Cuidado do paciente com câncer bucal no ensino odontológico : contribuições para o ensino e a aprendizagem de competências de humanização

Abstract

O componente da humanização do cuidado torna-se essencial na atenção ao paciente com câncer bucal. Ao ensino da odontologia é indicado que se organize percursos curriculares que promovam a aprendizagem de competências de humanização no atendimento e compreensão do paciente na sua integralidade e singularidade. O objetivo do estudo é analisar perspectivas de estudantes de odontologia da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FO-UFRGS) sobre o cuidado de pacientes com câncer bucal e o ensino e a aprendizagem de competências de humanização do cirurgião-dentista. Foi realizado um estudo de caso do tipo holístico de natureza qualitativa. O cenário do estudo é a FO-UFRGS, no município de Porto Alegre. Participaram da pesquisa quatro cirurgiãsdentistas recém-formadas na FO-UFRGS. Para a produção dos dados foram realizadas entrevistas aprofundadas com duração de quarenta minutos a uma hora, de modo online e por meio da plataforma oficial da UFRGS – Mconf. Os vídeos gravados foram transcritos para estudo textual do discurso. A análise foi realizada com base na observação textual do discurso. Os dados produzidos demonstraram três temáticas principais de resultados. A não atuação com o cuidado de pacientes com o câncer bucal em seus processos de formação e, portanto, com a questão do acolhimento de pacientes com câncer bucal, a não ser em experiências esporádicas, disciplina eletiva ou a atuação na ênfase de estomatologia do Centro de Especialidades Odontológica que estagiaram ao final do curso. Segundo, que os processos de ensino aprendizagem sobre acolhimento são vivenciados em algumas disciplinas pontuais teóricas nos semestres iniciais do curso, porém ao adentrarem nas experiências das práticas clínicas o método tecnicista predomina, sendo desenvolvidas com mais intensidade atividades de acolhimento e vínculo nos semestres finais da graduação, quando os estudantes por meio dos estágios atuam nos serviços de atenção das redes de saúde do SUS. Terceiro, as participantes entrevistadas relatam que no campo da estomatologia, sentem-se preparadas para realização de diagnósticos bucais, porém, a vivência clínica e a realização da comunicação diagnóstica exigem uma complexidade de competências que sentem que não tiveram a oportunidade de experienciar durante a graduação. O cuidado do paciente com câncer bucal transcende as práticas de diagnóstico clínico pois se faz necessário um conjunto de competências ao lidar com sentimentos e com as próprias emoções frente à doença. Considerando que a comunicação de más notícias marca o início de uma série de importantes mudanças na vida deste paciente, tal achado pode ser apontado como uma necessidade de revisão dos processos de ensino e aprendizagem na formação em odontologia.

The humanization component of care becomes essential in the care of patients with oral cancer. When teaching dentistry, it is recommended to organize curricular pathways that promote the learning of humanization skills in the care and understanding of the patient in its entirety and uniqueness. The objective of the study is to analyze the perspectives of dentistry students at the Faculty of Dentistry of the Federal University of Rio Grande do Sul (FO-UFRGS) about the care of patients with oral cancer and the teaching and learning of humanization skills of the dentist. A qualitative holistic case study was carried out. The study setting is a dental school at the FO-UFRGS, in the city of Porto Alegre. Four recently graduated dental surgeons from FO-UFRGS participated in the research. For the production of the data, in-depth interviews lasting 40 minutes to an hour were conducted online and through the official platform of UFRGS - Mconf. The recorded videos were transcribed for textual study of the discourse. The analysis was performed based on the textual observation of the speech. The data produced demonstrated three main themes of results. Failure to act with the care of patients with oral cancer in their training processes and, therefore, with the issue of welcoming patients with oral cancer, except in sporadic experiences, elective discipline or acting in the stomatology emphasis of the Center of Dental Specialties who interned at the end of the course. Second, that the teaching-learning processes about welcoming are experienced in some specific theoretical subjects in the initial semesters of the course, however when entering into the experiences of clinical practices the technicist method predominates, with welcoming and bonding activities being developed with more intensity in the final semesters of the graduation, when students through internships work in the care services of SUS health networks. Third, the interviewed participants report that in the field of stomatology, they feel prepared to perform oral diagnoses, however, the clinical experience and the performance of diagnostic communication require a complexity of skills that they feel they did not have the opportunity to experience during graduation. The care of patients with oral cancer transcends clinical diagnostic practices because a set of skills is needed when dealing with feelings and emotions in the face of the disease. Considering that the communication of bad news marks the beginning of a series of important changes in the life of this patient, this finding can be pointed out as a need to review the teaching and learning processes in dentistry training.