Fatores associados ao abandono de tratamento de tuberculose na população coinfectada com HIV do município de Alvorada-RS

Abstract

Introdução: O Brasil está entre os países prioritários, pela OMS, para combate de tuberculose (TB) por sua alta carga de TB e alta carga da coinfecção TB-HIV. Em 2018 a incidência de TB foi de 34,8 casos/100.000 habitantes e a proporção de coinfectados com HIV foi de 11,4%. O Rio Grande do Sul (RS) apresentou, no mesmo ano, um coeficiente de incidência algo acima do nacional, atingindo 39,5 casos novos por 100.000 habitantes com 18,5% de coinfecção com HIV, a taxa mais elevada do país. A coinfecção TB-HIV tem um efeito sinérgico, que resulta em um maior risco de infecção por TB nas pessoas que vivem com HIV (PVHIV) e mais altos índices de desfechos desfavoráveis, em especial abandono do tratamento e óbito. O objetivo deste estudo é avaliar fatores associados ao abandono do tratamento de tuberculose na população com coinfecção TBHIV em Alvorada-RS, Brasil. Metodologia: Este estudo utiliza dados de uma coorte histórica de pacientes coinfectados com TB-HIV do município de Alvorada-RS. São elegíveis todos os pacientes com HIV e ao menos um episódio de TB, que realizaram ao menos uma consulta nos serviços de atendimento especializado em HIV (SAE) e na Tisiologia do município de Alvorada no período de 2010 a 2015. Os dados referentes a infecção pelo HIV foram coletados a partir dos registros de prontuários do SAE e as características da infecção pela TB foram complementadas através de coleta nos prontuários do serviço de Tisiologia. O modelo condicional de Prentice, Williams e Peterson para eventos recorrentes foi utilizado para avaliar fatores associados ao tempo até o abandono de tratamento. Resultados: Foram analisados os dados de linha de base e seguimento de 154 pacientes com coinfecção TB-HIV. Ao longo do período estudado, apresentaram 227 episódios de TB. Os pacientes eram em sua maioria do sexo masculino (66,2%), com idade abaixo de 35 anos (40,9% ) e com até 4 anos de estudo (82,5%). A mediana de tempo entre o início do tratamento e o abandono no primeiro episódio foi de 142 dias observando-se uma redução progressiva do tempo de acordo com o episódio de TB. O abandono de tratamento foi o desfecho em 35,7% dos episódios de TB . Após a análise ajustada o risco de abandono esteve relacionado com tabagismo e uso de crack. Histórico de encarceramento no sistema prisional foi associado a menor risco de abandono de tratamento. Conclusões: A amostra estudada de pacientes coinfectados com TB-HIV apresentou um perfil de alta vulnerabilidade social com indicadores de diagnóstico tardio da coinfecção. O maior risco de abandono do tratamento foi associado às variáveis uso de crack e tabagismo. Isto aponta para a necessidade de uma abordagem diferenciada com maior atenção aos pacientes com um perfil de maior vulnerabilidade, além de ampliação da integração dos cuidados dos agravos HIV e TB e maior acesso a estratégias de manejo da dependência química.

Introduction: The World Health Organization considers Brazil one of the priority countries, for combating tuberculosis (TB) due to its high burden of TB and high burden of TB-HIV coinfection . In 2018, the incidence of TB in Brazil was 34.8 cases / 100,000 inhabitants and the proportion of co-infected with HIV was 11.4%. In the same year, Rio Grande do Sul (RS) had an incidence rate somewhat above the national rate, reaching 39.5 new cases per 100,000 inhabitants with 18.5% of HIV co-infection, the highest rate in the country. TB-HIV co-infection has a synergistic effect, which results in a higher risk of TB infection in people living with HIV (PLHIV) and higher rates of unfavorable outcomes, especially loss of follow up and death. The aim of this study is to evaluate factors associated with the loss of follow up of tuberculosis treatment in the population with TB-HIV co-infection in Alvorada-RS, Brazil. Methodos: This study uses data from a historical cohort of patients co-infected with TB-HIV of Alvorada-RS. All patients with HIV and at least one episode of TB, who have had at least one consultation at the specialized HIV care services and at the tuberculosis care center of Alvorada between 2010 and 2015 are eligible. Data on infection HIV were collected from the HIV care center medical records and the characteristics of the TB infection were complemented by collecting the remaining data from the medical records of the tuberculosis care center. The Prentice, Williams and Peterson conditional model for recurrent events was used to assess factors associated with the time until treatment abandonment. Results: Baseline and follow-up data from 154 patients with TB-HIV co-infection were analyzed. Over the study period, they had 227 episodes of TB. Most patients were male (66.2%), under 35 years old (40.9%) and with up to 4 years of study (82.5%). The median time between the start of treatment and abandonment in the first episode of TB was 142 days, with a progressive reduction in time according to the TB episode. Treatment dropout was the outcome in 35.7% of TB episodes. After the adjusted analysis, the risk of loss of follow up of TB treatment was related to tabaco smoking and crack use. A history of incarceration in the prison system was associated with a lower risk of loss of follow up of TB treatment. Conclusions: The studied sample of patients co-infected with TB-HIV showed a profile of high social vulnerability with indicators of late diagnosis of co-infection. The highest risk of loss of follow up of treatment was associated with the use of crack and tabaco smoking. This reveals the need for a differentiated approach with greater attention to patients with a profile of vulnerability, in addition to expanding the integration of care for HIV and TB co-infection and greater access to addiction management strategies.