Fenótipo de saúde e fatores de risco nutricional associados à condição pós COVID-19 tardia

Abstract

Introdução: Os sintomas persistentes, conhecidos como síndrome pós-COVID-19 (SPC), representam um desafio global significativo. Este estudo teve como objetivo propor um fenótipo nutricional baseado em indicadores de estado nutricional (EF), ingestão dietética e biomarcadores observados na SPC, relacionado à persistência de sintomas a longo prazo e a pior qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS). Métodos: Os pacientes passaram por avaliação do estado nutricional por antropometria e análise da composição corporal através de Absorciometria de Raios-X de Dupla Energia. Foi também avaliado o consumo alimentar (por meio de recordatório de 3 dias), a taxa metabólica basal (calorimetria indireta) e a força de aperto de mão (FAM, dinamometria manual). As concentrações de biomarcadores IL-6, IL-1B e GDF-8 foram medidas por análise sorológica utilizando o método imunoenzimático. A avaliação de EF foi realizada com a Escala de estado funcional pós COVID-19 (PCFS) e a QVRS pelos instrumentos EuroQol de 5 dimensões , versão de 3 níveis (EQ-5D-3L) e escala visual analógica (EQ-VAS) do grupo EuroQol . Resultados: O estudo incluiu 123 pacientes que receberam alta da unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital público de referência em 2021. A idade média foi de 51,7 ± 13,2 anos, 53% homens e 75% com obesidade. A mediana do número de sintomas de SPC observados foi de 3 (IQ: 2-15). Os resultados indicaram que os pacientes com mais de 3 sintomas apresentaram menor massa magra total (-11,7kg) e apendicular (-5,9kg) e maior percentual de gordura corporal (+5,4%) em comparação ao grupo com menos sintomas relatados (p < 0,001). Os mais sintomáticos apresentaram menor consumo calórico (-233 kcal e 4,27 kcal/kg) e proteico (-20g, -0,17g/kg) que o grupo com relato de sintomas acima da mediana (p<0,005) e piores resultados nas escalas de qualidade de vida: EQ-5D-3L (p<0,001), EQ-VAS (p<0,001) e de estado funcional pós covid: PCFS (p=0,010). Os biomarcadores não se associaram ao número de sintomas. O modelo multivariado mostrou que apenas a FAM se manteve associada a um maior número de sintomas (RP: 0,963, IC95%: 0,931-0,995, p=0,024) e que a FAM e a PCFS foram fatores significativamente associados com as prevalências de prejuízo de QVRS (moderada ou grave) em quatro das cinco dimensões avaliadas pelo EQ-5D-3L. Conclusão: Pacientes mais sintomáticos com SPC apresentaram pior EF associado a pior QVRS, um fenótipo nutricional de menor massa magra e força, menor consumo calórico-proteico e maior massa adiposa, sendo a FAM uma variável independente para essa associação.

Background:Persistent symptoms, known as post-COVID-19 syndrome (PCS), represent a significant global challenge. This study aimed to propose a nutritional phenotype based on nutritional status indicators (NS), dietary intake, and biomarkers observed in PCS, related to the persistence of long-term symptoms and poorer health-related quality of life (HRQoL). Methods: Patients underwent nutritional status assessment through anthropometry and body composition analysis using Dual-energy X-ray Absorptiometry. Dietary intake was evaluated using a 3-day dietary recall, resting metabolic rate through indirect calorimetry, and handgrip strength (HGS) via hand dynamometry. Biomarker concentrations of IL-6, IL-1B, and GDF-8 were measured through serological analysis using the enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) method. NS was assessed using the Post-COVID-19 Functional Status (PCFS) Scale, and HRQoL was evaluated with the EuroQol 5-Dimension 3-Level (EQ-5D-3L) instrument and the EuroQol Visual Analogue Scale (EQ-VAS). Results: The study included 123 patients discharged from the intensive care unit (ICU) of a public referral hospital in 2021. The mean age was 51.7 ± 13.2 years, 53% were male, and 75% had obesity. The median number of PCS symptoms observed was 3 (IQ: 2–15). Results indicated that patients with more than three symptoms had lower total (-11.7 kg) and appendicular (-5.9 kg) lean mass and a higher percentage of body fat (+5.4%) compared to the group with fewer reported symptoms (p < 0.001). More symptomatic patients showed lower caloric intake (-233 kcal and 4.27 kcal/kg) and protein intake (-20 g, -0.17 g/kg) than the group reporting symptoms above the median (p < 0.005) and poorer outcomes on quality of life scales: EQ-5D-3L (p < 0.001), EQ-VAS (p < 0.001), and post-COVID functional status: PCFS (p = 0.010). Biomarkers were not associated with the number of symptoms. The multivariate model showed that only HGS remained associated with a higher number of symptoms (PR: 0.963, 95%CI: 0.931–0.995, p = 0.024), and that HGS and PCFS were significantly associated with the prevalence of HRQoL impairment (moderate or severe) in four out of five dimensions evaluated by EQ-5D-3L. Conclusion: More symptomatic patients with PCS showed poorer NS associated with worse HRQoL, a nutritional phenotype of lower lean mass and strength, lower caloric-protein intake, and higher adipose mass, with HGS as an independent variable for this association.