Transtorno específico de aprendizagem em crianças e adolescentes com transtorno bipolar : prevalência e correlatos neuroanatômicos

Abstract

Objetivo: A presente pesquisa tem como objetivo estimar a prevalência do Transtorno Específico de Aprendizagem em crianças e adolescentes atendidos no Programa de Crianças e Adolescentes Bipolares (ProCAB) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e uma amostra da comunidade, avaliando as mudanças decorrentes das alterações nos sistemas classificatórios vigentes e identificar diferenças nas estruturas cerebrais de crianças e adolescentes com Transtorno Bipolar e Transtorno da Matemática comórbidos Método: Trata-se de um estudo transversal, em que foram avaliadas crianças e adolescentes (n=100) com idades entre 6 e 17 anos. Compuseram o grupo de casos crianças e adolescentes (n=60) com diagnóstico de Transtorno Bipolar atendidos no Programa de Crianças e Adolescentes Bipolares, ambulatório do hospital universitário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. O grupo controle foi composto por crianças e adolescentes (n=40) de escolas públicas e privadas da cidade de Porto Alegre. Os participantes realizaram avaliação psiquiátrica, neuropsicológica e psicopedagógica. Os resultados foram primeiramente classificados com os critérios do DSM-IV e posteriormente os do DSM-5. Os níveis de concordância foram calculados. No estudo de neuroimagem funcional, participaram crianças e adolescentes (n=29) atendidos no Programa de Crianças e Adolescentes Bipolares. O grupo de casos foi composto por participantes (n=10) que apresentavam Transtorno Bipolar e Transtorno da Matemática comórbidos. O grupo controle foi composto por participantes (n=19) que tinham diagnóstico de TB apenas. As imagens de ressonância magnética e DTI foram adquiridas no scanner de corpo inteiro de 1.5 T Philips Achieva no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, com uso de bobina de crânio de oito canais para recepção do sinal. Resultados: Encontramos prevalência de 45% de Transtorno Aprendizagem no grupo com TB e 10% no grupo controle de acordo com a DSM-IV; 58% de Transtorno Específico de Aprendizagem no grupo com TB e 13 % no grupo controle de acordo com o DSM-5. Os resultados indicam um aumento de 28.8% (p<0,001) na prevalência estimada de Transtorno Específico de Aprendizagem em crianças e adolescentes com Transtorno Bipolar comparando os critérios diagnósticos do DSM-IV com os do DSM-5, o resultado foi similar no grupo controle. Comparando as neuroimagens funcionais entre o grupo com Transtorno Bipolar e o grupo com Transtorno da Matemática comórbido observou-se diferença significativa no volume no giro do cíngulo cingulado direito (p = 0,01), mas não na anisotropia fracional (p = 0,75), não foi detectada diferença significativa nas terminações parietais do fascículo longitudinal superior esquerdo (p = 0,14), mas foi observada uma tendência para sua anisotropia fracional (p = 0,07). Encontramos uma diferença significativa tanto no volume (p = 0,001) quanto na anisotropia fracional (p = 0,04) nas terminações parietais do fascículo longitudinal superior esquerdo. Os indivíduos com Transtorno Bipolar e Transtorno da Matemática apresentaram menor volume, e maior anisotropia facional do que os grupos com Transtorno Bipolar apenas. Conclusões: As mudanças nos critérios diagnósticos de Transtorno Específico de Aprendizagem propostos no DSM-5 acarretou alterações nos critérios de inclusão e exclusão dos sujeitos, causando aumento na taxa de prevalência de Transtorno Específico de Aprendizagem na amostra referida. As neuroimagens funcionais indicaram que os sujeitos com Transtorno Bipolar e Transtorno da Matemática tem volumes menores e maior anisotropia fracional nas terminações parietais do fascículo longitudinal superior esquerdo, sugerindo mielinização anormal, déficits microscópios de estrutura saxonais ou diminuição de diâmetro axonal, densidade e ramificação nesses feixes.

Objectives: To assess the changes in the prevalence rates of Specific Learning Disorders in the transition from DSM-IV to DSM-5 criteria in children and adolescents with Bipolar Disorder (BD) and controls and to identify differences in the brain structures of children and adolescents with BD and Comorbid Mathematical Disorder Methods: Cross-sectional study between children and adolescents (n=100) diagnosed with BD (n=60) between 6 and 17 years-old and tipically developing controls (n=40). Subjects underwent psychiatric, neuropsychological, and learning assessments. Learning difficulties were classified according to DSM-IV and DSM-5 diagnostic criteria. Concordance rates were calculated. In the study of functional neuroimaging, children and adolescents (n = 29) attended the Bipolar Children and Adolescents Program of the Hospital de Clínicas of Porto Alegre, Brazil. The group of cases was composed of participants (n = 10) who had comorbid Bipolar Disorder and Mathematics Disorder. The control group was composed of participants (n = 19) who had BD diagnosis only. MRI and DTI images were acquired on the Philips Achieva 1.5 T full body scanner at the Hospital de Clínicas in Porto Alegre, using an eight-channel skull coil for signal reception. Results: We detected DSM-IV Learning Disorders (LD) in 45% of children and adolescents with BD, and in 10% of the control subjects. DSM-5 Specific Learning Disorders (SLD) prevalence was 58% in patients with BD, and 13% in the control group. Our results suggest an alarming 28.8% (p<0.001) increase in the expected prevalence of SLD among children and adolescents with BD, comparing DSM-IV to DSM-5 criteria, and a similar increase in controls. Comparing the images between the group with Bipolar Disorder and the group with comorbid Mathematics Disorder We found no significant difference in the measures of total CC volumes (p=0.98) between subjects with BD who presented or not the comorbidity with MD. When we compared the volumes and fractional anisotropies of different bundles, we did not find any significant difference between the groups in both volumes and FA of the left and right anterior thalamic radiations (all p>0.2), left cingulum-cingulate gyrus (p>0.38). We observed a significant difference between groups in the volume of the right cingulum-cingulate gyrus (p=0.01), but not in the FA (p=0.75), No significant difference was detected in the volume of the left superior longitudinal fasciculus-temporal terminations (p=0.14), but a trend for its FA was observed (p=0.07). We found a significant difference in both volume (p=0.001) and FA (p=0.04) in the left superior longitudinal fascículos parietal terminations. The subjects with BD and Mathematics Disorder presented a smaller volume, and a higher fractional anisotropy than the groups with BD alone. Conclusions: High rates of LD are observed in youth with BD, independently of the comorbidity of with ADHD. The proposed changes in the SLD diagnostic criteria with DSM-5 led to significantly increased SLD prevalence rates. Assessment of learning disorders should be part of the standardized evaluation of bipolar disorders in children and adolescents. Functional Neuroimaging indicated that subjects with Bipolar Disorder and Mathematics Disorder has lower volumes and higher fractional anisotropy in the left superior longitudinal fasciculus parietal terminations, suggesting abnormal myelination, microscopic deficits of axonal 10 structures or decreases in axonal diameter, packing density, and branching in these bundles.