Solidão como sintoma associado e indicador de gravidade no transtorno depressivo maior em jovens

Abstract

A depressão entre jovens tornou-se uma preocupação crítica de saúde pública devido ao aumento de sua prevalência e aos impactos duradouros nas esferas pessoal, social e funcional. O Transtorno Depressivo Maior (TDM) é uma síndrome clínica complexa caracterizada por disfunções em diversas dimensões, mas os critérios diagnósticos atuais, como os definidos pelo DSM-5-TR, podem não capturar plenamente sua natureza multifacetada. Nesse contexto, a solidão - sentimento subjetivo de desconexão social - tem emergido como um sintoma de destaque nos últimos anos. Apesar de sua ausência nos critérios formais de diagnóstico, a solidão foi identificada como fator de risco para transtornos mentais e físicos, além de mortalidade, e estudos sugerem uma relação bidirecional entre solidão e depressão. Além disso, estudos qualitativos e quantitativos posicionam a solidão como um sintoma central da síndrome depressiva. Este estudo investiga o papel da solidão no TDM, examinando sua estrutura latente dentre os sintomas depressivos, sua centralidade em uma rede de sintomas e sua validade preditiva comparada a outros sintomas desse transtorno. Além disso, explora se a solidão atua como um indicador de gravidade da depressão, comparando grupos clínicos que apresentam ou não esse sintoma. Com base em dados de 1.905 adolescentes e adultos jovens, com idades entre 14 e 23 anos, provenientes de escolas públicas de Porto Alegre e São Paulo, coletados por meio de entrevistas estruturadas e checklists de sintomas, este estudo hipotetiza que: 1) a solidão será parte do construto e central na rede de sintomas depressivos; 2) a solidão terá valor preditivo independente de outros sintomas; e 3) a solidão será um marcador de maior gravidade da depressão. Ao avaliar sintomas além dos que estão entre os critérios diagnósticos da síndrome depressiva, esta pesquisa busca ampliar a compreensão das manifestações clínicas do TDM, especialmente entre jovens brasileiros, avaliando o potencial da solidão como parte integrante dessa síndrome clínica.

Depression among young individuals has become a critical public health concern due to its increasing prevalence and long-lasting impacts on personal, social, and functional domains. Major Depressive Disorder (MDD) is a complex clinical syndrome characterized by impairments across various dimensions, yet current diagnostic criteria, such as those outlined in the DSM-5-TR, may fail to fully encompass its multifaceted nature. Notably, loneliness—a subjective feeling of social disconnection—has emerged as a significant symptom of interest in recent years. Despite its absence from formal diagnostic frameworks, loneliness has been identified as a risk factor for mental and physical health disorders and even mortality, and evidence suggests a bidirectional relationship with depression. Moreover, qualitative and quantitative studies position loneliness as a central symptom of depressive syndrome. This study investigates the role of loneliness in MDD by examining its latent structure within depressive symptoms, its centrality in symptom networks, and its predictive validity relative to other symptoms. Additionally, it explores whether loneliness serves as an indicator of depression severity by comparing clinical groups with and without this symptom. Using data from 1,905 adolescents and young adults aged 14–23 from public schools in Porto Alegre and São Paulo, collected through structured interviews and symptom checklists, the study hypothesizes that: 1) loneliness will be part of the latent depression construct and is central to the depressive symptom network; 2) loneliness will have predictive value independent of other depressive symptoms; and 3) loneliness will be a marker of greater depression severity. By evaluating symptoms beyond those in existing diagnostic frameworks, this research aims to enhance the understanding of MDD's clinical manifestations, particularly among Brazilian youth, and assess the potential value of incorporating loneliness into this clinical syndrome.