Doença hepática gordurosa não alcoólica em pacientes bariátricos do HCPA : análise estatística da última década e aplicação de calculadoras de risco para fibrose

Abstract

Introdução: Obesidade é um dos principais fatores de risco para desenvolvimento de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Não há um exame laboratorial ou imaginológico ou teste não-invasivo que promova adequada estratificação da Esteatose e identifique fibrose avançada. Testes preditivos de risco para fibrose hepática baseados em dados clínicos-antropométricos e laboratoriais foram desenvolvidos visando melhor identificar aqueles pacientes com menor chance de apresentarem fibrose avançada, porém, a real efetividade desses testes de rastreamento não-invasivos é desconhecido. Sendo assim, a biópsia hepática, quando indicada, ainda é o meio diagnóstico ideal. Objetivo: Esse estudo buscou determinar variáveis epidemiológicas relacionadas a DHGNA e esteato-hepatite na população submetida a cirurgia bariátrica no Hospital de Clínicas de Porto Alegre em um período de dez anos. Comparar resultados de biópsia hepática transoperatória, realizada rotineiramente, com o resultado de dois escores de risco para fibrose avançada: NAFLD-score (NFS) e FIB-4. Método: Estudo retrospectivo incluindo 368 pacientes submetidos a primeira cirurgia bariátrica no HCPA no período de janeiro de 2013 a dezembro de 2022, provindos do Sistema Único de Saúde. Dos 412 pacientes operados nesse período, foram excluídos 44 pacientes sem exames pré-operatórios registrados em prontuário eletrônico, bem como pacientes sabidamente cirróticos por hepatites virais ou que apresentaram no passado uso abusivo de álcool. Os pacientes foram alocados em grupos conforme os resultados das biópsias em função do grau de fibrose: ausente ou leve e fibrose avançada e esses resultados foram comparados com resultados de testes preditivos para fibrose avançada. Resultado: O teste NAFLD-score teve correlação adequada com os resultados das biópsias e condizente com literatura internacional. A acurácia em predizer o paciente que não viria a apresentar fibrose na análise da biópsia foi de 39%. O teste FIB-4 não apresentou nenhum resultado preditivo positivo para fibrose hepática nessa população. Os fatores de risco para fibrose foram Diabetes Melittus, valor de TGO e TGP e contagem de plaquetas, e não houve diferença entre gêneros ou correlação com idade. Conclusão: Os testes preditivos de fibrose hepática podem ter boa aplicabilidade em predizer o paciente com menor risco de apresentar fibrose na população obesa e assim diminuir custos e riscos relacionados ao procedimento.

Introduction: Obesity is one of the main risk factors for developing non-alcoholic fatty liver disease (NAFLD). There is no laboratory or imaging exam or non-invasive test that promotes adequate stratification of Steatosis and identifies advanced fibrosis. Predictive risk tests for liver fibrosis based on clinical-anthropometric and laboratory data were developed to better identify those patients with a lower chance of presenting advanced fibrosis, however, the real effectiveness of these non-invasive screening tests is unknown. Therefore, liver biopsy, when indicated, is still the ideal diagnostic method. Objective: This study sought to determine epidemiological variables related to NAFLD and Steatohepatitis in the population undergoing bariatric surgery at the Hospital de Clínicas de Porto Alegre over a period of ten years. Results of routine intraoperative liver biopsy performed in this population were compared with the results of two risk scores for advanced fibrosis: NAFLD-score (NFS) and FIB-4. Method: Retrospective study including 368 patients who underwent bariatric surgery at HCPA from January 2013 to December 2022, from the Unified Health System. Of the 412 patients operated during this period, 44 patients without pre-operative exams recorded in the electronic medical record were excluded , also patients known to have cirrhosis due to viral hepatitis or who had previously abused alcohol. Patients undergoing revision surgeries or previous bariatric procedures were also not included. Patients were allocated into groups according to biopsy results depending on the degree of fibrosis: absent or mild and advanced fibrosis and these results were compared with the results of predictive tests for advanced fibrosis. Result: The NAFLD-score test had an adequate correlation with the biopsy results and was consistent with international literature. The accuracy in predicting the patient who would not present fibrosis in the biopsy analysis was 39%. The FIB-4 test did not show any positive predictive results for liver fibrosis in this population. The risk factors for advanced fibrosis were diabetes mellitus and TGO value, and there was no difference between genders or correlation with age. Conclusion: Liver fibrosis predictive tests may have good applicability in predicting the patient at lower risk of presenting fibrosis in the obese population and thus reducing related costs.