com três capítulos abordando, nesta ordem, noções importantes à multimodalidade, ao signo linguístico saussuriano e, por fim, a uma possível teorização da proposta de signo multimodal. Nosso trabalho se baseia na interlocução entre aspectos teóricos e práticos, a qual conta com a revisão teórica de trabalhos que versam sobre a multimodalidade e o signo saussuriano, assim como a utilização de vinhetas clínicas oriundas de atendimentos fonoaudiológicos. Tais vinhetas foram coletadas em situações clínicas e registradas em diário de pesquisa, a fim de melhor ilustrar e amparar nossos deslocamentos teóricos-clínicos. Acreditamos que definir e validar o conceito de signo multimodal, a partir de uma leitura que suporte o diferente, é poder dar voz a quem coloca a língua em uso apoiando-se em diversos recursos comunicativos. Nesse sentido, o presente trabalho busca auxiliar a escutar e a atribuir valor ao que destoa do esperado, considerando a linguagem “multiforme e heteróclita” (SAUSSURE, 2012, p.41) em suas infinitas possibilidades de se fazer presente entre os sujeitos.

When the possibilities of communication cannot be supported by words or even when they are manifested in a very shapeless way, how would the language be organized? It was from this main questioning that this master's dissertation came to life. Moved by the unsettlement that language - thus, tongue - provokes constantly, especially when observing and studying cases in a scenario regarding speech language clinic, it seems to us that the multimodality occupies a prominent place in signic productions of individuals with difficulties in the oralization of language. Our objective in this work is to be able to consider a sign concept that encloses the many sorts of materialness through which language can come up, contemplating multimodal elements - mainly gesture and prosody - permeated by a reading based on the Saussurean linguistics. For this, we have three chapters addressing, in the following order, important notions regarding multimodality, the Saussurean linguistic sign and, finally, a possible theorization and proposition upon a multimodal sign. Our work is based on the dialogue between theoretical and practical aspects, which counts on the theoretical review of works that focus on multimodality and the Saussurean sign, as well as on the use of clinical vignettes from speech pathology treatment sessions. Such vignettes have been collected in clinical context and have been registered in a research journal in order to better illustrate and support our theoreticalclinical displacements. We believe that defining and validating the concept of multimodal sign from a reading that supports the differences is to be able to give voice to who makes language work relying on diverse communicative resources. In this sense, the present work aims to assist on listening to and on attributing value to what distunes from expectations, considering language “multiform and heteroclite” (SAUSSURE, 2012, p.41) in its infinite possibilities of making itself present among individuals.