Funcionalidade, fragilidade e qualidade de vida de pacientes submetidos à cirurgia cardiovascular

Abstract

Introdução: A cirurgia cardiovascular (CC) é um procedimento que visa melhorar a qualidade de vida, sobrevida e reduzir a mortalidade de pacientes cujo tratamento clínico não é suficiente. Por se tratar de um procedimento invasivo de grande porte, é comum o declínio funcional no pós-operatório, principalmente em indivíduos frágeis. Objetivo: Verificar a funcionalidade, fragilidade e qualidade de vida de pacientes submetidos à cirurgia cardiovascular durante a internação e após a alta hospitalar. Métodos: A amostra calculada ficou em 175 pacientes maiores de 18 anos, submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) e/ou troca valvar (CTV) que apresentavam, tanto na condição prévia como no pós-operatório, capacidade de deambulação sem dispositivos auxiliares ou necessidade de apoio externo. Os pacientes foram avaliados no primeiro dia de internação na enfermaria após a cirurgia, na alta hospitalar e em 30 dias após a alta hospitalar. Os dados referentes a internação foram coletados do prontuário e aqueles após a alta hospitalar através de teleconsulta. Foram avaliadas a funcionalidade através das Escala de Katz e Escala de Lawton, a fragilidade pela Escala Clínica de Fragilidade (ECF) e qualidade de vida (QV) pelo SF-12 (12-Item Short-Form Health Survey). Foi realizada análise estatística descritiva, a comparação dos dados foi pelo teste T para amostras pareadas e ANOVA para medidas repetidas. A correlação da fragilidade e funcionalidade com a QV em 30 dias foi avaliada pelo Teste de Correlação de Pearson ou Teste Exato de Fisher quando necessário.Será adotado nível de significância de α ≤ 0,05. Todos incluídos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados: Foram incluídos 54 pacientes submetidos a CC, sendo 21 CRM, 27 CTV e 6 cirurgias combinadas. Houve diferença significativa entre a avaliação da internação e pós-operatório tanto na classificação da funcionalidade pela Katz (p<0,001), quanto da fragilidade pela ECF (p<0,001). A QV no domínio físico (PCS) foi pior (35,28±6,8 pontos) que no mental (MCS) (48,99±12,46 pontos). A PCS foi menor nos paciente frágeis após a alta hospitalar (p=0,02), não havendo diferença com relação aos demais momentos e com a funcionalidade. A PCS teve correlação com a ECF pré (r=-0,317; p=0,02) e pós-operatória (r=-0,385; p<0,01), e a MCS apenas com o a ECF pós-operatória (r=-0,405; p<0,01). Verificou-se maior taxa de reinternação nos indivíduos frágeis (p=0,003), sem apresentar relação com a funcionalidade (p=0,96). Conclusão: Verificamos uma associação negativa da QV com o status de fragilidade, sugerindo que tais pacientes estão mais suscetíveis a piores desfechos de qualidade de vida e reinternação após CC. Sugere-se que sejam traçados medidas individualizadas de pré-habilitação e reabilitação desses pacientes.

Introduction: Open heart surgery (OHS) is designed to improve quality of life, survival, and reduce the mortality of patients whom clinical treatment alone is insufficient. Due to its invasive nature and significant scope, functional decline in the postoperative period is commonly observed, particularly in frail individuals. Objective: To evaluate the functional status, frailty, and quality of life of patients undergoing OHS both during hospitalization and after discharge. Methods: The sample consisted of 175 patients over 18 years, who underwent coronary artery bypass grafting (CABG) and/or valve surgery (VS). Inclusion criteria was to be able to walk independently, without assistive devices or external support, both preoperatively and postoperatively. Assessments were conducted on the first day after surgery, at hospital discharge, and 30 days post-discharge. Data related to hospitalization were obtained from medical records, while post-discharge data were collected through teleconsultation. Functional status was evaluated by the Katz Index and Lawton Scale, frailty was assessed with the Clinical Frailty Scale (CFS), and quality of life (QoL) was measured using the SF-12 (12-Item Short-Form Health Survey). Descriptive statistical analysis was performed, and data comparisons were made using the paired T-test and repeated measures ANOVA. The correlation between frailty, functional status, and QoL at 30 days was analyzed using Pearson's Correlation Test or Fisher's Exact Test, as appropriate. A significance level of α ≤ 0,05 was applied. All participants provided written informed consent. Results: A total of 54 patients who underwent OHS were included, 21 underwent CABG, 27 VS, and 6 were combined procedures. Significant differences were observed between preoperative and postoperative assessments concerning both functional status measured by the Katz Index (p<0,001), and frailty measured by the CFS (p<0,001). QoL in the physical domain (PCS) was lower (35,28±6,8 points) compared to the mental domain (MCS) (48,99±12,46 points). The PCS was significantly lower in frail patients after discharge (p=0,02), no differences were observed at other moments evaluated or in relation to functional status. The PCS showed a negative correlation with preoperative (r=-0,317; p=0,02) and postoperative (r=-0,385; p<0,01) CFS scores, as the the MCS correlated exclusively with postoperative CFS (r=-0,405; p<0,01). Frail individuals had a higher readmission rate (p=0,003), with no correlation to functional status (p=0,96). Conclusion: A negative association between QoL and frailty was identified, indicating that frail patients are more likely to experience poorer outcomes in terms of QoL and higher readmission rates following OHS. It is recommended that individualized prehabilitation and rehabilitation strategies be developed and implemented for these patients.