Evidências científicas versus conhecimento popular a respeito do benefício cardiometabólico do consumo dietético de óleo de coco
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Data
2022Autor
Orientador
Co-orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
Dados recentes da literatura sugerem que a ingestão alimentar de óleo de coco, composto em 92% por ácidos graxos saturados (AGS), não resulta em benefícios cardiometabólicos, como melhora do perfil antropométrico, lipídico, glicêmico e de parâmetros de inflamação subclínica. Apesar disso, seu consumo aumentou nos últimos anos em todo o mundo, fenômeno que pode ser explicado, possivelmente, por um aumento da orientação, por parte de profissionais da área da saúde, de que este seria um óleo tão o ...
Dados recentes da literatura sugerem que a ingestão alimentar de óleo de coco, composto em 92% por ácidos graxos saturados (AGS), não resulta em benefícios cardiometabólicos, como melhora do perfil antropométrico, lipídico, glicêmico e de parâmetros de inflamação subclínica. Apesar disso, seu consumo aumentou nos últimos anos em todo o mundo, fenômeno que pode ser explicado, possivelmente, por um aumento da orientação, por parte de profissionais da área da saúde, de que este seria um óleo tão ou mais saudável que os demais para consumo, além da divulgação em redes sociais destas recomendações. A fim de se entender os efeitos do óleo de coco na saúde cardiometabólica, desenvolveu-se essa tese, com uma introdução (referencial teórico) para apresentar os diferentes aspectos nutricionais e epidemiológicos relacionados ao óleo de coco, sua relação com a saúde metabólica e possíveis hipóteses sobre as razões do seu alto consumo. No artigo 1 desenvolveu-se uma revisão sistemática com meta-análise de ensaios clínicos randomizados (ECR), realizados em adultos, e que comparavam o consumo alimentar de óleo de coco com outros óleos e gorduras. Um total de 17 ECRs foram incluídos na revisão sistemática e 7 apresentaram dados suficientes e foram incluídos na meta-análise. A análise dos dados mostrou que a ingestão de óleo de coco comparado a outros óleos e gorduras não é diferente em relação a parâmetros antropométricos, de perfil glicêmico, pressão arterial e inflamação subclínica. Em relação ao perfil lipídico, também não se demonstrou diferenças no efeito do consumo alimentar de óleo de coco em relação a outros óleos e gorduras nos níveis de colesterol LDL-C, triglicerídeos e na relação CT/HDL-C. Observou-se um aumento estatisticamente significativo, mas clinicamente pouco relevante, dos níveis de colesterol HDL-C com o consumo alimentar de óleo de coco em relação a outros óleos e gorduras. Análises de subgrupo para os diferentes parâmetros cardiometabólicos descritos não demonstraram diferenças. Ao se analisar a qualidade metodológica dos ECRs incluídos na meta-análise, se observa que a maioria apresenta número pequeno de participantes, tempo de seguimento curto, e aplicação de co intervenções, em uma proporção dos estudos, incluindo dieta com restrição calórica e prática de atividade física, fatores que nos levam a interpretar os dados com cautela por poderem impactar no efeito cardiometabólico atribuído ao óleo de coco. Não havendo aparente superioridade do óleo de coco em comparação a outros óleos e gorduras em parâmetros cardiometabólicos, e sabendo-se dos riscos associados do consumo elevado de AGS para a saúde como piora do perfil lipídico, o incentivo do uso deste óleo como sendo de primeira escolha para consumo, deve ser desencorajado. O objetivo do artigo 2 foi avaliar o consumo, padrões, motivos e crenças relacionados ao uso dietético do óleo de coco e seus benefícios na saúde, por meio de uma pesquisa online com duas populações do sul do Brasil: uma composta por estudantes de diferentes cursos de pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e outra por pessoas que acessam a página do Hospital de Clínicas de Porto Alegre no Facebook®. Assim, realizamos um estudo antes/depois usando um questionário online com 11 perguntas. Os participantes que indicaram consumir óleo de coco receberam uma intervenção, que consistia na exposição dos dados de meta-análise recente sobre os efeitos do óleo de coco. O objetivo foi avaliar a possibilidade de mudança de conceitos e crenças a respeito do efeito metabólico e cardiovascular relacionados ao consumo do óleo de coco e aumentar a alfabetização sobre os efeitos deste óleo na saúde. Obtivemos 3160 respostas válidas. A maior parte da amostra consumia óleo de coco (59,1%). Destes, 82,5% o consideravam saudável e 65,4% o utilizavam pelo menos uma vez por mês. Apesar de considerá-lo saudável, 81,2% dos participantes que utilizavam o óleo, não observaram nenhuma melhora na saúde com o seu uso. Após serem expostos às conclusões de uma meta-análise mostrando que o óleo de coco não apresenta benefícios superiores à saúde quando comparado a outros óleos e gorduras, 73,5% daqueles que consideraram o óleo de coco saudável não mudaram de opinião sobre os seus benefícios. Conclui-se que o consumo do óleo de coco é motivado pelas próprias crenças pessoais, possivelmente incentivadas por recomendações de profissionais da área da saúde de que este seria um óleo que contribuiria para manutenção/melhora da saúde cardiometabólica, mesmo com as evidências científicas mostrando o contrário e, curiosamente, com os participantes não observando melhoras em sua saúde com o consumo de óleo de coco. O fato dos participantes não terem mudado sua percepção sobre os benefícios deste óleo após serem expostos a informações científicas nos revela o quanto pode ser difícil mudar conceitos errados sobre alimentação após estes serem amplamente divulgados e praticados pela população. A desinformação em saúde precisa ser amplamente estudada e encarada como um problema de saúde pública. Estratégias para orientar a população das melhores opções quanto a escolha de óleo para consumo alimentar, bem como de que o óleo de coco não apresenta benefícios definidos (diferentemente de outros óleos de consumo alimentar), devem ser elaboradas e difundidas principalmente para população alvo e de risco para a saúde cardiometabólica. Encorajamos que mais estudos neste formato sejam desenvolvidos a fim de colaborar no combate à desinformação na área da saúde, especialmente na área de nutrição e de hábitos de vida saudáveis. ...
Abstract
Recent data from the literature suggest that dietary intake of coconut oil, composed of 92% saturated fatty acids (SFA), does not result in cardiometabolic benefits, such as improvement in anthropometric, lipid, glycemic and subclinical inflammatory parameters. Despite this, its consumption has increased in recent years all over the world, a phenomenon that can be explained, possibly, by an increase in the concept, from health professionals, that this oil would be as healthy or healthier than t ...
Recent data from the literature suggest that dietary intake of coconut oil, composed of 92% saturated fatty acids (SFA), does not result in cardiometabolic benefits, such as improvement in anthropometric, lipid, glycemic and subclinical inflammatory parameters. Despite this, its consumption has increased in recent years all over the world, a phenomenon that can be explained, possibly, by an increase in the concept, from health professionals, that this oil would be as healthy or healthier than the others for consumption, in addition to the dissemination of these recommendations on social networks. In order to understand the effects of coconut oil on cardiometabolic health, this thesis was developed, with an introduction (theoretical framework) to present the different nutritional and epidemiological aspects related to coconut oil, its relationship with cardiometabolic health and possible hypotheses about the reasons for their high consumption. In article 1, a systematic review was developed with a meta-analysis of randomized clinical trials (RCTs) carried out in adults, which compared the dietary consumption of coconut oil with other oils and fats. A total of 17 RCTs were included in the systematic review and 7 had sufficient data to be included in the meta-analysis. Data analysis showed that the intake of coconut oil compared to other oils and fats does not cause a better metabolic control in relation to anthropometric parameters, glycemic profile, blood pressure and subclinical inflammation. Regarding the lipid profile, no differences were shown in the effect of dietary intake of coconut oil in relation to other oils and fats on LDL cholesterol and triglycerides levels, as well as the CT/HDL ratio. A statistically significant but clinically insignificant increase in HDL cholesterol levels was observed with the dietary consumption of coconut oil in relation to other oils and fats. Subgroup analyzes for the different cardiometabolic parameters described showed similar findings. When analyzing the methodological quality of the RCTs included in the meta-analysis, it is observed that most of them have a small number of participants, short follow-up time, and application of co-interventions, in a proportion of the studies, including a calorie-restricted diet and advice for physical activity, factors that lead us to interpret the data with caution as they may impact the cardiometabolic effect attributed to coconut oil. As there is no apparent superiority of coconut oil compared to other oils and fats in cardiometabolic parameters and knowing the associated risks of high consumption of SFA for health as a resultant worsening of the lipid profile with its intake, encouraging the consumption of this oil as the first choice should be discouraged. The aim of article 2 was to evaluate consumption, patterns, motives and beliefs related to the dietary intake of coconut oil and its health benefits, through an online survey with two populations in Southern Brazil: one composed of students from different courses at the Federal University of Rio Grande do Sul and another by people who access the Hospital de Clínicas de Porto Alegre page on Facebook®. Thus, we conducted a before/after study using an online questionnaire with 11 questions. Participants who indicated consuming coconut oil received an intervention, which consisted of exposing recent meta-analysis data on the effects of coconut oil. The objective was to evaluate the possibility of changing concepts and beliefs about the metabolic and cardiovascular effects related to the consumption of coconut oil and increasing literacy about the effects of this oil on health. We got 3160 valid responses. Most of the sample consumed coconut oil (59.1%). Of these, 82.5% considered it healthy and 65.4% used it at least once a month. Despite considering it healthy, 81.2% of the participants who used the oil did not observe any improvement in health with its use. After being exposed to the findings of a meta-analysis showing that coconut oil does not have superior health benefits when compared to other oils and fats, 73.5% of those who considered coconut oil healthy did not change their opinion about its benefits. These results lead us to conclude that the intake of coconut oil is motivated by own personal beliefs, possibly encouraged by recommendations from health professionals, even with the scientific evidence showing the contrary and, interestingly, with the participants not observing improvements in their health with this consumption. The fact that the participants did not change their perception of the benefits of this oil after being exposed to scientific information reveals how difficult it can be to change misconceptions about dietary habits after they are widely disseminated and practiced by the population. Health misinformation needs to be widely studied and considered as a public health problem. Strategies to guide the population on the best options regarding the choice of oil for alimentary consumption, as well as that coconut oil does not have defined benefits, unlike other oils for food consumption, should be developed and disseminated mainly to the target population and risk to cardiometabolic health. We encourage that more studies to address this issue be developed in order to collaborate in the fight against misinformation in the health area, especially in the area of nutrition and healthy lifestyle habits. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas: Endocrinologia.
Coleções
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Ciências da Saúde (9085)Endocrinologia (389)
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