As marcas da carreira diplomática de Monteiro Lobato em sua escritura : vamos perguntar a Mr. Slang
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Data
2020Tipo
Assunto
Resumo
Na produtiva intersecção entre Literatura Comparada e Relações Internacionais, com frequência encontramos escritores-embaixadores que alimentam as literaturas nacionais com textos ficcionais claramente devotados a render suas experiências diplomáticas ao público leitor. Monteiro Lobato foi um escritor, empresário e articulador político bastante controverso. Seu artigo “Paranoia ou mistificação?” (1922) foi o estopim de suas contendas com os modernistas, contendas essas que lhe renderam o rótulo ...
Na produtiva intersecção entre Literatura Comparada e Relações Internacionais, com frequência encontramos escritores-embaixadores que alimentam as literaturas nacionais com textos ficcionais claramente devotados a render suas experiências diplomáticas ao público leitor. Monteiro Lobato foi um escritor, empresário e articulador político bastante controverso. Seu artigo “Paranoia ou mistificação?” (1922) foi o estopim de suas contendas com os modernistas, contendas essas que lhe renderam o rótulo de reacionário, mas o conjunto de sua obra voltada para público adulto evidencia que sua pugna era dedicada a combater justamente o atraso de nosso país em relação a outras nações, novas e velhas, que já possuíam economias impulsionadas na velocidade do ferro e do “ouro negro” — o petróleo que Lobato tanto sonhou ver extraído no Brasil, ideal que lhe custou a liberdade e a saúde. O livro Mister Slang e o Brasil (1927), integrante do conjunto de obras da literatura adulta de Monteiro Lobato, constrói e expõe, em literatura dialogada, as opiniões e posicionamentos político-ideológicos do escritor do Buquira acerca de questões de desenvolvimento do Brasil e sob os impulsos das políticas de internacionalização do governo que o comissionou. Acredita-se que a experiência diplomática de Lobato como adido comercial (1927-1931) do consulado brasileiro na maior metrópole estadunidense, Nova Iorque, ocorrida durante o governo de Washington Luís, deixou marcas significativas nesse e em outros escritos seus, bem como definiu suas escolhas tradutórias e editoriais e o levou a criar uma espécie de rede intertextual com a aparição e reaparição de uma personagem, Mr. Slang, que não coube em um só livro, Mister Slang e o Brasil, e acabou querendo mais, viajando para a China no final daquele relato e reaparecendo de lá em um livro de ensaios e crônicas sobre a vida nos Estados Unidos, América (1931). É a partir do olhar desse estrangeiro que o narrador de Lobato busca compreender a problemática brasileira, com ele dialogando sobre governança, tecnologia e inovação, industrialização, modernização e sobre inúmeras outras temáticas congêneres. A ficcionalização a partir desse diálogo é relativamente congruente com o olhar estrangeiro e estrangeirizante desses mandatários-embaixadores, olhar dirigido pela pretensa isenção de quem vê de fora, de quem toma a distância requerida para ver o todo, para ver com clareza, para avaliar com imparcialidade, mas nunca totalmente desprovida de interesse, de apego (Almeida, 2016). Este estudo pretende, portanto, percorrer parte da literatura adulta de Lobato, procurando identificar possíveis encontros entre seu Mr. Slang com sua própria voz de experiência e carreira diplomáticas. ...
Abstract
Ambassador writers, who are believed to feed the national literatures they belong to with fiction clearly devoted to render their diplomatic experiences, are frequently found in the productive intersection line between Comparative Literature and International Affairs. Monteiro Lobato became known as a very productive and highly controversial writer, enterpreneur and socio-political influencer. His famous essay “Paranoia ou mistificação?” (1922) triggered a major contend with his contemporary mo ...
Ambassador writers, who are believed to feed the national literatures they belong to with fiction clearly devoted to render their diplomatic experiences, are frequently found in the productive intersection line between Comparative Literature and International Affairs. Monteiro Lobato became known as a very productive and highly controversial writer, enterpreneur and socio-political influencer. His famous essay “Paranoia ou mistificação?” (1922) triggered a major contend with his contemporary modernist counterparts, a dispute which labeled him ‘reactionary’, despite the many indications in his oeuvre of a political agenda genuinely devoted to promote the Brazilian progress in relation to other nations — old and new — which had already had their economies propelled by iron and oil industries — the same oil whose extraction Lobato defended at the cost of his health and freedom. The book Mister Slang e o Brasil (1927), which is part of Monteiro Lobato’s adult oeuvre, builds and exposes, in fictional dialogue and under the impulses of the international affairs policies kept by the government which commissioned him, the opinions and the political-ideological beliefs of the Buquira writer on matters as complex as the progress and the sovereignty of Brazil. We believe that Lobato’s diplomatic experience as a commercial attache (1927-1931) for the General Consulate of Brazil in New York City, which took place during Washington Luís’ presidency, significantly influenced his writings, contributed to his title selection for translation and editorial projects and led him to create an intertextual net with the double apparition of a character in two of his books, Mr. Slang — to whom it was not enough to be the central character in Mister Slang e o Brasil, traveling to China in the end of that book, and surprisingly returning in a book of opinion essays about the American life entitled América (1931). It is through the amplified lenses of this foreigner — an experienced and traveled British citizen — that Lobato’s narrator tries to understand the core reasons for the problems of Brazil, asking him about governance, technology and innovation, industrialization, modernization and the like. The fictional direction of such dialogue is relatively congruent to the foreign perception of ambassadors and other mandataries involved in international affairs — the presupposed unbiased view of the external agent, of the observer who took a distance from the problem to see the whole in perspective, to see more clearly, to assess with impartiality, a perspective which is everything but uninterested, unattached (Almeida, 2016). This investigation aims at learning more about Lobato’s adult oeuvre in search for material intersections between Mr. Slang’s fictional voice and Lobato’s own voice, believed to be marked by his diplomatic ambitions and experiences. ...
Contido em
Poéticas e Internacionalização. Porto Alegre: Class, 2020. p. 7-17
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