O impacto da pandemia covid-19 em um núcleo de telessaúde : estudo de caso no TelessaúdeRS

Abstract

Introdução: O SARS-CoV-2 é o terceiro coronavírus a causar doença grave em humanos. Ao final do primeiro semestre de 2020, o Brasil aparece como epicentro dessa pandemia, ocupando a nona colocação entre os 10 países com população acima de 100 mil habitantes classificados de acordo com a mortalidade acumulada. Sem vacinas ou tratamentos que apresentem eficácia, as medidas de isolamento e distanciamento social, associadas ao uso de máscaras e intensificação de medidas de higienização de mãos são a única maneira de controlar a sua disseminação. A Telessaúde e a telemedicina despontaram como protagonistas, tanto para o atendimento e monitoramento de casos da doença causa pelo SARS-CoV-2 (a Covid-19) assim como outras doenças agudas e crônicas. Objetivos: Descrever e avaliar o impacto das ações implementadas por um núcleo técnico-científico de Telessaúde para auxílio à Atenção Primária à Saúde no combate à Covid-19. Método: Estudo de prevalência que sumariza as medidas adotadas pelo núcleo de Telessaúde técnico-científico do Rio Grande do Sul - TelessaúdeRS - no período compreendido da 9ª à 27ª semana epidemiológica de 2020 para apoio aos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde a partir da análise dos dados de teleconsultorias que apresentaram como tema a Covid-19, das informações sobre acessos semanais ao hotsite sobre Covid-19 do TelessaúdeRS e, brevemente, os dados sobre as ações de teleconsulta e telemonitoramento. Resultados: Foram realizadas 24.699 teleconsultorias pelo canal 0800. Destas, 7.099 (28,74%) foram relativas à Covid-19. Os profissionais da saúde que solicitaram orientações sobre esse tema apresentavam idade média de 38,18±10,47 anos, aproximadamente 3/4 era do sexo feminino, 62,42% com formação em medicina, alocados em sua maioria (36,81%) na região Sudeste do Brasil e trabalhando na atenção primária à saúde (48,03%). Comparados aos que solicitaram teleconsultorias por outros temas, o percentual de resolução corrigido foi de 92% para questões sobre o Covid-19 e 72% para outras questões. Em relação ao tipo de pergunta realizada pelos profissionais de saúde, a maioria percentual foi relacionada a questões avançadas (testagem diagnóstica, tratamento e afastamento das atividades laborais) divididas principalmente entre profissionais médicos e enfermeiros. No que tange à temporalidade, as questões classificadas como básicas apresentaram maior frequência absoluta de solicitações no início da pandemia até a 13ª semana, enquanto apresentaram aumento relativo de forma progressiva ao longo do período. A demanda do canal 0800 de teleconsultorias do 10 TelessaúdeRS, quando comparados o período compreendido da 9ª a 27ª semanas epidemiológicas de 2019 e 2020, teve um acréscimo de 76,8%, sendo 28,8% dessa demanda a fração atribuível à Covid-19. Podemos ainda observar no mesmo período o aumento no número de acessos ao site do TelessaúdeRS, principalmente após a produção de conteúdo relacionado à Covid-19 (questões sumarizadas, manuais de conduta atualizados e materiais para pacientes). Relativo às ações de teleconsulta e telemonitoramento, de oito de abril de 2020 até 29 de julho de 2020 foram realizadas 5.504 avaliações de pacientes provenientes de diferentes fontes de cuidados à saúde. Discussão: O uso da ação de teleconsultoria do TelessaúdeRS ao longo do período pandêmico de uma nova doença, a Covid-19, demonstra essa ferramenta como um real recurso de apoio à tomada de decisão para profissionais de saúde, podendo apresentar impacto maior ou igual na evitação de encaminhamento para serviços de atenção especializada, bem como urgência e emergências. A organização sistemática das questões provenientes das dúvidas básicas e avançadas provenientes dessas teleconsultorias pode apresentar previsibilidade, bem como a disponibilização aos profissionais de saúde de questões sumarizadas de maior relevância pode ser uma forma de reduzir a demanda por ações de teleconsultorias telefônicas. Contudo, por se tratar de um estudo de prevalências, mais estudo são necessários para avaliar as melhores estratégias e quantificar o impacto de dúvidas avançadas sumarizadas no uso de teleconsultorias telefônicas.

Introduction: SARS-CoV-2 is the third coronavirus to cause severe disease in humans. At the end of the first half of 2020, Brazil appears as the epicentre of this pandemic, ranking the ninth place among the 10 countries with a population above 100 thousand inhabitants classified according to the accumulated mortality. Without vaccines or treatments that are effective, measures of isolation and social distance, associated with use of masks and intensification of hand hygiene measures are the only way to control dissemination. Telehealth and telemedicine emerged as protagonists for caring for and monitoring of COVID-19 cases as well as other acute and chronic diseases. Objectives: To describe and evaluate the impact of the actions implemented by a Telehealth centre to assist Primary Health Care in the battle against COVID-19. Method: Prevalence study that summarizes the measures adopted by the Telehealth Centre in Brazil – TelessaúdeRS – during the period from the 9th to the 27th epidemiological week of 2020 to support the health services of the Unified Health System (SUS). The analysis consisted of the evaluation of the teleconsultions data that presented Covid-19 as subject, the weekly access to TelessaúdeRS COVID-19 hotsite and, briefly, the data on teleconsultation and telemonitoring actions. Results: 24,699 teleconsultations were carried out through the free telephone line. Of these, 7,099 (28.74%) were related to COVID-19. The health professionals who requested orientation on this subject had an average age of 38.18±10.47 years, approximately 3/4 were female, 62.42% had a medical background, mostly allocated (36.81%) in the Southeast region of Brazil and working in primary health care (48.03%). Compared to those who requested teleconsulting for other topics, the adjusted resolution rate was 92% for questions about COVID-19 and 72% for other questions. Regarding the type of question asked by health professionals, the majority percentage was related to foreground questions (diagnostic testing, treatment, and removal) divided mainly between medical professionals and nurses. Regarding temporality, the background questions presented a greater number of requests at the beginning of the pandemic until the 13th week, while they presented a relative increase in a progressive way over the period. The demand for the teleconsulting free line telephone, when comparing the period from the 9th to the 27th epidemiological weeks of 2019 and 2020, increased by 76.8%, 28.8% of which was due to COVID-19. We can also observe in the same period the increase in the number of accesses to the TelessaúdeRS 12 website, mainly after the production of contents related to Covid-19 (summarized questions, updated manuals, and materials for patients). Regarding teleconsultation and telemonitoring actions, from April 8, 2020 to July 29, 2020, 5,504 assessments of patients from different health care sources were carried out. Discussion: The use of our telehealth centre teleconsulting action during the pandemic period of a new disease, COVID-19, demonstrates that this tool is factual resource to support decision-making by health professionals, and may have a greater or equal impact in avoiding referrals to specialized care services, as well as urgencies and emergencies facilities. The systematic organization of issues arising from background and foreground questions arising from these teleconsulting services can be predictable, along with providing health professionals with summarized issues of greater relevance can be a way of reducing the demand for telephone teleconsulting actions. However, as a prevalence study, more studies are needed to evaluate the best strategies and quantify the impact of summarized clinical questions on the use of telephone teleconsulting.