Docência compartilhada nas totalidades iniciais da EJA : um olhar sob a perspectiva da educação popular

Abstract

Este trabalho, de abordagem qualitativa, teve como objetivo refletir, considerando alguns princípios da Educação Popular, sobre as possibilidades e desafios da docência compartilhada na Educação de Jovens e Adultos (EJA) apontados nas falas de professoras e estagiárias de turmas de Totalidades Iniciais. As motivações para a escolha e desenvolvimento desta pesquisa estão relacionadas à experiência de estágio realizado em uma turma de EJA, por meio da docência compartilhada no primeiro semestre de 2014. Este trabalho de conclusão fundamentou-se em Brandão (2006; 2005) e Freire (2006) compreendendo a Educação Popular como uma concepção educativa que visa à reflexão sobre o caráter político do ensinar e do aprender, na concretização de alternativas para a transformação social e que esta se dá a partir do diálogo horizontal entre educadores e educandos. Pensar a docência sob este viés é pensar no trabalho coletivo, portanto considera-se a docência compartilhada como uma destas possibilidades. Neste sentido compreendemos que compartilhar a docência não só diz respeito aos educadores, mas também aos educandos. A metodologia adotada tem inspiração na pesquisa-formação (JOSSO, 2004), pois tanto a pesquisadora como as investigadas lançam um olhar sobre a sua trajetória como profissionais ou profissionais em formação. Para o corpus de análise foram realizadas entrevistas individuais e grupais, a partir de tópicos-guia pré-estabelecidos (GASKELL, 2002) com professoras e estagiárias que atuam/atuaram em docência compartilhada na EJA em uma escola da rede municipal de Porto Alegre. Partindo dos princípios partilha, diálogo e autoridade, foi possível refletir sobre esta ação pedagógica como uma importante alternativa que qualifica o trabalho na EJA. Identificou-se que partilhar a docência possibilita também, trocas entre as professoras e entre essas e os educandos, a autonomia e incentivo ao trabalho coletivo, em consonância com pressupostos da Educação Popular. Entre os desafios, podemos considerar a necessária sensibilidade às falas do outro para se estabelecer um diálogo mais horizontal; e a clareza dos princípios que envolvem a EJA e a docência compartilhada, para que não seja uma opção de “parceria” para facilitar o trabalho, mas sim de companheirismo, a fim de “fazer com” e não se acomodar com as rotinas escolares.