Aspectos nutricionais na etiologia e tratamento da insuficiência cardíaca

Abstract

Introdução: A insuficiência cardíaca (IC) é uma complexa síndrome ou estado clínico, que resulta na incapacidade do coração de bombear o sangue em uma taxa proporcional às necessidades dos tecidos metabolizantes, ou é capaz disso, apenas em uma pressão de enchimento elevada. A influência dos fatores dietéticos na prevenção e no prognóstico é amplamente reconhecida. Diretrizes são bem estabelecidas para indivíduos em risco, para os quais recomendações ligadas à hipertensão, hiperlipidemia e obesidade estão disponíveis. Já na doença estabelecida as informações relativas ao consumo adequado de nutrientes são mais escassas. Objetivo: Considerando estas informações a presente revisão objetivou descrever os principais aspectos relativos à influência de fatores nutricionais na etiologia, prevenção e tratamento da IC. Resultados: Os principais resultados remetem à necessidade de um consenso quanto à recomendação calórica para pacientes com IC, principalmente naqueles que extrapolam os níveis superiores de IMC; recomendação de quota protéica adequada à idade e, possivelmente, um pouco superiores, sendo a suplementação de aminoácidos específicos ainda inconclusiva; recomendações de lipídeos e carboidratos de acordo com as diretrizes para as comorbidades como dislipidemias, aterosclerose, hipertensão e DM; suplementação de ácidos graxos ômega-3 tem mostrado pequena melhora nos aspectos ligados a reinternações e mortalidade; relativamente ao sódio e líquidos, as recomendações apóiam-se basicamente na prática clínica, embora seja consenso que o excesso de sódio pode exacerbar os sintomas da IC; há indicativo de benefícios da suplementação de ferro, magnésio, cálcio, vitamina D e vitamina C e falta de indícios dos benefícios da vitamina E; há indicativos de benefício indiretos da Vit. B12 e ácido fólico; necessidade de estudos para avaliar recomendações de zinco e cobre; descrição de efeitos benéficos da tiamina, riboflavina, piridoxina, carnitina, coenzima Q10, creatina e taurina, embora também haja carência de maiores estudos;é descrita associação inversa entre o consumo de peixe grelhado e consumo de cereais integrais e a IC; o consumo de ovos em quantidade maior ou igual a 1 por dia está diretamente associado com a IC, embora o consumo menos freqüente não esteja; há descrição de associação inversa entre o consumo de nozes e as comorbidades; os relatados efeitos cardioprotetores do cacau e do chocolate são baseados em estudos não controlados e de curto prazo; é sugerido que a dieta do Mediterrâneo e outras com níveis mais baixos de gorduras saturadas e trans possam diminuir a inflamação na IC; recomendações de diretrizes indicam consumo de álcool moderado para indivíduos com IC, limitando-se a 1 ou 2 copos por dia, preferencialmente junto às refeições. Considerações finais: As evidências consideráveis de que pacientes com insuficiência cardíaca congestiva tenham necessidades nutricionais únicas e específicas, remete à inequívoca importância da nutrição como medida não farmacológica na prevenção e tratamento da IC. Apesar dos progressos feitos, aspectos relacionados à ingestão e metabolismo de nutrientes, assim como relacionados ao estado nutricional no quadro da complexa enfermidade, requerem ainda maiores investigações para elucidação do papel da nutrição, especialmente nos estágios mais avançados da IC.