Intervenções psicoterápicas baseadas em evidência para o tratamento de gestantes e puérperas com transtorno por uso de substâncias : uma revisão sistemática

Abstract

Uso de substâncias na gestação, é um complexo problema social e em saúde pública. O uso na gestação causa importante impacto para a mulher e para a criança. Já há evidência e recomendação da relevância de intervenções psicossociais como foco do tratamento. Assim, é fundamental a avaliação da efetividade em gestantes de estratégias psicoterápicas baseada em evidências para tratamento de transtorno por uso de substâncias. A revisão da literatura foi realizada em abril de 2022 na base de dados Pubmed, sem limitação temporal. O algoritmo de busca baseou-se na combinação dos termos: (pregnancy OR postpartum) AND psychotherapy AND (drug abuse OR substance use disorder). A última atualização da pesquisa foi realizada no mês de julho de 2022. Foram incluídos os ensaios clínicos randomizados comparando intervenção psicoterápica vs. grupo controle que poderia incluir outra forma de intervenção psicoterápica ou psicossocial, aconselhamento, atendimento pré-natal usual. No total, foram incluídos, doze ensaios clínicos: dois estudos avaliaram rastreamento e intervenção breve virtual e presencial; três avaliaram entrevista motivacional; quatro avaliaram manejo de contingência, um avaliou psicoeducação, um avaliou Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) com foco em prevenção a recaída e um avaliou TCC combinada a regulação emocional. Os desfechos avaliados nos ensaios clínicos englobam três grandes domínios: o desfecho primário da maioria dos estudos diz respeito a mudança no padrão de uso (abstinência ou redução do uso); o segundo domínio mais avaliado foram os desfechos neonatais e o terceiro, desfechos relacionados à saúde materna. Houve diferença significativa nas taxas de alcance de abstinência ou redução significativa do uso para estratégias de intervenção breve, psicoeducação e para dois dos quatro estudos que avaliaram intervenção de manejo de contingência. Desfechos positivos neonatais foram identificados para um dos ensaios clínicos avaliando entrevista motivacional e para um dos estudos de manejo de contingência. Os resultados encontrados demonstram a efetividade de intervenções psicoterápicas na mudança do padrão de uso de substâncias ao longo da gestação. A evidência ainda é insuficiente, no entanto, para compreendermos de que maneira o tratamento materno impacta os desfechos neonatais.

Drug use in pregnancy is a complex social and public health problem. The consequences of drug use in pregnancy are high for both the woman and her child. There is evidence for the effectiveness of psychosocial interventions in drug treatment. It is relevant to evaluate the effectiveness of validated psychotherapy interventions for substance use disorder in pregnant women. METHODS: A literature search was conducted in April 2022 on the pubmed database. The search was based on the terms: (pregnancy OR postpartum) AND psychotherapy AND (drug abuse OR substance use disorder). We included Randomized Controlled Trials (RCT) comparing any psychotherapy interventions vs. a control intervention that could include a different psychosocial intervention, counseling, prenatal care or other treatment as usual. In total, twelve RCT were included: Two studies included intervention based on Screening and Brief Intervention delivered by both electronic or by a clinician compared to control. Three studies compared motivational interviewing with control conditions, four studies evaluated contingent management, one trials evaluated psychoeducation and self-help approach, one trial compared emotional regulation treatment and another evaluated Cognitive Behaviour Treatment coupled with relapse prevention. There were three main outcome domains, first achieved abstinence or substance use reduction, second domain was neonatal outcomes and third the maternal health outcomes. There was significant abstinence achievement or significant drug use reduction in the groups that received Screening and Brief Intervention with either electronic or clinician delivery, significant difference was also seen for the psychoeducation trial and for two from the four contingency management trials. Significant positive neonatal outcomes were found on trials using motivational interviewing and contingent management interventions. The found results demonstrate the effectiveness of psychotherapy interventions for abstinence achievement and drug use reduction. However, the evidence is still insufficient to understand the role of maternal drug use treatment on neonatal outcomes.