Análise da influência das informações fornecidas durante o processo de discussão de casos de estomatologia à distância na opinião do teleconsultor

Abstract

O Sistema Único de Saúde brasileiro (SUS) é articulado em Redes de Atenção em Saúde (RAS), as quais constituem a Atenção Primária, Secundária e Terciária, a fim de garantir o atendimento integral do indivíduo. O encaminhamento para especialistas devido a presença de lesões bucais é frequente. Esse procedimento requer o preenchimento de um formulário contendo informações a respeito do caso a ser avaliado. A falta de informações consideradas essenciais na descrição de um caso é um ponto crítico neste fluxo, podendo dificultar a classificação de prioridade do caso e contribuir para o atraso no diagnóstico de doenças importantes como o câncer de boca. Neste contexto, a teleodontologia pode servir como uma ferramenta importante para oferecer suporte aos profissionais que atuam na Atenção Primária em Saúde através de consultoria com especialistas. Para contribuir nesta problemática, o Núcleo de Telessaúde do Rio Grande do Sul (Telessaúde/UFRGS) criou o EstomatoNet, um serviço de telediagnóstico em Estomatologia cujo objetivo é oferecer suporte aos profissionais de saúde no que diz respeito ao diagnóstico e tratamento de doenças que se manifestam como lesões na boca, evitando encaminhamentos desnecessários e diminuindo o tempo de espera para agendamento de consulta presencial em serviço especializado. A necessidade de fornecimento de um número excessivo de informações pode levar ao pouco uso dessa ferramenta, por deixar o potencial solicitante desestimulado. Diante dos avanços da tecnologia da informação e a possibilidade de captação de imagens clínicas de lesões bucais de boa qualidade, a quantidade mínima de informações necessárias para uma avaliação à distância é um ponto a ser debatido. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o impacto de informações adicionais enviadas, além das imagens clínicas, durante um processo de telediagnóstico em Estomatologia. Este foi um estudo observacional transversal analítico em que especialistas em Estomatologia, Patologia Bucal e Diagnóstico bucal (n=3) foram convidados a analisar 100 casos clínicos no formato de teleconsultorias. As informações adicionais foram ocultadas e, inicialmente, os participantes avaliaram somente as imagens clínicas de lesões bucais. Para cada caso, havia 03 questionamentos: 1- Hipótese diagnóstica; 2 – Solicitação de dados adicionais além das imagens clínicas (múltipla escolha); 3- Hipótese diagnóstica após ter acesso aos dados adicionais enviados pelo solicitante da teleconsultoria. Foram utilizadas análises descritivas e análises de frequências. A comparação dos examinadores nos dois momentos de avaliação foi analisada pelo Teste-t pareado. A mudança de opinião em relação às hipóteses diagnósticas antes e depois de ter acesso às informações adicionais foi classificada em 4 categorias conforme a concordância com o diagnóstico final definido pela avaliação convencional (presencial): impacto negativo, manutenção da opinião errada, manutenção da opinião certa e refinamento da resposta. O percentual de hipóteses diagnósticas corretas dos examinadores baseados somente nas imagens clínicas variou de 75% a 84%. Não houve diferença estatisticamente significativa no percentual de acertos antes e depois de ter acesso às informações adicionais dos casos clínicos. A informação adicional solicitada mais frequentemente foi “tempo de evolução”. Especialistas são capazes de identificar e inferir hipóteses diagnósticas de lesões bucais no formato de teleconsultoria com um alto percentual de acertos. As informações adicionais não foram essenciais para que os examinadores acertassem o diagnóstico, porém em alguns casos trouxeram benefícios e corroboraram para que a hipótese diagnóstica fosse refinada.

Teledentistry can serve as an important tool to support professionals operating in Primary Health Care through consultations with specialists. The necessity for providing an excessive amount of information may discourage the potential requester from using this tool. Given the advancements in information technology and the ability to capture high-quality clinical images of oral lesions, the minimum amount of information required for remote assessment is a topic for debate. Objective: To evaluate the impact of additional information sent along with clinical images during a telediagnosis process in Oral Medicine. Methodology: This was an analytical cross-sectional observational study wherein specialists in Oral Medicine, Oral Pathology, and Oral Diagnosis were invited to analyze 100 clinical cases in teleconsultation format (n=3). Additional information was concealed, and initially, the participants assessed only the clinical images of oral lesions. For each case, three questions were posed: 1- Diagnostic hypothesis; 2 – Request for additional data beyond clinical images (multiple choice); 3- Diagnostic hypothesis after accessing additional data sent by the requester of the consultation. Descriptive analyses and frequency analyses were employed. Examiner comparison between the two evaluation moments was analyzed using the paired t-test. Changes in opinions regarding diagnostic hypotheses before and after accessing additional information were categorized into four groups based on agreement with the final diagnosis defined by conventional (in-person) evaluation: negative impact, maintaining the wrong opinion, maintaining the correct opinion, and refining the response. Results: The percentage of correct diagnostic hypotheses by examiners based solely on clinical images ranged from 75% to 84%. There was no statistically significant difference in the percentage of correct diagnoses before and after accessing additional information in clinical cases. The most frequently requested additional information was "evolution time." Conclusion: Specialists can identify and infer diagnostic hypotheses of oral lesions in teleconsultation format with a considerable percentage of accuracy. Additional information was not essential for examiners to reach a correct diagnosis; however, in some cases, it provided benefits and supported refining the diagnostic hypothesis.