Influência de parâmetros antropométricos e de composição corporal no prognóstico de pacientes com insuficiência cardíaca

Abstract

Estudos recentes avaliam o impacto prognóstico da composição corporal, com objetivo de investigar o papel da massa gorda e massa magra no prognóstico de pacientes com insuficiência cardíaca (IC). Métodos práticos e acessíveis são necessários para uma avaliação mais precisa, e é fundamental analisar as evidências publicadas para avançar o conhecimento nessa área. Realizamos dois estudos: o primeiro, uma coorte avaliando o impacto da composição corporal através de parâmetros antropométricos na sobrevida de pacientes com IC, considerando diferenças entre homens e mulheres; e o segundo estudo é uma revisão sistemática e metaanálise para avaliar a relação entre diferentes parâmetros da composição corporal com sobrevida geral em pacientes com IC. No estudo de coorte, foram aferidos o índice de massa corporal (IMC), a prega cutânea tricipital (PCT, representando gordura subcutânea) e a área muscular do braço (AMB, representando massa muscular) em pacientes com IC crônica. Na revisão sistemática, cinco bases de dados foram consultadas até janeiro de 2024 para investigar o papel prognóstico de parâmetros da composição corporal na sobrevivência de pacientes com IC. Foram 741 pacientes incluídos no estudo de coorte. A taxa de mortalidade em até 5 anos de acompanhamento foi de 41%. Na análise por sexo, baixo-IMC (HR 1,74; IC95% 1,10-2,76) e baixa-PCT (HR 2,30; IC95% 1,45-3,67) foram associados a pior prognóstico apenas em mulheres. A baixa-AMB foi associada a maior risco de mortalidade tanto em mulheres (HR 1,55; IC95% 1,00-2,40) quanto em homens (HR 1,35; IC95% 1,01-1,79). A revisão sistemática incluiu 39 estudos de coorte totalizando 36.176 pacientes com IC, analisando 21 estudos quantitativamente. A baixa massa muscular foi o parâmetro com maior impacto prognóstico em pacientes com IC (HR: 1,65; IC 95% 1,29-2,12; I2 = 45%). Elevada massa gorda (HR: 0,84; IC 95% 0,74-0,96, I2=58%) e baixos níveis de massa livre de gordura (HR: 1,32; IC 95% 1,10-1,59; I2 = 61%) também foram fatores prognósticos, embora seja encontrada alta heterogeneidade entre os estudos. Adiposidade abdominal não mostrou associação significativa com risco de mortalidade. Em conclusão, os parâmetros antropométricos evidenciaram impacto diferente da composição corporal entre homens e mulheres com IC. Enquanto a PCT emerge como um marcador prognóstico robusto exclusivamente para mulheres, a AMB está associada ao prognóstico em ambos os sexos, sendo o único fator independente nos homens. A revisão sistemática destaca a importância prognóstica da massa muscular na IC; a baixa massa muscular se destaca como um preditor mais robusto em diferentes subgrupos e através de métodos de avaliação mais confiáveis.

Recent studies evaluate the prognostic impact of body composition, aiming to investigate the role of fat and lean mass in the prognosis of patients with heart failure (HF). Practical and accessible methods are needed for more accurate assessment, and it is essential to analyze published evidence to advance knowledge in this area. Two studies were planned: the first, a cohort study evaluating the impact of body composition through anthropometric parameters on the survival of patients with HF, considering differences between men and women; and the second, a systematic review and meta-analysis to assess the association between different body composition parameters and overall survival in HF patients. In the cohort study, body mass index (BMI), tricipital skinfold thickness (TSF – representing subcutaneous fat) and mid-arm muscle area (MAMA – representing muscle mass) were measured in chronic HF patients. In the systematic review, five databases were searched up to January 2024 to investigate the prognostic role of body composition parameters on survival in HF. A total of 741 patients were included in the cohort study. The 5-year mortality rate was 41%. In the sex-specific analysis, low-BMI (HR 1.74; 95% CI 1.10-2.76) and low-TSF (HR 2.30; 95% CI 1.45-3.67) were associated with worse prognosis only in women. Low-MAMA was associated with higher mortality risk in both women (HR 1.55; 95% CI 1.00-2.40) and men (HR 1.35; 95% CI 1.01- 1.79). The systematic review included 39 cohort studies totaling 36.176 HF patients, with 21 studies analyzed quantitatively. Low muscle mass had the greatest prognostic impact in HF patients (HR 1.65; 95% CI 1.29-2.12; I² = 45%). Elevated fat mass (HR 0.84; 95% CI 0.74- 0.96; I² = 58%) and low fat-free mass (HR 1.32; 95% CI 1.10-1.59; I² = 61%) were also prognostic factors, though high heterogeneity was found among the studies. Abdominal adiposity showed no significant association with mortality risk. In conclusion, anthropometric parameters showed different impacts on body composition between women and men. While TSF emerges as a robust prognostic marker exclusively for women, MAMA is associated with prognosis in both sexes, being the only independent factor in men. The systematic review highlights the prognostic importance of muscle mass in HF; low muscle mass stands out as a more robust predictor across different subgroups and through more reliable assessment methods.