Esporotricose felina no sul do Brasil : relato [de] casos refratários aos antifúngicos convencionais

Abstract

O sul do Brasil é reconhecido por ser uma área endêmica para a esporotricose felina. No entanto, a notificação da doença não é obrigatória, apesar de ser uma zoonose emergente ao homem pela transmissão direta do patógeno fúngico por mordedura e arranhaduras de felinos. Apesar do itraconazol ser o fármaco de eleição, dificuldades na obtenção da cura clínica têm sido observados. Nesse sentido, esse estudo objetivou relatar uma série de casos de felinos refratários ao tratamento e alertar para as dificuldades no tratamento e controle da doença na região. Foi realizado um estudo retrospectivo a partir de dados clínicos de 14 felinos com esporotricose e atendidos no Hospital de Clínicas Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (Pelotas, RS, Brasil) entre 2016 e 2017. Dos 14 gatos incluídos no estudo, 13 (92,85%) apresentaram lesões disseminadas e um (7,14%) apresentou lesão localizada. Destes, 4 (28,577%) evoluíram para lesões localizadas, sendo 3 em plano nasal. O período de tratamento registrado variou de 10 dias até acima de 36 meses. O itraconazol foi utilizado em 10 (71,42%) pacientes, associado ou não a outros fármacos com doses que variaram de 25 a 100 mg/gato. Três tutores abandonaram o tratamento felino. A espécie fúngica identificada em 100% dos gatos foi o Sporothrix brasiliensis. Nenhum gato apresentou cura clínica. Esse estudo alerta para a ocorrência de casos refratários aos medicamentos antifúngicos em gatos com esporotricose no Sul do Brasil, dificultando o sucesso terapêutico e o controle da doença na região.

Southern Brazil is recognized for an endemic area for feline sporotrichosis. However, notification is not mandatory, despite being an emerging threat to humans through direct transmission of the fungal pathogen by biting and scratching of felines. Although itraconazole is the drug of choice, difficulties in healing have been observed. In this sense, this study aimed to report a series of refractory cases and to warn about the difficulties in the treatment of the disease in the region. A retrospective clinical data study of 14 patients with sporotrichosis treated in the Veterinary Clinics Hospital of the Federal University of Pelotas (Pelotas, RS, Brazil) between 2016 and 2017 was performed. Of the 14 cats included in the study, 13 (92, 85%) showed disseminated lesions and one (7.14%) showed located lesion. Of these, four (28.577%) evolved to located lesion, being three cats only at the nasal plane. The treatment period ranged of 10 days to over 36 months. Itraconazole was used in 10 (71.42%) patients, associated or not to other antifungal with doses ranging of 25 to 100 mg/cat. Three tutors abandoned the feline treatment. The fungal species was identified as Sporothrix brasiliensis in 100% of the cats. No cat showed clinical cure. This study alert for the occurrence of refractories cases to antifungals in cats with sporotrichosis in Southern Brazil, hindering the therapeutic success and the disease control.