Por elas : enfrentamentos nas relações de cuidado de usuários com transtorno de uso de substâncias na perspectiva de gênero

Abstract

Sabe-se que o transtorno por uso de substâncias (TUS) não afeta somente quem as utiliza, mas também a rede familiar envolvida. Historicamente o papel do cuidado é atribuído às mulheres, reforçando a ideia do cuidar como um verbo feminino. Sendo assim, esta pesquisa teve como problema de pesquisa: “Como e quais são os enfrentamentos realizados pelas mulheres no cuidado ao familiar com transtorno por uso de substâncias?”. Já como objetivo geral: conhecer os enfrentamentos nas relações de cuidado de familiares de usuários com transtorno de uso de substâncias psicoativas sob a perspectiva de gênero. Este é um estudo qualitativo, exploratório e descritivo, que foi realizado por meio de entrevistas semiestruturadas. Foram realizadas 10 entrevistas (formato de ligações telefônicas devido à pandemia do COVID-19), com mulheres que exercem o papel de cuidadoras dos familiares com TUS vinculadas ao ambulatório de adição há um mês e na internação por duas semanas. Para a análise e interpretação de dados foi utilizado o método de análise de conteúdo de Bardin (2016). As pesquisas iniciaram somente após a aprovação do Comitê de Ética, conforme CAEE: 31676520.1.0000.5327. A análise permitiu a criação das categorias: enfrentamentos das famílias, enfrentamentos das mulheres e cuidando de quem cuida ; e das subcategorias: história do cuidado familiar, processo de adoecimento das famílias, dificuldade de aceitação da doença, comportamentos que colocam as famílias em risco codependência , violência contra a mulher, outros tipos de violência, tipos de rede e políticas públicas. Como resultado, pode-se observar que as famílias enfrentam questões que perpassam ao longo da historicidade, como: a questão do TUS, a codependência (como um dos fatores principais) e, além disso, existem os enfrentamentos que as mulheres passam como as violências e questões da autoestima, submissão e a dependência financeira. Considera-se que as mulheres entrevistadas não conseguem perceber criticamente o quanto o fato de ser mulher impacta nos enfrentamentos por elas relatados durante o período do cuidado. Embora tendo sido realizado num único dispositivo, sugere-se que novos estudos sejam conduzidos em outros espaços da rede para que se possa ampliar o olhar dos dispositivos de saúde e de assistência sobre a questão do gênero e o cuidar de quem cuida. Com este trabalho, contribui-se para uma reflexão sobre a temática de mulheres como cuidadoras, instigando os serviços públicos, incluindo Política Integral de Atenção ao Usuário de Drogas, para esse olhar da importância de cuidar de quem cuida sob a perspectiva de gênero.

It is known that substance use disorder (TUS, in portuguese) affects not only those who use them, but also the family network involved. Historically, the role of care is attributed to women, reinforcing the idea of care as a feminine verb. Therefore, this research had as a research problem "How and what are the confrontations carried out by women in caring for family member with substance use disorder?". As a general objective: to know the confrontations in the care relationships of family members of users with psychoactive substance use disorder from a gender perspective. This is a qualitative, exploratory and descriptive study, that was carried out through semi-structured interviews. 10 interviews were conducted (in format of telephone calls, due to the COVID-19 pandemic), with women who act as caregivers of family members with TUS linked to the addiction clinic for a month and in hospitalization for two weeks. For analysis and interpretation of data, Bardin's content analysis method (2016) was used. This research started only after approved by the Ethics Committee, according to CAEE: 31676520.1.0000.5327. This analysis allowed the creation of these categories: family confrontations, women confrontations and taking care of those who care; and these subcategories: family care history, family illness process, difficulty in accepting the disease, behaviors that put families at risk codependency, violence against women, other types of violence, types of network and public policies. As a result, it can be seen that families face issues that go through historicity, such as: the issue of TUS, codependency (as one of the main factors) and, in addition to those, there are confrontations that women go through such as violence and issues of self-esteem, submission and financial dependence. It is considered that the women interviewed are not able to critically perceive how much the fact of being a woman impacts on the confrontations reported by them during the care period. Although it was carried out in just one device, it is suggested that further studies should be conducted in other spaces of health network, so we can broaden the view of health and social work devices on the issue of gender and the care of those who care. This work contributes to a reflection on the theme of women as caregivers, instigating public services, included the Policy of Drug Users Care, for this view of the importance of caring for those who care from a gender perspective.