À flor da pele : estratégias baseadas em DBT para manejo de desregulação emocional no autismo : um relato de caso

Abstract

Introdução: O transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno de neurodesenvolvimento caracterizado por atrasos nos marcos de neurodesenvolvimento associados a déficits na reciprocidade social, padrões rígidos e repetitivos ocasionando prejuízo clinicamente perceptível. Dentre as pessoas com TEA sem deficiência intelectual, a prevalência de Crises de Autolesão Sem Ideação Suicida (CASIS) e Ideação Suicida é cerca de 3,75 vezes maior do que a população geral. Tais episódios podem estar associados a padrões rígidos de comportamento. As CASIS e as crises suicidas estão presentes em diversos diagnósticos. Considerando a abordagem transdiagnóstica bem como semelhanças e particularidades do TEA, esse estudo tem como objetivo relatar, à luz da teoria, a aplicação de intervenções psicoterápicas da Terapia Comportamental Dialética (DBT), considerada padrão-ouro para manejo de crises no Transtorno de Personalidade Borderline (outra condição caracterizada pelo risco crônico de suicidio), em paciente com autismo, para manejo de crise suicida. Relato de caso: É descrito um caso de uma adulta jovem, 18 anos, com diagnóstico de autismo, cujas intervenções da DBT foram realizadas entre os 17 e 18 anos da paciente para manejo de crises suicidas e CASIS. São descritas estratégias utilizadas, e avaliadas pela paciente, como mais efetivas no manejo de tais crises, bem como uma análise em cadeia de comportamento de crise na vinheta clínica. Discussão: Presente em até 60% das crianças com autismo27, a desregulação emocional é um constructo transdiagnóstico, podendo estar presente em múltiplas condições e há evidências que diferentes condições com esta apresentação responda de forma semelhante às mesmas intervenções. Levando-se em consideração as estratégias mais eficazes para manejo da desregulação emocional, são dignas de nota as psicoterapias cognitivo-comportamentais de terceira onda, como DBT e a terapia de aceitação e compromisso, as quais incluem mindfulness em seu construto30. Conclusões: A desregulação emocional em pessoas com autismo está associada a maior prevalência de comorbidades, tais como ansiedade e depressão, além de contribuir para maiores episódios de autolesão sem intencionalidade suicida e tentativa de suicidio. Estratégias dentro da TCC e DBT parecem ser estratégias efetivas para manejo de desregulação emocional em pacientes com QI preservado. Se faz necessário, contudo, o desenvolvimento de mais pesquisas com tamanho amostral maiores e que realizem algum período de follow-up, bem como a descrição de estratégias empregadas para regulação emocional.

Introduction: Autism Spectrum Disorder (ASD) is a neurodevelopmental disorder characterized by delays in neurodevelopmental milestones associated with deficits in social reciprocity, rigid and repetitive patterns of behavior and clinically perceptible impairment. Among people with ASD without intellectual disability, the prevalence of Crises of Self-Injury Without Suicidal Ideation (CASIS) and Suicidal Ideation is around 3.75 times higher than in the general population. Such episodes can be associated with rigid patterns of behavior. CASIS and suicidal crises are present in several diagnoses. Considering the transdiagnostic approach, similarities and particularities of ASD, this study aims to report, in the light of theory, the application of psychotherapeutic interventions from Dialectical Behaviour Therapy (DBT), the gold standard for crisis management in Borderline Personality Disorder (another condition characterized by a chronic risk of suicide), in a patient with autism for the management of a suicidal crisis. Case report: This is a case of a young adult, 18 years old, diagnosed with autism, whose DBT interventions were carried out between the patient's 17th and 18th birthdays to manage suicidal crises and CASIS. Strategies used, evaluated by the patient, as most effective in the management of such crises are described, as well as a chain analysis of crisis behavior in the clinical vignette. Discussion: Present in up to 60% of children with autism, emotional dysregulation is a transdiagnostic construct that can be present in multiple conditions and there is evidence that different conditions with this presentation respond similarly to the same interventions. Considering the most effective strategies for managing emotional dysregulation, third-wave cognitive-behavioral psychotherapies such as DBT and acceptance and commitment therapy, which include mindfulness in their construct, are noteworthy. . Conclusions: Emotional dysregulation in people with autism is associated with a higher prevalence of comorbidities such as anxiety and depression, as well as contributing to greater episodes of unintentional self-injury and suicide attempts.Strategies within CBT and DBT seem to be effective strategies for managing emotional dysregulation in patients with preserved IQ. It is necessary, however, to develop further studies with a larger sample size and some follow-up period, as well as to describe the strategies used for emotional regulation.