Qualidade de vida das crianças e adolescentes e de seus pais durante a pandemia da COVID-19 no Brasil

Abstract

Introdução: A doença causada pelo SARS-CoV-2 (COVID-19) foi classificada como pandemia em março de 2020 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Para sua prevenção foram adotadas algumas medidas como isolamento social. Estudos mostram que orientações restritivas e a consequente mudança dos hábitos de vida causaram alterações na saúde mental. Acredita-se que esse cenário possa impactar na qualidade de vida de crianças e adolescentes por influência direta ou indireta dos pais ou simplesmente pela mudança na rotina de vida. Assim como, dos seus responsáveis. Porém, há poucos estudos publicados sobre qualidade de vida durante a pandemia nesta população. Objetivo: Avaliar a qualidade de vida de crianças e adolescentes e seus pais em cidades brasileiras durante a pandemia da COVID-19 no ano de 2020. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal envolvendo crianças e adolescentes com a faixa etária entre 2 e 18 anos de idade e seus cuidadores, os quais responderam de forma voluntária e anônima o questionário enviado via internet e disseminado pelo método “snow ball” entre os dias 23 de junho de 2020 e 13 de julho de 2020. Foi utilizado um questionário para crianças e pais para caracterização da população, além dos instrumentos para avaliar qualidade de vida (QV): Pediatric Quality of Life Inventory versão 4.0 (PedsQL 4.0) para crianças e adolescentes e o European Health Interview Survey Quality of Life Index of 8 items (EUROHIS-QOL 8) para os responsáveis. Resultados: Durante a pandemia observamos significativo aumento na média do tempo de tela (2hs para 5hs, p<0,001) que foi associado com pior PedSQL4.0 (75,7+12,6 versus 71,3 +13,7; p<0,001). Alimentação não saudável aumentou de 11% para 34% e se associou a menores escores de QV em relação àqueles que melhoraram ou mantiveram hábitos alimentares (69,7+13,3 versus 72,80+13,4 versus 76,4+12,6; p<0,001). A má qualidade do sono aumentou de 9% para 31,7%. Pior qualidade do sono também apresentou piores escores de QV de vida quando comparado àqueles que melhoraram ou não tiveram alterações relacionadas ao sono durante a pandemia (67,3+13,1 versus 74,5+13,1 versus 76,8+12,2; p<0,05). A manutenção de atividade física ocasionou melhores escores PedSQL4.0 (77,5+12,3 versus 72,5+14,4; p<0,001). Além disso, quem teve suas atividades escolares mantidas tiveram piores índices de QV comparado aos que não mantiveram suas atividades (73,1+ 13,2 versus 77,3 +12,9; p<0,001). Crianças entre 2 e 4 anos tiveram os melhores escores e sua QV foi diretamente proporcional a QV dos pais. Maior nível de escolaridade e socioeconômico dos pais foi associado a escores mais altos da QV das crianças e adolescentes. Conclusão: As medidas de mitigação do COVID-19 causaram mudanças no estilo de vida das crianças e adolescentes aumentando o tempo de exposição a tela, reduzindo a atividade física, piorando hábitos alimentares e qualidade de sono, refletindo-se em piores escores de QV. Também foi visto alteração nas atividades escolares. Fator que pode ter contribuído as alterações encontradas.

Introduction: On March 2020, the disease caused by SARS-CoV-2 (COVID-19) was classified as a pandemic by the World Health Organization (WHO). Preventive measures such as social isolation was adopted. Studies showed that restrictive measures who induced modification on life habits affected the mental health. It is believed that this scenario may impact the quality of life of children and adolescents due to the direct or indirect influence of parents or simply by changing their routine. However, there are few studies evaluating the impact of the restrictive measures on the quality of life of this population. Goal: To evaluate the quality of life of Brazilian children and adolescents and their parents during the COVID-19 pandemic in 2020. Methodology: This is a cross-sectional study involving children and adolescents (2- 18 years of age) and their parents/ legal guardians, who responded voluntarily and anonymously to an online survey. Snowball sampling was used to recruit participants between the days June 23, 2020 and July 13, 2020. A questionnaire for children and parents was used to characterize the population. In addition, it was used the instruments to assess quality of life (QoL): Pediatric Quality of Life Inventory version 4.0 (PedsQL 4.0) for children and adolescents and the European Health Interview Survey Quality of Life Index of 8 items (EUROHIS-QOL 8) for guardians. Results: Mean screen time increased from 2h pre-pandemic to 5h during the pandemic (p<0.001) which was associated with worse PedSQL4.0 (75.7+12.6 versus 71.3+13.7; p<0.001). Unhealthy eating habits increased from 11% to 34% and were associated with lower QoL scores compared with improved or unchanged eating habits during the pandemic (69.7+13.3 versus 72.80+13.4 versus 76.4+12, 6; p<0.001). Poor sleeping quality increased from 9% to 31.7% and was associated with worse QoL scores compared with improved or unchanged sleeping quality during the pandemic (67.3+13.1 versus 74.5+13.1 versus 76.8+12, 2; p<0.05). Practicing physical exercise was associated with better PedSQL4.0 scores (77.5+12.3 versus 72.5+14.4; p<0.001). School activities maintained had worse QoL indices compared to not having school activities (73.1+13.2 versus 77.3+12.9; p<0.001). Children aged 2-4 years old had the best scores and their QoL was directly proportional to their parents' QoL. Higher education and socioeconomic level of parents was associated with higher QoL scores of children and adolescents. Conclusion: COVID-19 mitigation measures caused changes in the lifestyle of children and adolescents with increased screen time, reduced physical activity, worsening eating habits and sleep quality, reflected in worse QoL scores. Changes in school activities were also seen. Factor that may have contributed to the changes found.