Efeito da violência doméstica e familiar contra a mulher sobre a qualidade de vida durante o climatério : estudo transversal

Abstract

Introdução: A menopausa está associada a diversas mudanças físicas e psicológicas na saúde das mulheres, assim como um maior risco de osteoporose e maior mortalidade para doenças cardiovasculares. A sintomatologia do climatério é abrangente, podendo variar na sua frequência e intensidade, estando geralmente associada a menor qualidade de vida. Logo, compreender os fatores relacionados a uma pior sintomatologia se faz necessário para auxiliar na recuperação de saúde dessas mulheres. Sabe-se que mulheres que já sofreram violência apresentam sintomatologias semelhantes ao do climatério, porém pouco se sabe como a violência doméstica está relacionada a sintomatologia específica do climatério e outros aspectos da saúde de mulheres menopáusicas. Objetivos: Avaliar e comparar a violência doméstica e familiar em mulheres climatéricas (pré-, peri- e pós-menopáusicas) no âmbito da qualidade de vida. Métodos: Por meio de questionário online elaborado no sistema REDCap, mulheres com 40 a 65 anos, residentes no estado do Rio Grande do Sul – Brasil, responderam um questionário autoaplicável, no período de março e outubro de 2023, sobre sua saúde geral e aspectos sociodemográficos, sintomas da menopausa, qualidade de vida, função sexual, violência doméstica e familiar, aspectos da saúde mental, atividade física e hábitos e comportamento alimentar. As mulheres foram classificadas conforme os critérios de STRAW+10. Os dados quantitativos foram apresentados como média ou intervalo interquartil e os qualitativos em números absolutos (n) e frequências (%). Os testes Kruskal-Wallis ou qui-quadrado, com resíduos ajustados, foram utilizados para comparação entre os grupos. A correlação de Spearman foi utilizada entre as variáveis de violência e sintomas da menopausa, qualidade de vida, função sexual, violência doméstica e familiar, aspectos da saúde mental, atividade física e hábitos e comportamento alimentar. As análises foram realizadas no SPSS versão 29.0 e o índice de significância foi fixado em 5%. Resultados: Da amostra, 38,8% sofreram violência psicológica (38,8%), sexual (34,9%) e física (21,3%). Mulheres pós-menopáusicas que sofreram violência doméstica frequentemente apresentaram os piores desfechos em sua saúde. Sofrer violência doméstica e familiar esteve associado e correlacionado a uma pior sintomatologia do climatério, qualidade de vida, função sexual, ao estresse, ansiedade, depressão, estresse pós-traumático, e piores aspectos dos hábitos alimentares e comportamento alimentar nos diferentes estágios do climatério. Conclusão: Mulheres climatéricas que sofreram violência doméstica e familiar parecem ter diversos aspectos de sua saúde associados a essa vivência. Sugere-se considerar esses eventos adversos na vida das mulheres nos atendimentos em saúde a fim de promover uma melhor qualificação dos serviços e um entendimento mais integral das mulheres.

Introduction: Menopause is associated with various physical and psychological changes in women's health, as well as an increased risk of osteoporosis and higher mortality from cardiovascular diseases. Climacteric symptoms are wide-ranging, varying in frequency and intensity, generally linked to lower quality of life. Therefore, understanding factors associated with more severe symptomatology is crucial to assist these women in recovering their health. It is known that women who have experienced violence exhibit symptoms similar to those of menopause; however, little is known about how domestic violence is related to specific climacteric symptoms and other aspects of menopausal women's health. Objectives: To evaluate and compare domestic and familial violence among climacteric women (pre-, peri-, and post-menopausal) in relation to their quality of life. Methods: Using an online questionnaire developed on the REDCap platform, women aged 40 to 65 years from Rio Grande do Sul state, Brazil, completed a self-administered survey between March and October 2023. The survey covered general health, sociodemographic factors, menopausal symptoms, quality of life, sexual function, domestic and familial violence, mental health aspects, physical activity, and dietary habits. Women were categorized according to the STRAW+10 criteria. Quantitative data were reported as mean or interquartile range, and qualitative data as absolute numbers (n) and percentages (%). Group comparisons were performed using Kruskal-Wallis or chi-square tests with adjusted residuals. Spearman correlation analysis was conducted to examine relationships between violence variables and menopausal symptoms, quality of life, sexual function, domestic and familial violence, mental health, physical activity, and dietary habits. Statistical analyses were carried out using SPSS version 29.0, with the significance level set at 5%. Results: The majority of participants reported experiencing psychological violence (38.8%), followed by sexual (34.9%) and physical violence (21.3%). Post-menopausal women who had encountered domestic violence often exhibited the most adverse health outcomes. Domestic violence was associated and correlated with worse climacteric symptomatology, quality of life, sexual function, stress, anxiety, depression, post-traumatic stress, and poorer aspects of dietary habits and behaviors across different menopausal stages. Conclusion: Climacteric women who have endured domestic violence appear to suffer from multiple compromised aspects of health due to these experiences. It is recommended to address these adverse events in women's lives within healthcare settings to enhance service quality, treatment adherence, and particularly in the promotion and prevention of health issues throughout women's life cycles.