Uso de dados do mundo real para apoio à vigilância epidemiológica : o desenvolvimento do registro municipal de pessoas com diabetes residentes em Porto Alegre/RS

Abstract

Introdução: O diabetes é a doença não transmissível que mais aumentou a carga global de doenças. Espera-se que 94% dos novos casos de diabetes até 2045 ocorram em países de baixa e média renda. Dados do mundo real e soluções digitais têm sido usados pelos sistemas de saúde como um componente essencial para enfrentar o desafio imposto pelo diabetes. Os registros populacionais são uma dessas ferramentas. No entanto, sua implementação não é comum em países de baixa e média renda. Porto Alegre é uma cidade de 1,4 milhão de habitantes localizada no sul do Brasil. Nos últimos anos, sua Secretaria Municipal de Saúde tem produzido diversas soluções digitais para qualificar a assistência e a gestão em saúde. Objetivo: Descrever a construção de um cadastro municipal de pessoas com diabetes residentes em Porto Alegre e discutir potencialidades e desafios para vigilância epidemiológica e atendimento clínico. Métodos: Dados para os anos 2018-2021 foram obtidos dos seguintes sistemas de informação locais e nacionais: Dispensação de Medicamentos, Prontuário Eletrônico da Atenção Primária, Gestão de Consultas Especializadas, Gestão de Exames Ambulatórios, Regulação de Internações Hospitalares, Faturamento de Internações Hospitalares, Consultas de Urgência e Mortalidade Registro. Verificamos o diabetes por meio de códigos internacionais de diagnóstico (CID e ICPC) e códigos de medicamentos e procedimentos. Os dados foram deduplicados e mesclados por estratégias determinísticas e de ligação por similaridade em um único registro. Resultados: 73.185 pessoas com diabetes (5,2% de todos os residentes) foram identificadas. Prescrições de medicamentos (37.865; 51,7%) e consultas de atenção primária (26.237; 25,8%) contribuíram com a maioria dos casos para o registro. Conclusão: O registro inclui uma fração relevante de pessoas com diabetes atendidas no sistema único de saúde de Porto Alegre. Apesar das limitações de dados do mundo real, várias questões epidemiológicas e de pesquisa podem ser abordadas por meio dele, incluindo tendências na incidência e prevalência de diabetes e taxas de complicações e mortalidade. Além disso, novas iniciativas para monitorar a qualidade do atendimento e a adesão ao tratamento serão possíveis.

Background: Diabetes is the non-communicable disease that has most increased in global disease burden. Fully 94% of new diabetes cases to 2045 are expected to occur in low-and-middle income countries. Real-world data and digital solutions have been used by health systems as an essential component to confront the diabetes burden. Population registries are one of these tools. However, their implementation is not common in low-and-middle income countries. Porto Alegre is a city of 1.4 million people located in southern Brazil. In recent years its municipal health department has produced several digital solutions to qualify health care and management. Aim: To describe the construction of a municipal registry of people with diabetes living in Porto Alegre and discuss potentials and challenges for epidemiological surveillance and clinical care. Methods: We obtained data for the years 2018-2021 from the following local and national information systems: Drug Dispensing, the Primary Care Electronic Health Record, Specialized Consultations Management, Outpatient Exams Management, Hospital Admissions Regulation, Hospital Admissions Billing, Urgent Consultations and Mortality Registry. We ascertained diabetes through International diagnostic codes (ICD and ICPC), and medication and procedures codes. Data were deduplicated and merged by deterministic and similarity linkage strategies into a single registry. Results: We have initially identified 73,185 people with diabetes (5.2% of all residents) receiving care through Brazil´s national health system. Prescriptions of medications (37,865; 51.7%) and primary care consultations (26,237; 25.8%) contributed the most cases to the registry. Conclusion: The registry includes a relevant fraction of people with diabetes treated in the national health system in Porto Alegre. Despite real world data limitations, multiple research and epidemiological questions can be addressed through it, including trends in diabetes incidence and prevalence and rates of complications and mortality. Additionally, new initiatives to monitor quality of care and adherence to treatment will be possible.