A construção relacional dos discursos antiproibicionistas e proibicionistas sobre a política de drogas : uma análise nas folhas do Jornal Zero Hora, de 2003 a 2016

Abstract

O presente trabalho busca responder o seguinte problema de pesquisa: "como se estruturou o debate público sobre a política de drogas no jornal Zero Hora, ao longo dos governos do Partido dos Trabalhadores, na Presidência da República?". A pesquisa se desenvolveu a partir de uma análise centrada em enquadramentos de Segurança Pública e Saúde Pública, a partir de diagnósticos e prognósticos apresentados nos argumentos. Como referencial teórico é usado os conceitos de movimento social, contramovimento social e enquadramento interpretativo. Para alcançar o objetivo, a pesquisa avançou no sentido de verificar os agentes antiproibicionistas e proibicionistas presentes no jornal e os argumentos mobilizados pelo movimento antiproibicionista e o contramovimento proibicionista para defender suas posições. Um desafio metodológico que orientou a pesquisa foi, justamente, tentar operacionalizar a pesquisa empírica usando o referencial teórico de contramovimento social e a sua ênfase no caráter relacional da conflitualidade. O software de análise qualitativa de dados NVivo foi usado para fazer as codificações e análise a partir do material empírico da pesquisa. Algumas conclusões encontradas na pesquisa é que houve uma crescente presença do tema da política de drogas no debate público, que teve uma mudança nas "vozes" (indivíduos e enquadramentos) que se expressam nesse debate e que é possível defender a possibilidade de operacionalização da pesquisa empírica com os conceitos de movimento e contramovimento a partir de materiais publicados em fontes jornalísticas. Foi possível observar também que frente à emergência e à crescente do movimento antiproibicionista desafiante no debate público, observa-se que os agentes proibicionistas precisaram investir na sustentação de suas posições, até então praticamente não questionadas e que as diferenças nas tarefas de enquadramento colocadas para os agentes proibicionistas e antiproibicionistas estão relacionadas às posições desiguais que eles ocupam no campo da política de drogas.

This study seeks to answer the following research problem: "how was the public debate on drug policy structured in the Zero Hora newspaper, throughout the Workers’ Party governments, in the Presidency of the Republic?". The research was developed from an analysis centered on Public Safety and Public Health frameworks, from diagnoses and prognoses presented in the arguments. The concepts of social movement, social countermovement, and interpretative framework are used as theoretical frameworks. To achieve the objective, the research advanced in the sense of verifying the anti-prohibitionist and prohibitionist agents presented in the newspaper and the arguments mobilized by the anti-prohibitionist movement and the prohibitionist countermovement to defend their positions. A methodological challenge that guided the research was precisely trying to operationalize the empirical research using the theoretical framework of social countermovement and its emphasis on the relational nature of the conflict. The NVivo qualitative data analysis software was used to code and analyze the empirical research material. Some conclusions found in the research are that there was a growing presence of the drug policy issue in the public debate, that there was a change in the "voices" (individuals and frameworks) that are expressed in this debate, and that it is possible to defend the possibility of operationalizing the research empirical analysis with the concepts of movement and countermovement from materials published in journalistic sources. It was also possible to observe that in the face of the emergence and growth of the anti-prohibitionist movement challenging the public debate, it is observed that the prohibitionist agents needed to invest in supporting their positions, which until then were practically unquestioned, and that the differences in the framing tasks posed to the prohibitionist and anti-prohibitionist agents are related to the unequal positions they occupy in the field of drug policy.