O desaparecimento da histeria na psiquiatria : uma busca do DSM-I ao DSM-5-TR

Abstract

Contexto: O desenvolvimento e transformação do conceito de histeria ao longo das décadas têm uma longa e complexa história que reflete mudanças nas perspectivas da medicina, cultura e sociedade. Com o progresso científico, o entendimento da histeria começou a se modificar e, o surgimento do sistema classificatório em psiquiatria, Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), influenciou na sistematização do conceito em diagnósticos mais específicos. Método: Revisão das mudanças diagnósticas do conceito de histeria pelas sucessivas edições do DSM até o atual DSM-5-TR. Resultados: O presente estudo identificou 36 citações do termo histeria ao longo das edições do DSM, com importante declínio no número de citações a partir do DSM-III em 1980. No DSM, a histeria nunca foi tratada como uma única condição diagnóstica, como proposto pela psicanálise, mas foi sendo fragmentada em categorias específicas, como os transtornos somatoformes, dissociativos, conversivos e de personalidade. Discussão: O declínio no número das citações pode ser entendido pelos viés do abandono dos conceitos psicanalíticos na psiquiatria a partir do DSM-III além do esforço para diminuir o estigma que a palavra “histeria” carrega. Além disso, o avanço sociocultural influenciou a forma como a histeria se manifesta, podendo ser explicado pelos fenômenos de "desvitorianização" da sociedade e da "alfabetização psicológica". Conclusões: A diminuição das citações do termo “histeria” nos DSMs, a fragmentação do conceito inicial em categorias específicas, e as mudanças na expressão fenomenológica da doença nos ajudam a refletir sobre como os transtornos mentais são moldados pelo contexto histórico e social.

Background: The development and transformation of the concept of hysteria over the decades have a long and complex history that reflects changes in medical, cultural, and societal perspectives. With scientific progress, the understanding of hysteria began to evolve, and the emergence of the classificatory system in psychiatry, the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM), influenced the systematization of the concept into more specific diagnoses. Method: Review of the diagnostic changes in the concept of hysteria throughout the successive editions of the DSM, up to the current DSM-5-TR. Results: This study identified 36 references to the term hysteria across the DSM editions, with a significant decline in mentions starting with DSM-III in 1980. In the DSM, hysteria was never treated as a single diagnostic condition, as proposed by psychoanalysis, but was instead fragmented into specific categories, such as somatoform, dissociative, conversion, and personality disorders. Discussion: The decline in mentions can be understood as a result of the shift away from psychoanalytic concepts in psychiatry beginning with DSM-III, as well as efforts to reduce the stigma associated with the word "hysteria." Additionally, sociocultural advancements influenced how hysteria manifests, which can be explained by the phenomena of the "de-Victorianization" of society and "psychological literacy." Conclusions: The decrease in references to the term "hysteria" in the DSM, the fragmentation of its initial concept into specific categories, and the changes in the phenomenological expression of the condition help us reflect on how mental disorders are shaped by historical and social contexts.