Neoplasia renal em pacientes transplantados renais

Abstract

Introdução: Com o avanço da terapia de substituição renal e do transplante renal no mundo e no nosso meio, houve um aumento significativo na expectativa de vida dos pacientes com doença renal dialítica e dos receptores de transplante renal (RTR). Nesse contexto, cada vez mais, as neoplasias vêm representando uma causa importante de morbimortalidade nesse grupo de pacientes. Além disso, sabe-se que a imunossupressão é um fator de risco para o desenvolvimento de diversas neoplasias, dentre as quais destaca-se o tumor renal como o tumor de órgão sólido de maior incidência. Diante disso, este estudo visa avaliar a incidência do carcinoma de células renais (CCR) em pacientes RTR do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) com vistas a entender melhor o perfil epidemiológico do nosso meio e os fatores de risco para o desenvolvimento dessa patologia. Métodos: Foi realizado um estudo observacional retrospectivo através da revisão de prontuário eletrônico. Os pacientes elegíveis ao estudo foram selecionados a partir de queries. Foram incluídos todos os pacientes RTR diagnosticados com CCR entre 01 de janeiro de 2010 e 01 de janeiro de 2024. Dos pacientes incluídos, foram analisadas as seguintes variáveis: Gênero, idade atual, idade no transplante, tempo em diálise, uso de imunossupressores, momento do diagnóstico do CCR (pré ou pós transplante), tempo entre o transplante o diagnóstico, presença de tumor no enxerto, grau histológico, estadiamento patológico, progressão de doença e óbito. Por se tratar de um estudo puramente epidemiológico, não foi realizada comparação entre subgrupos. Resultados: Dos 1600 pacientes RTR, foram selecionados 23 pacientes para o estudo, após revisão do prontuário eletrônico. Conforme esperado, a maioria dos pacientes apresentou um tempo longo em diálise previamente ao transplante (média de 50,9 meses), corroborando com os dados da literatura que indicam ser um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do CCR. A média de tempo entre o transplante renal (TR) e o diagnóstico do CCR também foi bastante elevada (62,3 meses), o que também vai ao encontro dos dados da literatura em relação ao tempo de exposição a drogas imunossupressoras como fator de risco importante para o desenvolvimento dessa patologia nos RTR. Conclusão: O estudo realizado evidencia o papel do tempo em diálise e o tempo de uso de drogas imunossupressoras como fatores de risco importantes para o desenvolvimento de CCR nos RTR. Novos estudos deverão ser realizados para avaliar o impacto de outras variáveis, bem como desenvolver estratégias para a prevenção da doença na população de doentes renais terminais e RTR.

Introduction: With the advancement of renal replacement therapy and kidney transplantation worldwide and in our country, there has been a significant increase in the life expectancy of patients with dialysis-related kidney disease and kidney transplant recipients (KTR). In this context, neoplasms have increasingly represented an important cause of morbidity and mortality in this group of patients. In addition, it is known that immunosuppression is a risk factor for the development of several neoplasms, among which renal tumor stands out as the most prevalent solid organ tumor. Therefore, this study aims to evaluate the incidence of renal cell carcinoma (RCC) in KTR patients from the Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) in order to better understand the epidemiological profile of our sample and the risk factors for the development of this pathology. Methods: A retrospective observational study was carried out through the review of electronic medical records. Patients eligible for the study were selected from queries. All KTR patients diagnosed with RCC between January 1, 2010 and January 1, 2024 were included. Of the patients included, the following variables were analyzed: gender, current age, age at transplant, time on dialysis, use of immunosuppressants, time of RCC diagnosis (pre or post transplant), time between transplant and diagnosis, presence of tumor in the graft, histological grade, pathological staging, disease progression and death. Because this is a purely epidemiological study, no comparison between subgroups was performed. Results: Of the 1600 KTR patients, 23 patients were selected for the study, after review of the electronic medical record. As expected, most patients had a long time on dialysis prior to transplantation (mean of 50.9 months), corroborating the data in the literature that indicate that it is one of the main risk factors for the development of RCC. The mean time between kidney transplantation and RCC diagnosis was also quite high (62.3 months), which is also in line with data in the literature regarding the time of exposure to immunosuppressive drugs as an important risk factor for the development of this pathology in KTR. Conclusion: The study highlights the role of time on dialysis and time of use of immunosuppressive drugs as important risk factors for the development of RCC in KTR. Further studies should be conducted to evaluate the impact of other variables, as well as to develop strategies for disease prevention in the population of end-stage renal patients and KTR.