Desenvolvimento motor, cognitivo e linguagem de crianças prematuras acompanhadas pelo ambulatório de neonatologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre : um estudo longitudinal e associativo de fatores de risco biológicos e ambientais

Abstract

Introdução: Apesar dos avanços no manejo da criança nascida pré-termo terem aumentado a sobrevida desta população considerada de risco, esses recém-nascidos apresentam-se vulneráveis a uma ampla gama de deficiências neurológicas, e diversos fatores agindo sequencialmente em seu crescimento e desenvolvimento ao longo do tempo. Objetivos: (1) investigar o desenvolvimento motor, cognitivo e da linguagem em crianças nascidas prematuras e de baixo peso e a prevalência de atraso no seu desenvolvimento dos 4 aos 24 meses de idade corrigida em um ambulatório de seguimento; (2) verificar a associação dos fatores biológicos e ambientais com o desenvolvimento motor, cognitivo e da linguagem de crianças nascidas prematuras e com baixo peso aos 12, 18 e 24 meses de idade corrigida, acompanhadas por ambulatório; (3) comparar o desenvolvimento motor, cognitivo e da linguagem e a prevalência de atraso do desenvolvimento de prematuros extremos, muito prematuros e prematuros moderados/tardios dos 4 aos 24 meses de idade corrigida, acompanhados em ambulatório; (4) verificar as associações dos fatores biológicos e ambientais com o desenvolvimento dos prematuros extremos, muito prematuros e prematuros moderados/tardios dos 4 aos 24 meses de idade corrigida. Métodos: Estudo longitudinal, associativo, observacional e prospectivo. Os dados foram coletados com 186 crianças, as quais foram acompanhadas dos 4 aos 24 meses de idade corrigida, pelo Ambulatório de Neonatologia de um hospital do sul do Brasil, no período de 2016 a 2019. A amostra do estudo foi por exaustão; foram consideradas como potenciais participantes todas as crianças acompanhadas pelo ambulatório dentro do período proposto, ou seja, crianças com idade gestacional menor de 37 semanas e peso menor de 2000g. Foram incluídas no presente estudo todas aquelas crianças que compareceram às consultas médicas nas idades pré-determinadas no período da pesquisa, e cujos pais tenham aceitado participar, com assinatura do termo de consentimento. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do hospital de origem sob número CAAE 13353219.4.0000.5327. Como instrumentos da coleta foram utilizados Bayley Scales of Infant and Toddler Development – 3ª edição (Bayley-III), Daily Activities of Infant Scale (DAIS), e Knowledge of Infant Development Inventory (KIDI). Resultados: os resultados indicaram: a) os escores cognitivos e da linguagem se apresentaram acima de 90,0, enquanto os escores motores abaixo da média ocorreram aos 8 e 12 meses de idade corrigida; b) a maior prevalência de atraso cognitivo foi 31% aos 24 meses, da linguagem foi 50% aos 24 meses, e motor foi 54,3% aos 8 meses; c) o tempo de internação hospitalar e de oxigenoterapia, hemorragia peri-intraventricular, leucomalácia, convulsão, peso ao nascimento, número de consultas no pré-natal, escolaridade dos pais, práticas parentais, conhecimento dos pais e união estável dos pais foram os principais preditores do desenvolvimento motor, cognitivo e da linguagem da amostra em geral aos 12, 18 e 24 meses; d) nos prematuros extremos os escores cognitivos se mostraram abaixo da média aos 8 meses, da linguagem aos 24 meses, e os motores aos 8, 12 e 18 meses; e) nos muito prematuros escores motores abaixo da média foram observados aos 8 meses, e na linguagem aos 4 mese; f) nos prematuros moderados e tardios não houve diferença significativa dos escores cognitivo, motor e da linguagem dos 4 aos 24 meses de idade corrigida. Discussão e Conclusão: Maior prevalência de atraso motor foi percebida aos 8 meses de idade corrigida dos prematuros do estudo, enquanto o atraso cognitivo e da linguagem foi mais prevalente aos 24 meses de vida. Os fatores ambientais ganharam destaque em relação aos biológicos ao predizer o desenvolvimento infantil ao longo dos 12, 18 e 24 meses. Nesse sentido, propostas de estratégias de intervenção com foco na promoção de ambiente de qualidade e de parentalidade positiva devem ser discutidas, uma vez que fatores relacionados às famílias, como escolaridade e práticas parentais, mostraram-se importantes preditores do desenvolvimento infantil de prematuros com baixo peso.

Background: In the last decades, advances in the management of children born preterm have significantly increased the survival of this population. However, these newborns are vulnerable to a wide range of neurological impairments, and several factors may influence their growth and development over time. Aims: (1) To investigate motor, cognitive and language development and the prevalence of developmental delay in children born preterm and low birth weight from 4 to 24 months in a follow-up clinic; (2) To verify the association of biological and environmental factors with the motor, cognitive and language development of children born preterm and low birth weight at 12, 18 and 24 months of age, followed by an outpatient clinic. (3) To compare motor, cognitive and language acquisitions, and the prevalence of developmental delay between extremely preterm, very preterm and moderate/late preterm infants from 4 to 24 months of age, followed up on an outpatient clinic. (4) To verify the associations of biological and environmental factors with development within the subgroups: extreme premature, very premature and moderate/late premature infants; from 4 to 24 months of age. Methods: This was a longitudinal, observational and prospective study. 186 children who were followed from 4 to 24 months of corrected age were assessed. Data were collected from the Neonatology Outpatient Clinic of a hospital in southern Brazil, in the period from 2016 to 2019. The study sample was for exhaust, and potential participants were all children (gestational age less than 37 weeks and birth weight less than 2000 g) followed up by the clinic within this time. This study included all those children who attended medical appointments at predetermined ages, and whose parents agreed to participate and signed the consent form. The study was approved by the Ethics Committee of the hospital under number CAAE 13353219.4.0000.5327. The instruments used for data collection were Bayley Scales of Infant and Toddler Development – 3ª ed (Bayley-III), Daily Activities of Infant Scale (DAIS), e Knowledge of Infant Development Inventory (KIDI). Results: The results indicated: a) cognitive and language mean scores were above 90, while motor mean scores were below average at 8 and 12 months of corrected age; b) the highest prevalence of cognitive delay was 31% at 24 months, of language was 50% at 24 months, and of motor was 54.3% at 8 months; c) length of hospital stay, oxygen therapy, periventricular hemorrhage, periventricular leukomalacia, seizure, birth weight, number of prenatal appointments, parental education, parental practices, parents’ knowledge and parents stable union were the main predictors factors of motor, cognitive and language development in the present sample at 12, 18 and 24 months; d) for extremely preterm children, cognitive mean scores were below average at 8 months, language mean scores were below average at 24 months, and motor mean scores were below average at 8, 12 and 18 months; e) for very preterm infants, motor scores below average were observed at 8 months, and language scores below average at 4 months; f) for moderate/late preterm children, there was no significant difference in cognitive, motor and language scores from 4 to 24 months of corrected age. Discussion and conclusion: The higher prevalence of motor delay was observed at 8 months of corrected age of preterm infants in this study, while cognitive and language delay was more prevalent at 24 months of life. Environmental factors were highlighted in relation to biological factors in predicting child development at 12, 18 and 24 months, that is, they seem to have more influence on child development over time. In this sense, intervention strategies focused on promoting a quality environment and positive parenting should be discussed, since factors related to families, such as parental education and practices, proved to be important predictors of preterm and low birth weight infant's development.