Metonímias e metáforas primárias na literatura infantil brasileira : contribuições da linguística cognitiva

Abstract

O presente trabalho busca relacionar Linguagem Figurada e literatura a partir da perspectiva da Linguística Cognitiva. Através da leitura de 128 livros de literatura infantil brasileira, indicados para crianças de até 8 anos de idade, buscou-se fazer um levantamento de metonímias e metáforas primárias neles presentes. Objetivou-se relacionar o número de ocorrências encontradas à faixa etária indicada para cada livro. Levando em consideração as particularidades dos fenômenos em questão e suas diferentes complexidades, esperava-se que haveria relação entre a idade e a frequência dos fenômenos, e, sendo a metáfora um fenômeno mais complexo que a metonímia, apareceria em maior quantidade em livros para crianças mais velhas. Para realizar o levantamento das ocorrências, foram utilizados métodos específicos de identificação tanto para metonímias quanto para metáforas. Por fim, com base nos resultados obtidos, realizou-se o Teste exato de Fisher para analisar os níveis de significância entre as variáveis faixa etária e ocorrências de metonímias e entre as variáveis faixa etárias e ocorrências de metáforas primárias. O teste apontou diferença não significativa (p=0.7614) entre as primeiras e diferença significativa (p<0,001) entre as segundas. Estes resultados apontam para uma associação parcialmente positiva entre faixa etária e número de ocorrências por fenômeno. Além disso, o fenômeno mais complexo apresentou um maior número de frequência conforme o aumento da idade indicativa. A partir desses dados, é possível concluir que a literatura é um importante meio de acesso, para as crianças, a esse tipo de linguagem e que os escritores dos livros analisados vão ao encontro dos resultados de estudos psicolinguísticos sobre aquisição e compreensão de Linguagem Figurada, possivelmente refletindo os usos e as complexidades desse tipo de linguagem presentes também no cotidiano.

The present study aims at acquainting figurative language and children’s literature according to the Cognitive Linguistics enterprise. Through the reading of 128 children’s literature books indicated for children up to eight years old, primary metaphors and metonymies were identified. Our objective was to compare the number of phenomena occurrences to the books’ indicated age range. Considering the particular characteristics of both phenomena and their specific complexities, we expected a relation between indicated age and trope frequency, and, being metaphor more complex than metonymy, we also expected the first to be more frequent on books indicated for older children. In order to collect data, specific methods of identification were used, both for metaphor and for metonymy. Finally, we have performed a Fisher's Exact Test to check for the levels of significance between age range and phenomena occurrence. The test yielded a non-significant difference for metonymy and age (p=0.7614) and a significant difference for primary metaphor and age (p<0,001). These results suggest a partially positive association between age range and the occurrence of each phenomenon. Furthermore, metaphor, the more complex trope, showed higher frequency as age indication increased. From these data, it is possible to conclude that literature is an important means of access to this kind of language for children, and that writers of the analyzed books, even if intuitively, concur to results of psycholinguistic studies on figurative language acquisition and comprehension, probably as a reflection of the usage and complexities of this kind of language in our daily experience.