Uma infância no sítio : modernidade e pedagogia na representação da criança em Monteiro Lobato

Abstract

Este trabalho tem como objetivo analisar a representação da infância nas obras Histórias de Tia Nastácia (1937, 2019), Serões de Dona Benta (1937, 2019) e História do Mundo para as crianças (1933, 2019), de Monteiro Lobato, contextualizando o projeto de modernização nacional contido nestas obras dentro do processo desigual de desenvolvimento e industrialização pelo qual passava o país durante o período de sua publicação. Além disso, busca-se investigar como o conflito racial brasileiro molda a dicção das narradoras adultas e a relação que as mesmas desenvolvem com o seu público ouvinte infantil, levando em consideração a emulação da narrativa oral que é empregada como mecanismo pedagógico. Em especial, leva-se em consideração a afinidade do autor com as ideologias eugenistas que circulavam à época, explorando a relação entre o ideário modernizante contido nas obras e o movimento de aniquilação da cultura, da identidade e do corpo marginalizado, especialmente negro, indígena e proletário, considerados pelos discursos hegemônicos como sendo uma manifestação do arcaísmo brasileiro. A hipótese é que sendo a infância uma categoria moderna, sua incorporação na obra Lobatiana reflete as condições precárias nas quais se deu o processo de modernização brasileiro, e mais especificamente qual era o horizonte que Lobato vislumbrava para a dita modernização. Através da aplicação destes elementos analíticos, a leitura da obra revela que o autor construiu, na elaboração da sua literatura para a infância, uma utopia excludente que é representativa do projeto de modernização conservadora que ele desejava ver implementado em todo o país.

This work aims to analyze the representation of childhood in the books Histórias de Tia Nastácia (1937, 2019), Serões de Dona Benta (1937, 2019) and História do Mundo para as Crianças (1933, 2019), written by Monteiro Lobato, while placing the national modernization project that is contained within these works in the context of the unequal process of development that the country was going through at the time they were published. In addition, we seek to investigate how the Brazilian racial conflict shapes the diction of the adult, female narrators and the relationship they develop with their child audience, taking into account the emulation of oral narrative that is used as an educational mechanism. In particular, we take into account the author's affinity with the eugenic ideas that circulated at the time, exploring the relationship between the modernizing ideals contained in the books and the movement for the annihilation of the marginalized culture, identity and body, especially that of black, indigenous and proletarian people, which were considered by hegemonic discourses as being a manifestation of Brazilian archaism. The hypothesis is that, since childhood is a modern category, its incorporation in Lobato’s work reflects the precarious conditions in which the Brazilian modernization process took place, and more specifically what was the horizon that Lobato envisioned for said modernization. Through the application of these analytical elements, the reading of the books revealed that the author built, in the elaboration of his literature for children, an excludent utopia that is representative of the project of a conservative modernization that he wanted to see implemented throughout the country.