Desvelando a gestação de substituição : as experiências das mulheres “barrigas solidárias”

Abstract

O presente trabalho tem por objetivo desvelar a experiência da gestação de substituição de mulheres “barrigas solidárias”, considerada uma técnica de reprodução assistida. Trata-se de uma pesquisa retrospectiva, de estudo de casos múltiplos, envolvendo a experiência de gestação de três mulheres que sub-rogaram seus úteros para gestar o embrião de um casal heterossexual. As mulheres “barrigas solidárias” foram entrevistadas, por meio de entrevista semiestruturada, Para cada caso, foi construído um relato clínico, por meio do qual foi possível visualizar a singularidade da experiência da gestação de substituição de cada mulher. São destacados os desafios de emprestar o próprio corpo para gestar um filho que não é seu, comunicados pelas gestantes e traduzidos pela pesquisadora. A empatia em relação ao sofrimento da irmã ou amiga, impossibilitada de gestar o filho em seu próprio corpo, foi o principal motivador que impulsionou as mulheres a serem “barrigas solidárias”. A proposta de ser “barriga solidária” ocorreu dentro de um percurso singular, para o qual contribuiu o relacionamento que ela mantinha com o casal previamente à experiência, bem como as circunstâncias de vida em que ocorreu a proposta de ser barriga solidária. Discute-se o fato de que, ao aceitar fazer a gestação de substituição para realizar o desejo de uma mulher ou de um homem de ter um filho, a mulher “barriga solidária” não se dá conta desses desafios, lançando-se ao desconhecido. Essa experiência é elaborada e reconhecida somente em um a posteriori, especialmente no momento do parto, em que aparecem medos primitivos de morte e solidão, bem como tomada de consciência das transformações no próprio corpo.

The objective of the present study is to unveil the experience of the gestation of women replacing "solidary bellies" considered as a assisted reproduction technique. This is a retrospective multiple-case study involving the gestational experience of three women who subrogated their wombs to conceive the embryo of a heterosexual couple. The women "solidary bellies" were interviewed through a semi-structured interview. For each case, a clinical report was constructed, through which it was possible to visualize the singularity of the gestation experience of each woman's replacement. The challenges of lending the body to gestating a child that is not their own, communicated by the pregnant women and translated by the researcher, are highlighted. The empathy with the sister's suffering, unable to raise the child in her own body, was the main motivator that pushed women to be "solidarity bellies." The proposal to be a "solidarity belly" took place within a singular path, to which contributed the relationship she had with the couple prior to the experience, as well as the circumstances of life in which the proposal to be a “solidary belly”. It is discussed the fact that, when accepting to make the gestation of substitution to realize the desire of a woman or a man to have a child, the woman "solidary belly" does not realize these challenges, throwing herself into the unknown. This experience is elaborated and acknowledged only in an a posteriori, especially at the time of childbirth, in which primitive fears of death and loneliness appear, as well as awareness of the transformations in the body itself.