Influência de fatores perinatais na obesidade de crianças e adolescentes de Porto Alegre : um linkage entre SINASC e SISVAN

Abstract

Introdução: A obesidade infantil vem crescendo mundialmente de forma acentuada, em idades cada vez mais precoces. Evidências recentes estimam que em 2022 ela ultrapasse a desnutrição em nível mundial. Vários estudos têm apontado fatores perinatais, entre os quais peso ao nascer e tipo de parto, como determinantes no desenvolvimento de obesidade no futuro. Objetivo: Avaliar a associação de fatores perinatais no desenvolvimento de obesidade em crianças e adolescentes de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Porto Alegre/RS. Métodos: Coorte retrospectiva, na qual, primeiramente, foram selecionadas todas as crianças e adolescentes cadastrados no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) pela UBS Santa Cecília, entre 2008 e 2016, que apresentavam informações de peso e estatura. Posteriormente, foi realizado linkage com o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), por intermédio do nome da mãe, data de nascimento e sexo da criança, de todas essas crianças e adolescentes, nascidas entre 2000 e 2014 em Porto Alegre, obtendo-se informação sobre as condições de pré-natal e perinatais. O desfecho principal do estudo foi a obesidade infantil, sendo considerado em menores de cinco anos valores de escore z superiores a +3,00 desviospadrão, e para maiores de cinco anos, superiores a +2,00 desvios-padrão. Do SINASC, foram extraídas as covariáveis maternas como idade, escolaridade, situação conjugal; pré-natais, como paridade e número de consultas de pré-natal; perinatais, como tipo de parto e peso ao nascer; enquanto sexo, idade, inserção no Programa Bolsa Família e número de avaliações antropométricas foram extraídas do SISVAN. Para analisar associação entre as covariáveis e o desfecho do estudo, foi utilizado Teste Qui-quadrado de Pearson, Exato de Fisher ou Correção de Continuidade, considerando um nível de significância de 5% (p<0,05) e um intervalo de confiança de 95%. As associações que apresentaram significância na análise bruta foram testadas por meio de regressão de Poisson. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Resultados: Foram incluídos 537 crianças e adolescentes entre zero a 15 anos cadastrados no SISVAN e no SINASC. A mediana para idade das crianças foi de oito anos (2-11). A prevalência de obesidade foi de 15,1% (n=81). No modelo ajustado por regressão de Poisson encontrou-se maior risco de obesidade em meninas, crianças com idade superior a cinco anos, nascidas por parto cesáreo e filhos de mães primíparas. O maior número de avaliações antropométricas cadastradas no SISVAN e a presença do benefício do Programa Bolsa Família se mostraram como fatores protetores para obesidade infantil na análise inicial, mas esse efeito não se manteve após regressão de Poisson. Conclusão: Nascimento por parto cesáreo, recém-nascidos do sexo feminino, filhos de mães primíparas e crianças maiores de cinco anos de idade apresentaram maior risco de obesidade na infância e na adolescência.

Introduction: Childhood obesity has been growing steadily, at an earlier age. Recent evidences estimate that by 2022 it will overcome malnutrition. Several studies have pointed out to factors such as, birth weight and type of delivery, as determinants in the development of obesity in the future. Objective: To evaluate the influence of perinatal factors in the development of obesity in children and adolescents of a basic health unit in Porto Alegre/RS. Methods: Retrospective cohort study. First, all children and adolescents enrolled in the Food and Nutrition Surveillance System (SISVAN) in Santa Cecília Basic Health Unit between 2008 and 2016, whose information of weight and height, were identified. Later, a link was built with the Information System on Live Births (SINASC), using the mother's name, birth data and the child's gender, of all these children and adolescents born between 2000 and 2014 in Porto Alegre to obtain the information about prenatal and perinatal aspects. The main outcome of the study was childhood obesity, which was classified as follows: < 5 years – Z-score > +3.00 standard deviations; >5 years – Z-score > +2.00 standard deviations. From SINASC, maternal covariates such as age, schooling, and marital status were extracted; prenatal aspects such as parity and number of prenatal visits; perinatal conditions, such as type of delivery and birth weight were extracted. Sex, age, insertion in the Bolsa Família Program and number of anthropometric evaluations were extracted from SISVAN. Pearson's Chi-square, Fisher's exact or Continuity Correction were used for a significance level of 5% (p <0.05) and a 95% confidence interval. Significant associations in crude analysis were tested with Poisson regression. The project was approved by the Research Ethics Committee of Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Results: 537 children and adolescents between zero and 15 years of age enrolled in SISVAN and SINASC were included. The median age of the children was eight years (2-11). The prevalence of obesity was 15.1% (n = 81). In the Poisson regression model, a higher risk of obesity was observed in girls, children older than five years, born by cesarean delivery and children of primiparous mothers. The greater number of anthropometric evaluations registered in the SISVAN and the presence of the benefit of the Bolsa Família Program were shown as protective factors for childhood obesity in the initial analysis, but this effect was not maintained after Poisson regression. Conclusions: Birth by cesarean delivery, female newborns, children of primiparous mothers and children over five years of age presented a higher risk of obesity in childhood and adolescence.