A Arte em ser Geografia : por uma cartografia (com)partilhada do sensível

Abstract

Este trabalho foi elaborado a partir de uma abordagem teórico-metodológica de perspectiva pós-crítica, com amparo da etnografia, permitindo certa flexibilidade quanto à estrutura de realização da pesquisa, sendo a liberdade de criação em desprendimento às formas ditas como corretas para realização de pesquisa científica, justamente um dos objetivos do trabalho. Através dessa abordagem, os objetos e objetivos do trabalho foram transformando-se ao longo do processo de criação, de forma que a própria relação professora-aluna, entre orientadora e pesquisadora, tornou-se objeto de reflexão e inspirou a escolha do objeto principal de pesquisa: a relação professor-aluno. O problema encontrado a partir de experiências da pesquisadora como aluna da graduação de Licenciatura em Geografia - UFRGS, especialmente em um momento de pandemia pelo vírus Covid- 19 e de Ensino Remoto Emergencial (ERE), foi a necessidade de que os professores sejam sensíveis quanto as diferentes geografias dos alunos, de forma a considerá- las em seus planejamentos, sabendo ser flexíveis quando necessário. Foi apontado, então, a arte como caminho para provocar essa sensibilidade, esse olhar oblíquo sobre a realidade. Baseando-se em autores como Massey (2008, 2009, 2017), Queiroz Filho (2018), Ranciére (1996, 2009), Deleuze (1992, 1997, 2015) e Larrosa (2002, 2015), entre outros, foram feitas reflexões sobre a importância de outras geografias, para além da Geografia com “G” maiúsculo, como uma geografia do corpo e uma geografia da experiência; o papel da sensibilidade e de um olhar poético sobre o espaço e suas múltiplas possibilidades e coexistências; e a importância de que o professor exercite esse olhar sobre as geografias dos alunos. Para cultivar a sensibilidade ao planejar, buscando estimular tal sensibilidade sobre as geografias do outro, se trilhou caminhos pela arte, através da produção de dois curtas. Baseados nas experiências da pesquisadora com o ERE durante a pandemia, e inspirados nas experimentações “corpo-sonoro-polifônicas” propostas por Borges e Queiroz Filho (2020), em seu projeto “Ver de Ouvir ao Caminhar", os curtas foram produzidos como uma cartografia (com)partilhada do sensível, utilizando de outros sentidos para além da visão, como forma de promover certa conexão com as geografias expostas nos curtas a partir do sentir. Todo o processo de criação do trabalho foi também objeto de estudo da pesquisa, pela forma como aconteceu, de acordo com as interações entre a pesquisadora, orientadora, colegas e professores, sendo a produção dos curtas parte dos resultados, por serem considerados fruto dessa relação sensível e de incentivo às potencialidades da aluna-pesquisadora. Ao ouvir as reações de alguns colegas ao assistir os curtas, foi possível considerar como resultados também o êxito em proporcionar uma experiência sensorial, e concluir que a busca da pesquisadora por expressar suas reflexões através da arte acabou por dar voz e visibilidade sofrimentos invisíveis dos alunos, principalmente em um contexto de isolamento social.

This work was elaborated from a theoretical-methodological approach from a post- critical perspective, with the support of ethnography, allowing some flexibility regarding the structure of the research, being the freedom of creation in detachment to the forms considered as correct to carry out research. scientific, precisely one of the objectives of the work. Through this approach, the objects and objectives of the work were transformed throughout the creation process, so that the teacher-student relationship it self, between advisor and researcher,became an object of reflection and inspired the choice of the main object of research: the teacher-student relationship. The problem found based on the researcher's experiences. The an under graduate student of the Degree in Geography - UFRGS, especially at a time of pandemic by the Covid-19 virus and Emergency Remote Teaching (ERE), was the need for teachers to be sensitive about the different geographies of the students, in order to consider them in their planning, knowing how to be flexible when necessary. Then, art was pointed out as a way to provoke this sensitivity, this oblique look at reality. Based on authors such as Massey (2008, 2009, 2017), Queiroz Filho (2018), Ranciére (1996, 2009), Deleuze (1992, 1997, 2015) and Larrosa (2002, 2015), among others, reflections were made on the importance of other geographies, in addition to Geography with a capital “G”, as a geography of the body and a geography of experience; the role of sensitivity and a poetic look at space and its multiple possibilities and coexistences; and the importance of the teacher exercising this look on the students' geographies. To cultivate sensitivity when planning, seeking to stimulate such sensitivity about the other's geographies, paths were taken through art, through the production of two short films being part of the results, as they are considered the result of this sensitive relationship and encouragement to the potential of the student-researcher. Up on listening to the reactions of some colleagues while watching the short films, it was also possible to consider as results the success in providing a sensory experience and conclude that the researcher's quest to express her reflections through art ended up giving voice and visibility to thes students' invisible sufferings ,especially in a context of social isolation