A ampliação do conceito de intencionalidade : a intencionalidade de fluxo (Stromintentionalität) na Fenomenologia de Husserl

Abstract

Discutirei neste artigo o que conduziu Husserl a ampliar o seu primeiro modelo de intencionalidade, o modelo apreensão-conteúdo de apreensão (modelo da intencionalidade de ato), exposto inicialmente em Investigações lógicas. Procurarei mostrar que o conceito de intencionalidade de fluxo (Stromintentionalität) amplia o próprio conceito de intencionalidade, incialmente compreendido apenas como intencionalidade de ato. Mostrarei também que esta ampliação do conceito de intencionalidade implica em uma mudança de descrição fenomenológica da consciência, de uma análise estática à uma análise genética da consciência. Com isso, procurarei trazeruma contribuição à discussão feita por intérpretes de Husserl quanto ao abandono do modelo de constituição apreensão-conteúdo de apreensão. Aposição que defendo é que Husserl abandona tal modelo intencional apenas para descrever as camadas mais profundas da constituição intencional, mas ainda utiliza tal modelo de intencionalidade de ato para descrever as camadas superficiais da constituição intencional (operadas por atos como recordação e expectativa).

In this article I will discuss what led Husserl to expand his first model of in-tentionality, the apprehension-content of apprehension model (act intentio-nality model), initially exposed in Logical Investigations. I aim to show thatthe concept of flow intentionality (Stromintentionalität) extends the veryconcept of intentionality, initially understood only as the intentionality of anact. I will also show that this expansion of the concept of intentionality im-plies a change in the phenomenological description of consciousness, from astatic analysis to a genetic analysis of consciousness. Therewith, I intend tocontribute to the discussion made by Husserl’s interpreters regarding theabandonment of the apprehension-content model of constitution. The position I hold is that Husserl abandons such an intentional model only to describe the deeper layers of the intentional constitution, but he still uses a corres-ponding act intentionality model to describe the superficial layers of the intentional constitution (operated by acts such as remembering and expectati-on).