Educação interprofissional na graduação em saúde : estudo de análise documental em universidade pública do Sul do Brasil

Abstract

Introdução: A Educação Interprofissional (EIP) é uma estratégia educacional que busca a formação colaborativa de profissionais de saúde para promover um cuidado integrado e eficaz. No Brasil, a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) e as Diretrizes Nacionais Curriculares (DCN) enfatizam a importância da EIP para a formação de profissionais capazes de atuar em equipes interdisciplinares. No entanto, a incorporação da EIP nos cursos de graduação ainda enfrenta desafios, tanto na prática educacional quanto na atenção à saúde. Objetivo: Analisar como a EIP é abordada nos projetos pedagógicos de curso (PPC) de graduação em saúde de uma universidade pública do sul do Brasil. Metodologia: Pesquisa de abordagem documental. Foram analisados documentos de acesso aberto – os PPC e as DCN dos dez cursos de graduação da saúde da universidade estudada (Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia e Terapia Ocupacional). A análise dos documentos foi realizada por meio da análise de conteúdo temática, seguindo as etapas de leitura exploratória, pré-análise e análise. Nas etapas de leitura exploratória e pré-análise, foram identificados nos documentos os termos: educação interprofissional; formação interprofissional; interprofissional; interprofissionalidade; colaboração; práticas colaborativas; aprendizagem compartilhada; trabalho em equipe; integração ensino-serviço-comunidade; comunicação interprofissional. Resultados: A análise revelou que, somente as DCN de Farmácia, Odontologia, Psicologia e Terapia Ocupacional mencionam o trabalho em equipe interprofissional. A aplicação efetiva da EIP nos PPC é limitada. A maioria das atividades relacionadas à EIP identificadas estão vinculadas a possibilidade de participação em atividades ofertadas por outros cursos, como disciplinas optativas, eventos, projetos de pesquisa e extensão. Embora o trabalho em equipe seja amplamente reconhecido como essencial em todas as DCN analisadas, a transição para uma prática interprofissional plena ainda está em desenvolvimento. Termos como "multiprofissional" e "interprofissional" são utilizados de maneira inconsistente entre os cursos. Os PPC refletem essa diversidade, com poucos cursos incorporando plenamente a interprofissionalidade e mencionando competências colaborativas, como observado apenas no curso de Odontologia. Conclusão: Apesar dos avanços na inclusão da EIP nos PPC dos cursos de saúde, a implementação prática ainda é incipiente e enfrenta desafios conceituais e estruturais. Para que a EIP seja efetivamente incorporada na formação dos profissionais de saúde, é necessário um esforço contínuo de atualização dos PPC e maior integração das atividades de EIP no currículo dos cursos.

Introduction: Interprofessional Education (IPE) is an educational strategy aimed at the collaborative training of healthcare professionals to promote integrated and effective care. In Brazil, the implementation of the Brazilian National Health System (SUS) and the National Curricular Guidelines (DCN) emphasize the importance of IPE in the training of professionals capable of working in interdisciplinary teams. However, the incorporation of IPE in undergraduate programs still faces challenges, both in educational practice and in healthcare delivery. Objective: To analyze how IPE is addressed in the pedagogical course projects (PPC) of health undergraduate programs at a public university in southern Brazil. Methodology: This research uses a documentary approach. Open-access documents were analyzed—specifically, the PPCs and DCNs of the ten health undergraduate programs at the university studied (Physical Education, Nursing, Pharmacy, Physiotherapy, Medicine, Veterinary Medicine, Nutrition, Dentistry, Psychology, and Occupational Therapy). Document analysis was conducted through thematic content analysis, following the steps of exploratory reading, pre-analysis, and analysis. In the exploratory reading and pre-analysis stages, the following terms were identified in the documents: interprofessional education; interprofessional training; interprofessional; interprofessionality; collaboration; collaborative practices; shared learning; teamwork; education-service-community integration; interprofessional communication. Results: The analysis revealed that only the DCNs of Pharmacy, Dentistry, Psychology, and Occupational Therapy mention interprofessional teamwork. The effective application of IPE in the PPCs is limited. Most IPE-related activities identified are linked to the possibility of participating in activities offered by other programs, such as elective courses, events, research, and extension projects. Although teamwork is widely recognized as essential in all the DCNs analyzed, the transition to full interprofessional practice is still under development. Terms like "multiprofessional" and "interprofessional" are used inconsistently across programs. The PPCs reflect this diversity, with few programs fully incorporating interprofessionality and mentioning collaborative competencies, as observed only in the Dentistry program. Conclusion: Despite progress in the inclusion of IPE in the PPCs of health programs, practical implementation remains incipient and faces conceptual and structural challenges. For IPE to be effectively incorporated into the training of healthcare professionals, a continuous effort to update the PPCs is necessary, along with greater integration of IPE activities into the curricula of these programs.