A Hungria como laboratório de conservadorismo : a pauta antigênero nas políticas sociais e na política externa de Viktor Orbán

Abstract

Esta pesquisa analisa as dinâmicas de gênero presentes no projeto político interno e externo de Viktor Orbán. O governo de Orbán constitui-se como um caso paradigmático da consolidação da direita radical populista, há 14 anos no poder. Um aspecto característico de sua agenda política é a constituição de uma política familiar robusta e, mais recentemente, a incorporação de legislações discriminatórias a minorias sexuais e de gênero. Ao mesmo tempo, Orbán busca se posicionar como líder europeu e internacional na defesa da família tradicional. Assim, a pesquisa tem como objetivo geral responder à indagação sobre o papel que a temática de gênero exerce na orientação de políticas domésticas e na articulação discursiva em política externa no governo de Viktor Orbán. A hipótese proposta é de que a defesa da família, a partir de uma concepção tradicional e exclusivista, é central para a orientação das políticas do governo e para a transmissão de uma identidade conservadora em política externa. Em termos específicos, o trabalho expõe e discute o aporte teórico e conceitual da pesquisa; explora o contexto, a cronologia e a consolidação das principais políticas sociais, institucionais e legislativas do governo Orbán; e analisa os discursos de política externa de Orbán proferidos em eventos conservadores. Como abordagem metodológica, utiliza-se a Análise de Conteúdo qualitativa para investigar 14 discursos de política externa de Orbán de 2017 a 2024 em congressos pró-família, em um evento vinculado à ultradireita norte-americana; e em um evento intelectual transfronteiriço. Na análise, concluiu-se que Orbán enfoca a defesa da família tradicional, etnicamente húngara e heteronormativa como forma de afirmar uma identidade conservadora à Hungria, que se desdobra nos discursos no desempenho dos papéis antiglobalista, nacionalista e antagonista em política externa e na busca por aliados ideológicos. As categorias analíticas de gênero adotadas na pesquisa, o nativismo natalista e a retórica antigênero, confluem para a identidade familista da Hungria de Orbán, reforçando esses papéis.

This research examines the gender dynamics present in Viktor Orbán's internal and external political project. Orbán's government represents a paradigmatic case of the consolidation of radical populist right-wing politics, having been in power for 14 years. A defining characteristic of his political agenda is the establishment of a robust family policy and, more recently, the introduction of discriminatory legislation targeting sexual and gender minorities. At the same time, Orbán aims to position himself as a European and international leader in defending the traditional family. Thus, the general objective of this research is to address the question of the role gender issues play in the orientation of domestic policies and in the discursive articulation of foreign policy under Viktor Orbán's government. The proposed hypothesis is that the defense of the family, based on a traditional and exclusivist conception, is central to the direction of the government's policies and to the transmission of a conservative identity in foreign policy. Specifically, the study outlines and discusses the theoretical and conceptual framework of the research; explores the context, chronology, and consolidation of the main social, institutional, and legislative policies of Orbán’s government; and analyzes Orbán’s foreign policy speeches delivered at conservative events. The methodological approach used is qualitative Content Analysis to investigate 14 foreign policy speeches by Orbán from 2017 to 2024, delivered at pro-family congresses, an event linked to the U.S. far-right, and a cross-border intellectual gathering. The analysis concludes that Orbán emphasizes the defense of the traditional, ethnically Hungarian, and heteronormative family as a means of asserting a conservative identity for Hungary, which unfolds in his foreign policy discourse through the performance of anti-globalist, nationalist, and antagonist national role conceptions, as well as in his search for ideological allies. The gendered analytical categories adopted in this research, represented by natalist nativism and anti-gender rhetoric, converge to reinforce Orbán's familist identity for Hungary, thereby reinforcing these roles.