Análise da condução nervosa periférica, função autonômica cardíaca e da morfologia retiniana em pacientes com diferentes graus de tolerância à glicose : estudo transversal

Abstract

O diabetes inclui um grupo de distúrbios metabólicos caracterizados por hiperglicemia, resultante de defeitos na secreção de insulina e / ou na sua ação, ou ambos. Levando em consideração a alta prevalência de diabetes em adultos e a elevada prevalência de complicações micro e macrovasculares nesta população, se faz necessário o estudo de novas estratégias para a identificação precoce dessas complicações. Em um estudo transversal realizado no ambulatório de Pré-diabetes e Síndrome Metabólica do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre foram analisados marcadores precoces de retinopatia, nefropatia e neuropatia, com o objetivo de comparar achados iniciais de complicações microvasculares em indivíduos com diferentes graus de tolerância à glicose. Sessenta e quatro sujeitos foram submetidos a um protocolo padrão (vide Figura 1) incluindo avaliação antropométrica, bioquímica contemplando dosagem de glicemia em jejum, 2-h após sobrecarga, hemoglobina glicada, vitamina B12, colesterol HDL, triglicerídeos, albumina urinária em amostra randômica e filtração glomerular estimada pela equação CKD-epi. A avaliação oftalmoscópica de ambos os parâmetros dos olhos por fundoscopia e tomografia de coerência óptica (OCT) de domínio espectral. A neuropatia sensitiva periférica foi avaliada através do questionário de Michigan, limiares vibratórios por diapasão, sensibilidade pelo monofilamento de Semmes-Weinstein 10g, a neuropatia de fibras finas pelo teste sensitivo quantitativo (TSQ) e a neuropatia autonômica cardíaca pelos testes autonômicos de Ewing e análise espectral da variabilidade da frequência cardíaca (VFC). A idade, pressão arterial sistólica diurna, noturna e triglicerídeos foram diferentes entre os grupos. A espessura da coróide no olho direito diminuiu com a piora do grau de tolerância à glicose dos indivíduos. (NGT 331.9 ± 98.8 μm vs. PDM 273.0 ± 83.1 μm vs. DM 217.9 ± 76.7 μm; p<0.001) o mesmo comportamento foi visto no olho esquerdo (NGT 356.3 ± 87.1 μm vs. PDM 258.5 ± 86.1 μm vs. DM 229.6 ± 79.8 μm; p=0.001). A microalbuminúria de amostra aumentou com a piora do grau de tolerância à glicose. [NGT 5.0 (3.0 – 13.6) vs. PDM 4.0 (3.0 – 13.6) vs. DM 17.0 (6.4 – 57.0); p=0.033]. A sensibilidade dos pés ao monofilamento 10g Semmes-Weinstein diminuiu com a piora do grau de tolerância à glicose. [NGT 6.9 ± 0.4 vs. PDM 6.3 ± 0.9 vs. DM 6.1 ± 0.8; p=0.008]. Não houve diferença entre os grupos quando avaliados os parâmetros de escore de Michigan, sensibilidade vibratória, e limiares de calor e dor, além da presença de neuropatia autonômica cardíaca de acordo com os critérios de Ewing. Quando realizada a análise espectral pelo domínio do tempo, a raíz quadrada dos intervalos R-R (RMSSD) apresentou-se reduzida com a piora do grau de tolerância à glicose dos indivíduos. A frequência cardíaca e pressão de pulso, avaliadas através da monitorização da pressão arterial de 24 horas pela MAPA, apresentaram uma tendência de aumento com a piora da tolerância à glicose dos indivíduos.

Diabetes includes a group of metabolic disorders characterized by hyperglycemia, resulting from defects in insulin secretion and / or its action or both. Taking into account the high prevalence of diabetes in adults and the association of micro and macrovascular complications in this population, in addition to the appearance of new techniques allowing greater sensitivity in the diagnosis of complications, allowing the development of strategies that enable the prevention of the development of diabetes and its chronic complications. In a cross sectional design study, aiming to compare earlier findings of microvascular complications in subjects with differ degrees of glucose tolerance, 64 subjects underwent a standard protocol comprising anthropometric, biochemical assessment of fasting glycaemia, 2h- glycaemia, glycated hemoglobin, B12 vitamin, HDL-cholesterol, triglycerides, sample albumin and glomerular filtration by CKD-epi. Assessment of fundoscopy and optical coherence tomography (OCT) on both eyes, were made. Autonomic, peripheral, and small fiber neuropathy were assessed by Ewing tests and spectral analysis of the heart rate variability (HRV). Michigan questionnaire, quantitative sensitive test (QST). Vibratory thresholds and foot sensitivity assessed by tuning fork, and Semmes-Weinstein 10g monofilament respectively. Age, daytime, nocturnal systolic blood pressure, and triglycerides were different between groups. Choroidal thickness decreased with decreasing glucose tolerance in the right eye (NGT 331.9 ± 98.8 μm vs. PDM 273.0 ± 83.1 μm vs. DM 217.9 ± 76.7 μm; p <0.001) and left eye (NGT 356, 3 ± 87.1 μm vs. PDM 258.5 ± 86.1 μm vs. DM 229.6 ± 79.8 μm, p = 0.001). Sample microalbuminuria increased with decreased glucose tolerance. [NGT 5.0 (3.0 - 13.6) vs. PDM 4.0 (3.0 - 13.6) vs. DM 17.0 (6.4 - 57.0); P = 0.033]. The foot sensitivity to the Semmes-Weinstein 10g monofilament test decreased with decreasing glucose tolerance (NGT 6.9 ± 0.4 vs. PDM 6.3 ± 0.9 Vs. DM 6.1 ± 0.8; P = 0.008). No differences were found in the Michigan detection parameter, vibration sensitivity, heat and pain thresholds, and autonomic cardiopathy parameters. Although, the mean square root between the R-R intervals (RMSSD), decreased with decreasing glucose tolerance (NGT 911.8 ± 167.0 vs. PDM 875.5 ± 137.9 vs. DM 783.9 ± 113.0; P = 0.005). Heart rate and herat frequency, both assessed by 24-h ambulatory blood pressure monitoring were higher with decreasing glucose tolerance.