Radares da violência : infraestruturas digitais de uma política pública

Abstract

As transformações na área da Segurança Pública que o Brasil experimentou ao longo da década de 2000, com políticas como o Plano Nacional de Segurança Pública e o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), buscaram, entre vários outros objetivos, redistribuir as obrigações entre União, Estado e Município no enfrentamento à violência. Neste sentido, diversos municípios receberam incentivo para desenvolver iniciativas locais na área de Segurança Pública. Este projeto se insere na área das Ciências Humanas e busca conjugar Antropologia e Políticas Públicas a partir de uma pesquisa etnográfica em um laboratório de análise criminal do município de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre no Rio Grande do Sul. Trata-se de uma etnografia das práticas que conformam e materializam a Política Municipal de Segurança Pública no município de Canoas. Esta política tem como centro o Observatório de Segurança Pública de Canoas (OSPC), laboratório de análise social que, desde 2009, é mantido pela Secretaria Municipal de Segurança Pública e Cidadania de Canoas (SMSPC). Observando e acompanhando as práticas cotidianas do laboratório, pude identificar relações e controvérsias que escapam as usuais representações desta política pública. Neste sentido, chamo atenção para o papel central que a tecnologia tem sobre o trabalho dos técnicos e gestores públicos. A partir da descrição destas rotinas me atendo para a dimensão de uma infraestrutura digital que permeia todas as etapas da construção de indicadores criminais e conforma por si, a própria política de segurança municipal. Desta forma práticas locais são reorganizadas por infraestruturas globais e tem seus arranjos alterados. Por fim, sugiro que a Antropologia pode fornecer abordagens mais humanizadas aos estudos em Políticas Públicas.

Since 2000, public security policies has changed in Brazil. Some of that, as the Plano Nacional de Segurança Pública and the Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI), sought to redistribute the obligations between the Federal Government, States and Municipalities in facing violence. In this sense, several municipalities have been encouraged to develop local initiatives in Public Security issues. This research of Human Sciences and seeks to conjugate Anthropology and Public Policies from an ethnographic research in a laboratory of criminal analysis of the municipality of Canoas, in the Metropolitan Region of Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Particularly, this is an ethnography of the practices that conform and materialize the Municipal Public Security Policy in Canoas. The policy in question is centered on the Observatório de Segurança Pública de Canoas (OSPC), a social analysis laboratory that, since 2009, has maintained by the Municipal Secretariat of Public Safety and Citizenship of Canoas (SMSPC). It observing and following the daily practices of the laboratory, I was able to identify relations and controversies that escape the usual representations of this public policy. In this sense, I call to attention to the central role that technology has over the work of technicians and public managers. From the description of these routines I take into account the dimension of a digital infrastructure that permeates all stages of the construction of criminal indicators and conforms by itself, the municipal security policy itself. In this way local practices are reorganized by global infrastructures and have their arrangements changed. Finally, I suggest that Anthropology can provide more humanized approaches to studies in Public Policy.