Ensino de ciências e os desafios do século XXI : entre a crítica e a confiança na ciência

Abstract

O presente ensaio reflete sobre o papel do ensino de ciências frente aos desafios colocados pelas diferentes questões sociocientíficas que permeiam a sociedade contemporânea. Na medida em que a ciência desempenha importante função na busca de soluções para tais questões, como as crises socioambientais e de saúde pública, é também imprescindível que o ensino de ciências fomente um entendimento que possibilite avaliar informações científicas e distingui-las daquelas que podemos chamar de pseudocientíficas. Contudo, na busca por fomentar essa capacidade avaliativa no aluno, o ensino de ciências corre o risco de incorrer numa valorização excessiva do ideal crítico que visa a autonomia intelectual do aluno, muitas vezes expresso num ceticismo que elege a dúvida pela dúvida. Neste ensaio, problematizamos algumas consequências indesejáveis dessa postura, entre as quais está a perda de confiança na própria ciência. Para tanto, propomos reflexões que: (1) orientam o ensino de ciências para uma confiança na ciência, sem perder a criticidade com relação ao fazer científico; (2) problematizam a justificativa de uma educação científica voltada exclusivamente para a autonomia intelectual do educando que elege a dúvida e o ceticismo como objetivos de ensino. Nessa discussão acentuamos a importância de uma “confiança equilibrada” em relação à ciência, destacando a confiança como elemento complementar ao exercício da dúvida e da crítica. Ao final, apresentamos algumas reflexões e possíveis desdobramentos dessa temática para o contexto da sala de aula e da educação científica.

This essay reflects on the role of science education in the face of the challenges caused by the different socio-scientific issues that surface from the contemporary society. Inasmuch science plays an important role building solution to issues as socio-environmental and public health crises, it is also essential that science education fosters an understanding that makes it possible to evaluate scientific information and distinguish it from pseudoscience. However, to foster this evaluative capacity in the student, science education runs the risk of incurring an excessive valuation of the critical ideal that aims at the student's intellectual independence, often expressed in a skepticism that elects doubt by doubt. In this essay, we problematize some undesirable consequences of this attitude, including the loss of confidence in science. To this end, we propose reflections that: (1) guide science education towards a confidence in science, without losing criticality regarding scientific practice; (2) problematize the justification for a scientific education focused exclusively on the intellectual independence of the student who chooses doubt and skepticism as teaching aims. In this discussion, we emphasize the importance of a “balanced trust” with science, highlighting trust as a complementary element to the exercise of doubt and criticism. Finally, we present some reflections and possible developments of this topic to the context of the classroom and science education