Concentração de nucleosídeos totais no leite humano e avaliação de sua variação com a idade gestacional e estagio da lactação

Abstract

O leite materno é considerado o melhor alimento para o lactante, razão pela qual um maior conhecimento sobre sua composição poderia contribuir para aprimorar o entendimento a respeito da nutrição infantil. Há muitas diferenças entre a composição do leite humano e a do de outras espécies animais, sendo uma delas o conteúdo de nitrogênio não-protéico, do qual fazem parte os ácidos nucléicos, os nucleotídeos e os nucleosídeos, entre outros. Recentemente, a potencial importância desses compostos na dieta, especialmente para os lactantes, tem sido sugerida, principalmente em relação ao metabolismo dos ácidos graxos poliinsaturados e das lipoproteínas plasmáticas, ao sistema imunológico, à diferenciação das células intestinais, à moficiação da microflora intestinal e ao aumento da bioavaliabilidade do ferro. Entretanto existem poucos estudos sobre a quantidade e a composição dos nucleotídeos e nucleosídeos no leite humano. Buscando contribuir com mais dados sobre o assunto, procuramos avaliar a concentração de nucleosídeos totais (disponíveis para absorção intestinal) em amostras de leite de puérperas do HCPA e verificar sua variação com a idade gestacional e com o estágio da lactação. Investigou-se também se haveria alguma influência da idade da nutriz, do grau de nutrição, da renda per capita e do uso de fumo na gestação com relação aos valores encontrados. Com esse objetivo, foram coletadas, no Banco de Leite do HCPA, 141 amostras de leite humano, provenientes de de 110 mulheres entre 1 e 30 dias pós-parto, no turno da manhã, no período de 02 de julho de 1996 a 21 de junho de 1997. As amostras foram divididas inicialmente em seis grupos, conforme a idade gestacional (leite de mães de prematuros e de mães de recém-nascidos a termo) e o estágio da lactação(colostro, leite de transição e leite maduro). A metodologia adotada simulou a digestão in vivo. Nucleotídeos poliméricos (RNA), nucleotídeos monoméricos e nucleosídeos provenientes dos aductos foram hidrolisados enzimaticamente para nucleosídeos, a forma mais frequente de absorção do intestino. Nucleosídeos livres e os liberados por intermédio da ação de enzimas foram determinados por cromatografia líquida de alta pressão, fornecendo valores correspondentes aos nucleosídeos totais disponíveis para serem aproveitados. A concentração de nucleosídeos totais no leite de puérperas do HCPA, independentemente do estágio de lactação, apresentou uma mediana de 33,18 ± 22,58 mg/l. Não foi encontrada variação estatisticamente significativa na concentração desses compostos em relação à idade gestacional, o mesmo ocorrendo em relação à idade das nutrizes, ao grau de nutrição, à renda per capita e ao uso de fumo durante a gestação. Quanto ao estágio da lactação, foi observada diferença estatisticamente significativa na concentração de nucleosídeos totais entre os grupos, com a presença de valores significativamente menores no colostro (28,93 mg/l) do que no leite de transição (36,81 mg/l) e no leite maduro 40,55 mg/l). Os nucleosídeos totais das amostras de leite humano analisadas tiveram um predomíneo de nucleotídeos monoméricos (59,6%), seguidos por nucleosídeos livres (16,3%), aductos (13,9%) e RNA (10,2%).