"Náufrago : as mudanças sociais e o filme como narrativa, em relação à primeira robinsonada"

Abstract

Esta monografia apresenta uma leitura da obra cinematográfica Náufrago [Cast Away], de Robert Zemeckis, lançada no ano 2000. O filme narra a história de Chuck, um empenhado funcionário da empresa de entregas FedEx, que leva uma vida regrada pelo relógio, como tantas outras pessoas de sua época. Após um acidente de avião, Chuck se vê preso em uma ilha deserta durante quatro anos, onde precisa criar estratégias para sobreviver. Na medida em que são comentados a temática, a estrutura e os aspectos da produção deste filme, estabeleço relações com o romance Robinson Crusoé (1719), de Daniel Defoe, e com a tradição das robinsonadas. O foco da pesquisa contempla o estatuto das robinsonadas na nossa contemporaneidade, observando três pontos distintos: (a) a relevância de uma nova robinsonada no século XXI; (b) a relação entre as sociedades do século XVIII e do século XXI; e (c) os recursos cinematográficos utilizados. Através dos contrastes observados, aponto mudanças ocorridas na sociedade, nos hábitos e nos costumes de diferentes estágios de nosso processo civilizatório. O trabalho se estrutura em duas partes. A primeira, que é permeada por alguns comentários sobre o filme analisado, apresenta contextualizações pertinentes para a condução do estudo, tratando sobre a tradição das robinsonadas e sobre Robinson Crusoé, seu romance fundador. A segunda parte analisa o filme Náufrago, abordando tanto a estrutura da obra quanto as semelhanças e diferenças no modo de ver o mundo mostradas na obra de Defoe. Como aporte teórico-crítico para estudo da estrutura do filme utilizo a obra Film Narratology (2009), de Peter Verstraten. Na discussão sobre o papel de Robinson Crusoé em relação à temática do filme recorro a dois textos do historiador literário Ian Watt, A Ascenção do Romance (1957) e Mitos do Individualismo Moderno (1996). Para analisar os significados e o impacto da tradição das robinsonadas me apoio em considerações feitas por Helena Roennau Lemos em The Dark Side is the Bright Side, in Robinson Crusoe (2006). Espero que este estudo contribua para a literatura sobre produções fílmicas, para a crítica sobre o escritor Daniel Defoe e, em especial, para a compreensão de como certos temas relevantes têm evoluído no intervalo de tempo compreendido nesta pesquisa. Destarte, desejo que o trabalho seja relevante para o entendimento de mudanças de espaço, tempo, costumes e hábitos apontados no filme e no livro, e das razões por que foram ocorrendo.

This monograph presents a reading of the movie Cast Away, by Robert Zemeckis, released in the year 2000. The plot centers on a character called Chuck, a committed employee who works for FedEx Corporation. He leads a life ruled by the clock, like so many other people of his time. After a pla)ne crash, Chuck finds himself trapped on a desert island for four years, where he needs to plan his strategies of survival. The discussions held about the theme, structure and aspects of the film in this monograph find a counterpoint in the novel Robinson Crusoe (1719), by Daniel Defoe, and in the tradition of the Robinsonades. The focus of the research lies on the contemporary meaning of the Robinsonades, on three distinct points: (a) the relevance of a new Robinsonade in the 21st century; (b) the relationship between eighteenth and twenty-first century societies; and (c) the cinematographic resources applied. The comments presented contemplate the contrasts and changes in society, habits and usages in different stages of our civilizing process. The work is structured in two parts. The first is permeated with some comments on the analyzed film, and presents contextualization deemed relevant to this investigation, dealing on the tradition of the Robinsonades and with its foundling novel, Robinson Crusoe. The second part analyzes the film Cast Away, addressing both the structure of the work and the similarities and differences in the world view presented in Defoe's work. As a theoretical support to the analysis of the film structure I rely on Peter Verstraten's boolFilm Narratoloty (2009). To connect the movie to the themes raised in Defoe's Robinson Crusoé I use two texts by the literary historian Ian Watt, The Rise Of The Novel (1957) and Myths of Modern Individualism (1996). And to analyze the meanings and impact of the Robinsonade tradition, I bring considerations made by Helena Roennau Lemos in The Dark Side is the Bright Side, in Robinson Crusoe (2006). At the end of the research, I hope this work may contribute to the literature available on film studies, to the critique about Daniel Defoe, and, especially, to the understanding of how certain relevant themes have evolved in the time span comprised in this research. Also, I expect that this work be relevant to the understanding of changes in space, time, and habits highlighted in the film and in the book, and of the reasons for this to happen.