O jornalismo do Correio do Povo e o discurso do desmonte da política ambiental do Rio Grande do Sul

Abstract

Nesta tese buscamos compreender como o jornalismo do Correio do Povo (CP) construiu o discurso do desmonte da política pública ambiental do Rio Grande do Sul entre 2003 e 2018 em um contexto de neoliberalismo global. Tomamos o Jornalismo como uma forma de conhecimento (PARK, 1940; GENRO FILHO, 1987; MEDISCHT, 1997) relacionado ao poder associado à sua prática (GROTH, 2011) e contamos com o instrumental teórico e metodológico da arqueologia foucaultiana (FOUCAULT, 1999c; 2002) para responder o nosso problema de pesquisa sobre quais transformações ocorreram neste discurso sobre esta política que é objeto de disputa permanente entre os saberes e os poderes na sociedade. Em acordo com os objetivos específicos mapeamos a circulação dos enunciados e os acontecimentos discursivos, descrevemos os efeitos de verdade, a formação dos saberes sobre a política ambiental que circularam nas notícias e o funcionamento do discurso do jornalismo do CP. O Jornalismo faz circular verdades baseado na própria credibilidade, verdades portadoras de saberes que podem gerar efeitos sobre a vida do público leitor, individual e coletiva, e somar para a constituição de subjetividades. O discurso do desmonte da política ambiental do Rio Grande do Sul não foi um discurso do jornalismo do CP, mas foi um discurso que o jornalismo do CP reproduziu e, por consequência, produziu, a partir da decisão de garantir as informações através de fontes oficiais e limitadas aos cargos de chefia dos poderes Executivo, Legislativo e entidades do setor econômico-produtivo e empresas vinculadas. Este discurso do desmonte da política ambiental caracterizou-se pelo uso dos termos do liberalismo e do neoliberalismo (FOUCAULT, 2008) como reestruturação, desburocratização, entre outros, em relação às leis e aos órgãos estaduais. Esta prática discursiva procurou persuadir o público para aderir a uma verdade unidimensional e foi evidenciada pela polarização das informações entre aspectos positivo e negativo, e pela oposição entre fontes favoráveis e contrárias ao desenvolvimento. Entre as transformações que verificamos no discurso do jornalismo do CP no período sob análise, estão: gradativa redução da cobertura de pautas ambientais; crítica crescente à Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler) e ao licenciamento; acontecimentos discursivos de reivindicação ou justificativa para alterar leis (flexibilização, modernização e atualização) e para descentralizar o licenciamento (retirada da Fepam) através da habilitação dos municípios e do autolicenciamento; exígua cobertura sobre a depredação do patrimônio público ambiental; precária e decrescente cobertura sobre as atividades da Fundação Zoobotânica após a extinção confirmada pelo Executivo e Legislativo.

En esta tesis buscamos comprender cómo el periodismo del Correio do Povo (CP) construyó el discurso del desmantelamiento de la política ambiental pública en la Provincia de Rio Grande do Sul entre 2003 y 2018 en un contexto de neoliberalismo global. Tomamos el periodismo como una forma de conocimiento (PARK, 1940; GENRO FILHO, 1987; MEDISCHT, 1997) relacionado con el poder asociado con su práctica (GROTH, 2011) y a partir de las herramientas teóricas y metodológicas de la arqueología de Foucault (FOUCAULT, 1999c; 2002) para responder a nuestro problema de investigación sobre cuales transformaciones ocurrieron en este discurso sobre esta política que es objeto de una disputa permanente entre el conocimiento y los poderes en la sociedad. De acuerdo con los objetivos específicos, mapeamos la circulación de declaraciones y eventos discursivos, describimos los efectos reales, la formación del conocimiento sobre la política ambiental que circulaba en las noticias y el funcionamiento del discurso periodístico del CP. El periodismo circula verdades basadas en su propia credibilidad, verdades que transmiten conocimiento que puede generar efectos en la vida del público lector, individual y colectivamente, y que se suman a la constitución de subjetividades. El discurso del desmantelamiento de la política ambiental de Rio Grande do Sul no fue un discurso del periodismo del CP, pero fue un discurso que el periodismo del CP reprodujo y, en consecuencia, produjo, basado en la decisión de garantizar la información a través de fuentes oficiales y limitado a puestos de liderazgo en las entidades de los poderes Ejecutivo y Legislativo, de sectores económico-productivos y empresas relacionadas. Este discurso del desmantelamiento de la política ambiental se caracterizó por el uso de los términos de liberalismo y neoliberalismo (FOUCAULT, 2008) como reestructuración, reducción de la burocracia, entre otros, en relación con las leyes y las agencias estatales. Esta práctica discursiva buscó persuadir al público lector para que se adhiriera a una verdad unidimensional y fue evidenciada por la polarización de la información entre aspectos positivos y negativos, y por la oposición entre fuentes favorables y contrarias al desarrollo. Entre los cambios que observamos en el discurso periodistico del CP en el período bajo análisis destacamos: una reducción gradual en la cobertura de los temas ambientales; creciente crítica a la Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler) y a la emisión de licencias ambientales; reclamos discursivos o eventos de justificación para cambiar las leyes (flexibilización, modernización y actualización) y con el objetivo de descentralizar las licencias (retirar la competencia de la Fepam y pasar a los municipios); noticias limitadas de la depredación de activos ambientales públicos; noticias precarias y decrecientes acerca de las actividades de la Fundação Zoobotânica después de su extinción confirmada por los poderes Ejecutivo y Legislativo.