A intersubjetividade e a clínica dos distúrbios de linguagem : um caso de gagueira

Abstract

Introdução: O presente trabalho se caracteriza por ser uma reflexão teórica e clínica com vistas a subsidiar o trabalho fonoaudiológico na Clínica dos Distúrbios de Linguagem. Nele, a relação terapeuta-paciente é deflagradora das questões clínicas que são abordadas. Dentre essas questões, uma é central: a importância da análise linguística para a clínica. O ponto de partida para as reflexões sobre a clínica se deu a partir do atendimento de um caso com diagnóstico de gagueira. Nessa direção, do ponto de vista teórico, foi necessário um estudo que contemple uma discussão em torno da Clínica dos Distúrbios de Linguagem, da gagueira enquanto um distúrbio de linguagem, e do entendimento do processo de intersubjetividade instaurado entre interlocutores na clínica. Objetivos: O objetivo principal do trabalho é evidenciar as implicações de uma análise do processo de intersubjetividade para a Clínica dos Distúrbios de Linguagem. Associando-se a esse objetivo principal, outros dois, mais específicos, foram construídos: mostrar como a discussão em torno de um caso de gagueira pode contribuir para a reflexão de aspectos da Clínica dos Distúrbios de Linguagem; refletir sobre o lugar do terapeuta frente às dificuldades impostas pelo atendimento clínico de pacientes com sintoma de linguagem. Metodologia: Os dados da presente pesquisa são representados pela transcrição linguística, de base enunciativa, de uma cena clínica de atendimento fonoaudiológico, cujo sujeito em tratamento apresenta o diagnóstico de gagueira. Também se constitui como dado o relato de caso apresentado. A partir do referencial teórico mobilizado, a categoria de análise eleita foi o princípio de intersubjetividade, que foi operacionalizada por meio da análise do diálogo transcrito. Conclusões: A análise do processo de intersubjetividade tem implicações importantes para a clínica: poder perceber a importância de escutar o paciente, e sustentar uma posição no diálogo mesmo quando é difícil para ele dizer algo; entender que um sintoma de linguagem não pode ser dissociado do sujeito em tratamento, ou seja, que a subjetividade está na linguagem; reconhecer que considerar a fala do paciente somente do ponto de vista articulatório é um reducionismo, pois deixa de fora os aspectos singulares que envolvem o tratamento. Essas são algumas das implicações que, em última instância, mostram que é fundamental o fonoaudiólogo refletir sobre a sua prática clínica.

Introduction: The present work is characterized by a theoretical and clinical reflection aimed at subsidizing the speech therapy intervention in the clinic dealing with language disorders. The therapist-patient relationship triggered the clinical questions that are addressed here. Among these questions, one is central: the importance of the linguistic analysis for the clinic. The reflections on the clinic originated from the care of a case with a diagnosis of stuttering. So, from a theoretical point of view, it was necessary a study that contemplated a discussion around the clinic dealing with language disorders, stuttering as a language disorder, and the understanding of the intersubjectivity process established between interlocutors in the clinic. Objectives: The main objective of this study is to highlight the implications of an analysis of the intersubjectivity process for the clinic dealing with language disorders. Associated with this main objective, two, more specific ones, were established: to show how the discussion about a case of stuttering can contribute to the reflection on aspects related to theclinic dealing with language disorders; to reflect on the therapist place in face of the difficulties imposed by the therapy of patients with a language symptom. Methodology: The data of the present study are represented by the linguistic transcription, with an enunciative basis, of a speech therapy clinical scene, whose subject under treatment presents the diagnosis of stuttering The case report presented is also constituted as a datum. Considering the researched literature as a starting point, the chosen category of analysis was the principle of intersubjectivity, which was operationalized through the analysis of the presented dialogue. Conclusions: The analysis of the intersubjectivity process has important implications for the clinic: to be able to perceive the importance of listening to the patient, and to sustain a position in the dialogue even when it is difficult for him to say something; to understand that a language symptom can not be dissociated from the subject being treated, meaning that the subjectivity is in the language; to recognize that considering the patient's speech only from the articulatory point of view is a reductionism, since it leaves out the singular aspects that involve the treatment. These are some of the implications that ultimately show that it is critical for the speech therapist to reflect on their clinical practice.