A racialização dos nordestinos em São Paulo : representações na imprensa da década de 1950 e relatos de migrantes idosos
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Data
2021Orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
Entender a sociedade brasileira e suas especificidades passa por considerar a centralidade do racismo na disposição e interação dos elementos que conformam nossa realidade social. Embora o racismo antinegro seja o modelo mais evidente de essencialização negativa presente nas interações sociais brasileiras, também existem outros processos de racialização. O estudo em questão busca entender que elementos da racialização dos migrantes nordestinos em São Paulo podem ser encontrados nas páginas do j ...
Entender a sociedade brasileira e suas especificidades passa por considerar a centralidade do racismo na disposição e interação dos elementos que conformam nossa realidade social. Embora o racismo antinegro seja o modelo mais evidente de essencialização negativa presente nas interações sociais brasileiras, também existem outros processos de racialização. O estudo em questão busca entender que elementos da racialização dos migrantes nordestinos em São Paulo podem ser encontrados nas páginas do jornal Correio Paulistano na década de 1950 para em seguida identificar quais deles foram sentidos ao longo da vida de nordestinos idosos. Para isso se recorre à bibliografia nacional e internacional sobre raça, racismo e processos de racialização, o que permite conceber que os nordestinos, na medida em que compõem um grupo étnico em São Paulo que sofre uma dominação simbólica, econômica e política pelos paulistas, se constitui num grupo racializado. Posteriormente, ao se construir um histórico sobre o tema anterior a 1950, demonstra-se que a racialização do nordestino agrega elementos anteriores a própria formulação do Nordeste enquanto região do norte que sofre com as secas. Logo após a criação do Nordeste em 1919, o nordestino é representado em mídias impressas como a antítese do paulista, contraponto a ser reiterado ao longo das décadas, num discurso racista que se reinventa ao apontar no Nordeste uma cultura inferior. Na década de 1950 os nordestinos começam a chegar em grandes números a São Paulo, gerando um rico material de análise nos jornais da época que passaram a tematizar com frequência os migrantes que aportavam. Norteado pela processualidade com o que se pode compreender o lastro de uma realidade, recorri ao jornal Correio Paulistano e suas edições da década de 1950, em que pude identificar um discurso que não só reflete uma racialização que essencializa negativamente os migrantes nordestinos, como também indica elementos de um racismo próximo do que se define como racismo de exploração. Valendo-me de entrevistas semiestruturadas com migrantes idosos, se identifica em suas experiências narradas a quase totalidade das representações e características atribuídas aos nordestinos já presentes no Correio Paulistano da década de 1950. ...
Abstract
Understanding the Brazilian society and its specificities involves considering the centrality of racism for the arrangement and interaction of the elements that comprise our social reality. Although anti-black racism is the most evident model of negative essentialism present in Brazilian social interactions, there are also other processes of racialization. This study seeks to understand which aspects of northeastern migrants racialization in São Paulo can be found in the pages of the Correio Pa ...
Understanding the Brazilian society and its specificities involves considering the centrality of racism for the arrangement and interaction of the elements that comprise our social reality. Although anti-black racism is the most evident model of negative essentialism present in Brazilian social interactions, there are also other processes of racialization. This study seeks to understand which aspects of northeastern migrants racialization in São Paulo can be found in the pages of the Correio Paulistano newspaper in the 1950s and ultimately identify which of them have been felt throughout the older north-eastern’s lives. For this, national and international bibliography on race, racism and racialization processes is used, which allows us to conceive that northeastern people constitutes a racialized group since they comprise an ethnic group in São Paulo that suffers a symbolic, economic and political domination by São Paulo. Later, when building a history of the theme prior to 1950, it is shown that the racialization of the northeastern has other elements prior to the formulation of the Northeast as simply ‘a northern region that suffers from droughts’. Soon after the creation of the Northeast in 1919, the Northeast is represented in printed media as the antithesis of the São Paulo native person, a counterpoint to be reiterated over the decades, in a racist discourse that reinvents itself by pointing to an inferior culture in the Northeast. In the 1950s, northeastern people began to arrive in São Paulo in large numbers, generating a rich material for analysis in newspapers at the time, which frequently began to focus on the migrants who arrived. Guided by the process of understanding the foundation of a reality, I turned to the Correio Paulistano newspaper and its editions from the 1950s, in which I was able to identify a discourse that not only reflects a racialization that negatively essentializes northeastern migrants, but also indicates elements of a racism close to what is defined as exploitative racism. Using semistructured interviews with older migrants, in their narrated experiences, we could identify that most of the representations and characteristics assigned to northeastern people were already present in the Correio Paulistano newspaper back to the 1950s. ...
Résumé
Comprendre la société brésilienne et ses spécificités implique de considérer la centralité du racisme dans la disposition et l'interaction des éléments qui façonnent notre réalité sociale. Bien que le racisme anti-noir soit le modèle le plus évident d'essentialisme négatif présent dans les interactions sociales brésiliennes, il existe également d'autres processus de racialisation. L'étude en question cherche à comprendre quels éléments de la racialisation des migrants du nord-est brésilien à Sã ...
Comprendre la société brésilienne et ses spécificités implique de considérer la centralité du racisme dans la disposition et l'interaction des éléments qui façonnent notre réalité sociale. Bien que le racisme anti-noir soit le modèle le plus évident d'essentialisme négatif présent dans les interactions sociales brésiliennes, il existe également d'autres processus de racialisation. L'étude en question cherche à comprendre quels éléments de la racialisation des migrants du nord-est brésilien à São Paulo se retrouvent dans les pages du journal Correio Paulistano dans les années 1950, puis à identifier quels éléments ont été ressentis tout au long de la vie des ces personnes âgées du Nord-Est. Pour cela, une bibliographie nationale et internationale sur les processus de race, de racisme et de racialisation est utilisée, ce qui nous permet de concevoir que les originaux du Nord-est,en tant qu'ils constituent une ethnie à São Paulo qui subit une domination symbolique, économique et politique des paulistes, constitue un groupe racialisé. Plus tard, lors de la construction d'une histoire du thème avant 1950, il est montré que la racialisation des personnes du nord-est ajoute des éléments antérieurs à la formulation elle-même du Nord-est comme une région du nord qui ne souffre que de sécheresses. Ensuite la création du Nord-Est en 1919, l'individu du Nord-Est est représenté dans la presse écrite comme l'antithèse du natif de São Paulo, contrepoint réitéré au fil des décennies, dans un discours raciste qui se réinvente en pointant du doigt une culture inférieure dans le Nord-est.Dans les années 1950, les gens du nord-est ont commencé à arriver en grand nombre à São Paulo, générant un riche matériel d'analyse dans les journaux de l'époque, qui ont commencé à thématiser fréquemment les migrants qui sont arrivés Je me suis tourné vers le journal Correio Paulistano et ses éditions des années 1950, dans lequel j'ai pu identifier un discours qui reflète non seulement une racialisation qui essentialise négativement les migrants du nord-est, mais indique également éléments d'un racisme proche de ce qui est défini comme un racisme d'exploitation. À partir d'entretiens semi structurés avec LES migrants âgés, la quasi-totalité des représentations et des caractéristiques qui leur sont attribuées déjà présents dans le journal Correio Paulistano dans les années 1950 peuvent être identifiées dans leurs expériences racontées. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Sociologia.
Coleções
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Ciências Humanas (7479)Sociologia (547)
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